A Estrela da Manhã
e as estrelas vacilam. Um mormaço de alento
sobe reto das orlas, do leito do mar,
abrandando o espírito. Esta é a hora em que nada
acontece. O cachimbo entre os dentes também
cai sem brilho. Noturno é o som do marulho.
O homem só já acendeu uma fogueira de galhos
e a observa dourar o terreno. Até o mar
daqui a pouco estará com o fogo, candente.
Não tem coisa mais acre que a aurora de um dia
em que nada haverá. Não tem coisa mais acre
do que a inutilidade. Cansada no céu
pende a estrela azulada, colhida na aurora.
Olha o mar inda escuro e a mancha de fogo
onde o homem, que não faz mais nada, se aquece;
olha e cai de seu sono entre as foscas montanhas
onde há um leito de neve. O arrastado das horas
é inclemente com quem já não espera mais nada.
Vale a pena que o sol se levante do mar
e essa longa jornada comece? Amanhã
voltará a morna aurora e seu brilho diáfano
e será que nem ontem e mais nada haverá.
O homem só gostaria de apenas dormir.
Quando a última estrela se apaga no céu,
o homem lento prepara o cachimbo e acende.
Cesare Pavese
9-12 de janeiro de 1936
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Pensamentos aleatórios, quase aforismos:
Um poema sobre a monotonia morna dos dias que se seguem, em deprimida repetição e um combate (será?) à rotina massacrante e tediosa de quem não enxerga mais utilidade em si mesmo. Será que precisamos ser úteis? Úteis a quem e por quê? A vida não deveria ter utilidade, ela se basta. Se eu tiver que ser útil, que eu seja útil a mim mesma. Como diz o título do livro, trabalhar cansa. Só cansa porque o trabalho é embutido como norma, não como opção, fazendo com que seja necessário que cada um tenha e demonstre sua utilidade social.
Pois bem, nasci para ser agitador; essa é a minha utilidade. Desde pequena, mexo colher na tigela de fazer bolo, reviro sucata para fazer bonecas e, ocasionalmente, viro as palavras do avesso para encontrar seu sentido. Essas coisas faço por mim, o resto me é alheio e normativo.
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