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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Buzina, que eu gosto!

O trânsito pode ser um novo âmbito de socialização, ainda mais quando gerado pela ineficiência da polícia cívil e do esquadrão anti-bombas em perceber as diferenças entre uma granada real e um vidro de perfume, provavelmente de segunda linha, ou pelos manobristas que demoram séculos para conseguir devolver os carros aos seus donos.

Todo mundo já ouviu alguma história de alguém que namorou um vizinho de carro ou trocou número de telefone. Talvez o homem tenha tentado trocar uma palavra e a mulher do carro do lado tenha fechado o vidro bruscamente, se sentindo ofendida. Quem sabe quantas buzinadas a coitada não ouviu depois, porque ele se sentiu com o ego ferido.

Não atesto a veracidade dos fatos, mas foi-me relatada a seguinte história: chaveco de farol, homem tenta fazer gracinha com mulher imitando propaganda e, como  também não tinha tempo para dar seu número de telefone, simplesmente arremessa o aparelho para dentro do carro dela pela janela. Ironia do destino ou não, ela acelera e vai embora, mantendo o presente dado pelo estranho mais mão aberta que ela encontraria na vida. Afinal, quem tinha falado que ela queria manter contato? Nem buzina ela teve que ouvir. E ele deve ter se perguntado: por que a realidade não é igual à propaganda?

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sing Along Songs!

Tem aqueles dias que a gente canta, ou nem precisa exatamente cantar porque as pessoas percebem que está tudo indo muito bem: pele sedosa, cabelo aprumado, roupa perfeitamente de acordo e, bom, até os semáforos vão se abrindo. Tão bom estar assim ou ter alguém tão de bem com a vida por perto. 



Se for uma amiga, entre no ritmo e sing along! O banheiro feminino mais próximo ou o café do fim de tarde, espremido entre o fim do trabalho e o happy hour, são os melhores momentos para troca de experiências. Tem vezes que não dá: mensagem de texto, e-mail, msn. ASAP! Afinal, todo mundo precisa saber a receita do sucesso.

Quanto às confidências entre os homens, me falta conhecimento de causa. Mas, imagino eu que seja um bar qualquer com cerveja, aperitivos decentes e televisão para os jogos de futebol. No mínimo.    

Tarzan!

Porque de vez em quando, tudo que a gente precisa é um grito primal libertário.



Altamente recomendado em vésperas de vestibular e dias de trânsito caótico na cidade de São Paulo. Depois é só relaxar e pedir logo um cosmopolitan, um whisky ou uma caipirinha para o garçom mais próximo, com as melhores companhias.

Valeu

Algumas pessoas estão me escrevendo (e para minha mãe também) para comentar coisas do blog. Resolvi tirar um espacinho para agradecer a atenção e o carinho de vocês: obrigada, gente! 

Elogios e críticas foram muito bem aceitos, e continuarão sempre sendo.

Já que alguém tocou no assunto, obrigada também por me alimentarem com as suas histórias. Cada um se reconhece e relembra de histórias alheias nos textos, e é para isso mesmo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Em Busca do Estágio Nada Perfeito

Tem algumas suposições que não podem ser feitas e de vez em quando elas simplesmente acontecem, nos piores momentos possíveis. Certa tarde ensolarada, em busca do estágio nada perfeito, mas necessário para a formação profissional de qualquer pessoa, a jornalista que vos fala estava sentada à mesa com mais quatro estudantes candidatos à escraviários de uma empresa imobiliária. Para quem tem problemas com verborragia e fala a primeira palavra que surge, entrevista de emprego é o fim.

Lá pelas tantas, surge a tal da questão: Que filme você é? Que palavra te define? Ou qualquer coisa que o valha. O arrogante do meu lado pegou animal e disse que era um falcão, eu quase segurei meus olhos. A outra disse que a palavra que a definia era esperança, eu achei até que adequado, mas um pouco ingênuo. Eu peguei fruta. E eu tinha acabado de falar que eu tinha morado em NY, Big Apple, sabe? Big City Girl e todas essas baboseiras passaram voando pela minha cabeça. Escapoliu: maçã! E, bom, quer fruta mais comum que maçã? Ou mais pervertida, se você é católico? Do pecado!

Tem mais, porque eu ainda tive que explicar a escolha. E eu inventei uma história linda: A maçã é uma fruta comum, mas ela tem um quê especial porque todo mundo gosta. E tem aquela casca vermelhinha, eu sou aquela maçã que fica no topo da pilha, com casca brilhando. Bocuda Mór!Melhor mesmo era ter falado que eu tive um derrame e perdi a memória de todas as frutas. Ou então que eu era um limão, azeda, mas com um pouco de cachaça ou vodka, eu virava uma caipirinha da boa.

Ainda bem que era um estágio nada perfeito e a pateticidade da situação diverte até hoje.

A Entrevista é uma Arena

Assisti ontem o filme Frost/Nixon. O jogo de tensões entre o jornalista David Frost e o ex-presidente Richard Nixon, na entrevista pós-Watergate e desistência, na falta de um sinônimo melhor no momento, do cargo. Era interessante ver como para o jornalista e apresentador a vivência social era fluída e natural e para o político manter seu posicionamento era algo sofrido, armado, estratégico, como uma máscara em prol de um papel social escolhido para ser vivido.

Inseguranças e baixas auto-estimas colocadas de lado, a comunicação entre eles era uma batalha de gigantes mediada pela linguagem e pelo conhecimento. Na arena que é o discurso e a entrevista política, vale tudo, desde que aquilo que te prejudica seja dito em off. Em se tratando de uma queda de braços, vence aquele que melhor tocar no ponto fraco do oponente-interlocutor. Embora fosse natural para Frost, Nixon conseguiu dominá-lo facilmente. Nada melhor do que informação, domínio da linguagem, segurança e um pouco de instinto inquisidor para inibir o outro. E 2 horas fizeram toda a diferença.

Demorou cerca de 28 horas de entrevista para Frost reconquistar as rédeas de si mesmo e da comunicação para conquistar o ponto alto da sua carreira: 2 horas sobre Watergate. E depois de 28 horas de insuficiências, jornalismo mal manejado e discursos de auto-promoção adorados pelos assessores de Nixon, veio a inesperada confissão, conseguida com a ajuda de colegas de trabalho e suas fontes de informação e pesquisa, além de um posicionamento mais duro da parte de Frost.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Desbunde ou Silêncio

Estava lendo a revista da Folha de São Paulo quando vi uma matéria sobre a exposição “Cuide de Você”, de Sophie Calle. Uma proposta no mínimo interessante, mas que tem êxito, e o texto mostra bem isso, exatamente porque toca as pessoas, principalmente as mulheres, naquele ponto emocional latente universal. É quase uma conclamação de que a união faz a força e que as experiências, com as suas sutis diferenças, são na verdade a mesma: a frustração amorosa, o discurso masculino de separação e o que se faz disso. Uma carta de rompimento gerou outras 107 cartas, da exposição, e mais tantas outras manifestações no blog. São múltiplos discursos e interpretações sobre uma carta. Conselhos e confortos oferecidos por estranhos. É uma catarse pública. Uma reação certamente inusitada para um simples rompimento entre duas pessoas.

À parte do afã e do circo de emoções provocado pela exposição, o que está posto ali é, em primeiro lugar, a reação inesperada de uma mulher: transformar em arte ou em uma manifestação artística uma experiência pessoal. Além disso, dar voz primeiramente àquelas outras 107 estranhas (depois de lidas as cartas, imagina-se que sejam íntimas já) para as suas interpretações, já que cada uma delas poderia ajudá-la a resolver uma peça do grande quebra-cabeça do fim.

Enfim, será que essa marketização pessoal dos sentimentos leva mesmo a algum lugar ou seria isso somente mais uma quebra de barreiras entre o público e o privado? Estariam surgindo novas formas de socialização e solidariedade entre as pessoas, já que as visitantes trocam experiências e produzem novos relatos? Será que existe comunicação real quando se escreve e quando se conversa com um estranho sobre uma experiência pessoal ou é tudo um happening, uma ilusão passageira motivada somente pela exposição?

E, bom, para quem leu a reportagem da revista, ficou claro que os monitores da exposição estão cansados de ouvir algumas pessoas irem chorar as pitangas nos seus pobres ombros. Separar a função de conselheiro emocional/ ombro amigo da de informador sobre o processo artístico de composição da obra deve acabar sendo problema delicado.

Há espaço para tudo e, convenhamos, não é porque a artista rompe as suas barreiras que todos têm que seguir seu exemplo. Essa é uma grande verdade e na maioria das vezes as pessoas parecem saber lidar com esses diferenciais de local, pessoas, oportunidade. Mas, será que quando o nó trava no sentimento, de verdade, não existem restrições ou dispositivos que impeçam certas pessoas de cometer a verborragia? Para alguns, talvez o sentimento seja o silêncio profundo. Para outros, o desbunde transbordantemente alucinante. E, de qualquer forma, quando a arte toca e desperta qualquer reação emocional e a própria pessoa não controla a língua, o que fazer, quando era essa a reação esperada? Esperar passar. Haja ouvido, kleenex e paciência.

O Fora Clássico do Piadista Ordinário

Um post mais leve, de vez em quando, faz bem. Mantém o canal de comunicação com o público aberto. Acho digno.

Contar uma piada normalmente exige muito mais capacidades do que se imagina: examinar a situação, os envolvidos, o contexto histórico. Tentar lembrar da piada inteira e interpretá-la da melhor maneira possível, impecavelmente. Não ser acanhado ou gaguejar. Engatar a primeira e seguir em frente se perceber que um desses quesitos não bate com o ideal.

Normalmente, quando chega no ponto de engatar a primeira, é porque realmente o piadista percebeu que vai fazer da jaca seu sleeping, não mais sua pantufa. As faces de sorriso amarelo, misturadas às de vergonha alheia, vão surgindo como milhos virando pipoca. E, bom, o bocudo falou mais do que devia. Paciência, é a vida, ninguém morre pela língua, senão, talvez, o guloso exemplar.

Reflexões sobre a Comunicação

É uma questão filosófica, que remonta à Grécia Antiga e se estende na história, se aquilo que dizemos consegue ser interpretado da maneira como pretendemos que seja. Alguns dizem que o significado de qualquer mensagem é atribuído por quem a produz e, portanto, a interpretação feita por quem a lê, escuta ou assiste será sempre a mesma. Para outros, o significado está na forma como cada pessoa, ao receber essa mensagem, interpreta as palavras e imagens de acordo com a sua experiência, conhecimento de mundo, sua subjetividade.

A verdade é que, por mais conscientes que sejamos da linguagem e dos usos que fazemos dela, a reação advinda do Outro envolvido é sempre inusitada. Em termos lingüísticos, não só a mensagem carrega em si os significados atribuídos pelo falante ou escritor, como também faz parte do processo de significação e comunicação o ouvinte ou leitor interpretá-las e ressignificá-las.

E, por mais que tenhamos intenções nitidamente expressas e marcadas, nem sempre atingimos os objetivos a que nos propomos quando o assunto é a comunicação. Talvez porque falte pensar em uma três variáveis: organização, público ou conteúdo.

Agora, a parte importante: independente dos significados, ninguém consegue ficar quieto. E, invariavelmente, é pego de surpresa por uma abelha xereta que espeta o seu ferrão calhorda na pobre da campainha.

Bem vindos bocudos, comunicólogos, linguistas, incompreendidos, descompreendidos, reis da significação e da comunicação. Este é para ser um espaço de reflexão sobre a comunicação, a falta e o excesso.
 
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