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sábado, 26 de dezembro de 2009

Melodramas despropositados

Almodóvar tem sempre aquele tom melodramático e poético, cafona e delicado, completamente kitsch. Não fosse fim de ano, talvez eu não chorasse. Mas é e, fazer o quê, o filme tem aquele ponto melodramático de mostrar algo sentimental no plano sensível. Fiquei emocionada mesmo. Sai de olhos vermelhos do cinema do shopping Bourbon, que diga-se de passagem tem muitas vantagens por ser novo.

O filme chama "Abraços Partidos" e é o primeiro do diretor com uma personagem central masculina. Concordo quando dizem que não é o melhor filme dele, mas continua um bom filme. Fala um pouco de amor, amizade, família e poder. Temas extremamente contemporâneos. Um roteirista de cinema, cego, vê o seu passado revirado por um jovem amigo, filho de sua agente. Encostado na parede pelo menino, decide relatar a verdade: como foi seu último filme, a perda da visão e a mudança de nome. A agente, então, conta o seu lado da história e surge a verdade. O que fazer quando se descobre o passado? Os porquês, comos e tudo mais? Fica a pergunta, para quem puder imaginar uma saída melhor que a do filme...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Feliz ano novo, adeus ano velho!!

Embora falte ainda alguns dias para o reveillon, estou saindo de férias e não pretendo me ocupar de textos de blog por um tempo. C'est la vie! Resolvi, então, fazer um balanço de 2009 antes de me despedir de todos.

Fiz uma lista (está bizarra, mas segue em frente):

1) Em 2009 eu acordei na França, dirigi, estudei, morei, viajei, conversei e voltei.
Chegando em São Paulo, encontrei aquela bagunça de coisas, sentimentos, emoções, cobranças, fazeres, dizeres.

2) Eu dancei, bebi, conversei, beijei, abracei.
Me emocionei, me rendi, voltei atrás, fugi.
Gostei e desgostei...

3) Eu fiz dois blogs, falei mais que a boca. Bocuda pra cacete!!!
Eu li verdades, disse verdades, joguei coisas nas caras das pessoas, recebi outras tantas.
Me perdi, me reencontrei, fiz matrícula na USP de novo.

4) Eu conheci pessoas, reconheci, me afastei, voltei.
Escrevi mais e-mails do que nunca, mais posts, entrei pro twitter e fiquei muda.
Postei muita coisa no facebook, verborrágica master.

5)Vivi São Paulo de um jeito diferente, passeando pelo Itaim, Barra Funda, Rua Augusta, Vila Madalena.
Caipirinhas do Central das Artes.
Cosmopolitans do Octavio.
Chopp do Genésio, Caipirinhas do Genésio.
Caldinho de Feijão do Filial.
Banda do Kiaora.
Músicas do CB e do Alley.
Café da Ofner.
Café da Brigadeiro.
Sushis do Nosso Japonês. Sushi do Papa.

6)Fiquei encharcada no show do The Killers.
Comprei ingressos para os shows do ano que vem.

7)Eu vi meus amigos virarem psicólogos, engenheiros, publicitários.
Eu bebi.
Eu chorei, me emocionei e fui dançar.

8) Dirigi meu carro sem rumo.
Chorei no carro. Ri no carro. Fiz piada. Mal-disse a roupa alheia.
Voltei para cervejada de faculdade. Resolvi nunca mais voltar.

9) Por fim, eu inovei e tingi o cabelo, coisa que eu estava achando que nunca ia ter coragem de fazer.
Próxima inovação talvez seja uma tatuagem, mas a dúvida ainda paira. Talvez um dia eu tenha certeza.



Beijo grande de Final de Ano, Feliz Natal e tudo mais. Tudibão!!!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Reencontros Ocasionais

Sábado passado, em meio a uma festa de formatura, me surge na pista um ex-caso. Foi um daqueles reencontros que você pára e fica sem saber o que fazer, mas depois parece que as  coisas andam sozinhas, movidas por um sentimento de amizade. Cumprimentei, trocamos informações sobre os nossos paradeiros e em pouco tempo a gente já estava rindo da cena: uma menina dançando loucamente no palco. Tocava uma música da Gretchen. 

Conversa vai, copos vão, a gente se perde na festa. De madrugada, ele ressurge com o papo: você está tão diferente... A verdade era que ele continuava o mesmo, sem tirar nem pôr, e eu não tinha tido o choque das mudanças. Já eu, devo estar diferente mesmo. E eu via que ele estava medindo as mudanças, o que foi extremamente elogioso. 

Nos perdemos de novo, cada um para um lado, com aquele sentimento de foi bom, adeus! Como é bom reencontrar determinadas pessoas e ver que escolhas feitas, destinos e tudo mais foram seguidos da melhor maneira possível. E que, depois de passado um tempo, as coisas vão bem para ambos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Eu não aguento mais ouvir a Simone no Natal!!

Esse ano estou encabeçando o movimento anti-músicas de natal da Simone, Roberto Carlos, Pixinguinha, Elvis Presley, Frank Sinatra ou o raio que o parta. Coisa mais cafona é essa tradição importada de Christmas Carrols, que ainda são adaptadas para o português por nossas "estrelas".

Minha tia adora, em especial, o cd da Simone e põe ele para tocar todo ano, sem excessão, na casa da vovó. Acho justo que, se ela queira ouvir, que leve para casa para tomar banho de banheira ao som natalino. Na solidão e na intimidade do banheiro, e só. Meus ouvidos estão ficando cada vez mais cricas e mais cansados dessas cafonices otárias... ô, dinheiro mau gasto! Olha só isso:


domingo, 13 de dezembro de 2009

A Árvore de Natal do Ibirapuera está linda!

Para quem gosta de passear pelas ruas metropolitanas e plurais da nossa cidade maravilhosa, existe todo um roteiro de enfeites de natal a ser seguido: Avenida Paulista, Parque do Ibirapuera, Shopping Iguatemi e Rua Normandia (em Moema). Quando eu era criança, minha mãe me levava pra passear de carro pelas ruas perto de casa, para gente eleger os apartamentos mais bem enfeitados do ano. Alguns são bem pobrinhos, outros imponentes e cafonérrimos. Desbunde total.

Outro dia passei pela Avenida Paulista, mas era final de tarde, ainda tinham réstias de sol que atrapalhavam toda as luzes e a percepção da árvore. De qualquer forma, o Bradesco estava bonito. Tradicional, com todos os vermelhos, verdes e dourados.

Na volta, já de noite, resolvi passar pelo Ibirapuera. A árvore de luzes não me encantou em nada, aliás, passei batido por ela. O que estava bonito mesmo eram as árvores reais, iluminadas, na ilha central da avenida e ao fundo do lago. O jogo de luzes e águas do lago estava aceso, músicas de natal tocando a todo vapor. E um bando de gente com capa de chuva, apreciando a paisagem, parados. A imagem estava linda... tinha um quê de espírito comunitário, natalino pairando no ar. Uma espécie de confraternização silensiosa entre estranhos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Amigo Secreto ou Amigo da Onça?

A grande dúvida que ronda as cabeças das pessoas no final de ano é a compra de presentes. Fica todo mundo que nem barata tonta tentando imaginar algum presente que a outra pessoa goste de verdade, seja significativo ou simplesmente cumpra com o seu papel (sempre tem aquela pessoa chata que não merece, mas mesmo assim você se vê obrigado a presentear).

Por falar nisso, nossa turma de amigos mais próximos sorteou amigo secreto por um site, porque ai todos podem trocar bilhetes anônimos, fazer lista de presentes e ninguém tem que ficar supervisionando para ver se não tem ninguém que se tirou. A gente estava discutindo, depois do sorteio, se ia ser amigo secreto normal, sexual ou da onça. Moralidades à parte, como minha irmã e o namorado estavam incluídos na lista, achei que não cabia ser amigo secreto sexual, mas tinha alguns entusiastas da idéia que não sei não vão nos surpreender no dia da troca.

Amigo secreto normal tende a ser coisa de ambiente formal, de trabalho ou qualquer coisa similar. Mas, pode ser uma ótima saída... Agora, amigo da onça tende a tocar em pontos divertidos, muito comportamentais. Tem gente que leva na boa, tem aqueles que se sentem criticados, expostos. Eu, por exemplo, não me importo em participar, mas acho tão sem graça. No caso do nosso grupo, nada foi resolvido e vai da cabeça de cada um, comprar o presente para zoar ou para simbolizar a amizade que nos une. Estou a dias matutando o que comprar... dificuldade master!

domingo, 6 de dezembro de 2009

No Fantástico Mundo da Lua!!

Preciso confessar que tenho forte propensão à devaneios, viagens ao fantástico mundo da lua. Há grande probabilidade que seja genético, embora nada tenha sido comprovado até a presente data. Em finais de ano ou semestre, períodos de stress ou de muita coisa a fazer, eu me perco não só nos mundos paralelos, como também nas ruas de São Paulo. 

Outro dia, sai de casa na maior tranquilidade para buscar uma amiga na casa dela. Era um desses caminhos automáticos, mesmo. Estava dirigindo, viajando, ouvindo Coldplay e Cramberries e, provavelmente, pensando nos ingressos que eu tinha acabado de comprar e quando vi já estava chegando na marginal. Tinha passado a entrada da casa dela uns 10 minutos atrás. Ah, e eu digo provavelmente porque na mioria das vezes é impossível reaver esses devaneios. Eles se perdem no instante em que a consciência ressurge, batendo na porta devagarzinho...

Esqueci que isso existia!!

Pasmem. Esqueci da existência do Blog por uns tempos, mera distração, mas estamos de volta à ativa logo menos. Final de semestre acaba ficando corrido para todo mundo, começam as compras de natal, reuniões de final de ano, amigo secreto, última rodada do Brasileirão. E, também, acaba sendo um período em que eu começo a fazer os ups and downs do ano.

É uma prática corrente entre as amigas se reunir para soltar o verbo, meter bronca e reclamar das coisas passadas. Tudo muito catártico. Quem não tiver muito o que ponderar, vai pela bebida, o que também é super válido.

Depois da catarse, vem a fase mais gostosa que é sonhar junto o ano que chega, imaginar o que pode ser feito e como, deixar a  criatividade tomar conta. É quando estabelecemos as metas do próximo ano e, por elas existirem, fazemos de tudo para conseguir o que realmente queremos. Nem sempre a gente consegue em um ano só, mas sonhos nunca tem prazo para serem concretizados. E é por isso que todo ano a gente pensa e repensa o que já fez e o que falta fazer para chegar lá. Insatisfeitas, sempre. Da melhor maneira possível.

domingo, 29 de novembro de 2009

Fila de Balada é Osso!

Sou literalmente contra essa coisa toda de ficar 2 horas na porta de um lugar para, depois de entrar, você ainda deixar o cara no lucro. É indigno e irracional, mas faz parte (para algumas pessoas só). Ontem estávamos pensando em ir a um pub chamado Kiaora, no Itaim. A gente chegou lá às 23:15 e a previsão de fila era de 2:30 à 3 horas. E a fila se mantinha, bravamente, naquele chovisco de verão que anda tendo em São Paulo. Fora a fila enorme de carros na porta, todos perguntando as perspectivas para o manobrista.

Fiquei mal! Um lugar não pode ser tão bom assim. Tudo bem que a fila é um "esquenta" para o que se vai vivenciar lá dentro, mas peloamordedeus!! 3 horas!! De pé, na chuvinha, travado entre os seus vizinhos de fila (que nem sempre são os mais simpáticos). Eu e minha amiga demos meia volta e voltamos prontamente para nossos bares preferidos: Genésio/Filial.

Sentamos rapidamente, apesar da fila, porque não existe nada como QI nessa vida. Fomos extremamente bem servidas, rimos bastante e voltamos cedo para casa. Noite perfeita! No fim, a gente foi dormir quase na mesma hora que teria entrado no pub para ver a banda, que tocaria por mais 1 hora só.

sábado, 28 de novembro de 2009

Quem lê um conto, sente um ponto!

Acabei de ler um conto do Rubem Fonseca chamado "O Cobrador", publicado em um livro homônimo. Foi rasgante, de virar o estômago, com um pouco de humor negro. Falava um pouco sobre injustiças e ódio, de forma bem violenta, mostrando o resultado prático da desigualdade, falta de acesso à condições mínimas de vida, da perda da dignidade.

A personagem principal é um homem que traz a tona diferentes situações de violência motivadas pelo ódio e pela intolerância. Quem acendesse o estopim, ou o provocasse simplesmente por existir, recebia um grande furo na testa, no coração, uma facada na jugular. Às vezes era uma buzinada fora de hora, um vestido de alta costura. No fundo, ele só estava cobrando da sociedade a sua dívida: de sexo, de dinheiro, de educação, de saúde, de posses. Mas havia um senso de justiça e solidariedade nessa personagem, que dava vacinas em um senhora e não matava a mulher porque ela estava mais fudida que ela.

Esse tipo de coisa revira o estômago porque mostra uma realidade e uma lógica interna satisfatórias. Faz sentido, do ponto de vista prático, todo esse ódio. Mas, do ponto de vista emocional, o que está colocado é a urgência por uma construção comunitária da generosidade, solidariedade e do amor, ao invés da manutenção da lógica egocêntrica-capitalista.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A Chuva Castiga, mas a Massa se Diverte

O show do The Killers, no sábado passado, gerou frisson nas minhas amigas, criou expectativas largamente divulgadas via facebook e orkut e nem com a chuva ele desanimou quem estava realmente com vontade de ir. Bastava um pouco de coragem e disposição para enfrentar as perspectivas climáticas...

Foram horas debaixo de uma chuva que não cedeu em nada; sem diálogo e ponto final. Confesso que fiquei desanimada e preocupada por estar pingando, (estava saindo de uma gripe), mas quando o show começou e as pessoas gritaram junto, se balançando, pulando e dançando, me soltei e fui aproveitar. É uma sensação maravilhosa se transformar em uma massa uniforme, parece que você perde o senso de si, da chuva caindo e simplesmente se joga no momento. A percepção de estar ali e vivendo tudo aquilo enaltecia a sensação de estar viva. A chuva que escorria pelo rosto, pelos cabelos molhados que iam de um lado para o outro. O pé estava encharcado, a jaqueta pesada, o corpo leve, a cabeça fluindo. Acordei domingão com gostinho de quero mais!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Cervejadas de Faculdade

Quarta passada estava saindo da aula de mestrado e dei de cara com uma cervejada de começo de tarde para a pintura das paredes da Comfil (Comunicação, Filosofia e Letras), ali perto de onde fica o C.A. de jornalismo, Benevides Paixão. Um clima tão familiar...Infelizmente, segui correndo para o Pão de Açucar para comprar coisinhas para o Happy Hour que eu fiz aqui em casa.

No entanto, na quinta teve outra cervejada de Faculdade, na ECA, e lá estava eu, perdida entre os comunicólogos e os bicões uspianos, muitos deles da FFLCH (Faculdade de Fiosofia, Letras e Ciências Humanas). Esperava por um amigo meu, reencontro depois de alguns meses de dois ex-estudantes de jornalismo PUC e atuais Letras USP. Acabei encontrando com conhecidos, passando o tempo a jogar conversa fora. Embora o lugar não fosse familiar, cervejada de faculdade tem algumas características quase universais: fila da cerveja, encontro com algum conhecido, caixa de som no máximo volume, microfonias esporádicas.

Foi gostoso e com um  quê de nostálgico: a última que eu tinha ido foi ano passado, na pintura do muro da Comfil, no meu último ano de jornalismo PUC. Sai de lá imaginando se eu iria demorar mais um ano para voltar e cheguei à conclusão que a conversa é boa, mas sentar no chão pra conversar,  pegar a fila de cerveja e meter o pé na laminha que faz em torno das geladeiras nãoo são mais coisas que fazem parte do meu repertório. Prefiro um bom bar, com garçom que vem na mesa, e as mesmas conversas de sempre...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Campanhas Políticas quase Subliminares??

Estava vendo o jornal de hoje e naquela página Corrida, da Folha de São Paulo, apareceu uma notinha dizendo algo como: Regina Duarte, que fez campanha política para o PSDB e declarou em 2002 ter medo de Lula, continua com "muitoooo medo". O texto começa fazendo referência ao agraciamento da atriz com a "Ordem do Ipiranga", a mais alta condecoração concedida pelo governo paulista, e indica que o atual governador é José Serra (PSDB), em quem a atriz declarou que votaria em 2002.

A malícia especulativa existente em dar todas essas informações juntas, sem provas definitivas de que o governo estadual está privilegiando quem um dia fez campanha para o atual governador e seu partido, me incomoda levemente. Embora seja claro e patente que a agraciada tem predileção pelos partidos  e partidários de centro-direita. A minha questão é: será que podemos condenar ou julgar as pessoas por assumirem posicionamentos políticos no passado e manterem a mesma visão anos depois? Não há nada de errado em participar de campanhas políticas e expressar seus pontos de vista, pensando na liberdade de expressão como direito fundamental. Talvez ela até merecesse a homenagem... (frizo no talvez)

Deixando Regina Duarte de lado, da mesma forma como há algo de midiático e propagandístico na condecoração, há sempre algo semelhante no lançamento das obras do PAC ou qualquer outra reunião ou situação governamental para o qual Dilma é chamada a emitir seu parecer. É, acho que estamos mesmo em campanha presidencial!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ditados Populares que vêm a calhar...

Adoro dar festas quando meus pais vão viajar, porque normalmente os amigos ficam mais à vontade, entram na cozinha e pegam cerveja da geladeira sem eu ter que fazer o papel formal de hostess. Minha mãe, sabendo dessa minha tendência, sempre joga um verde: "Quer dizer que agora que os gatos saem, os ratos vão fazer a festa?". À parte a referência a Minnie Mouse, personagem com pelo qual não abraço causa nenhuma, jamais, o ditado pega bem o espírito da coisa. E assim fica acertado entre nós, em GamasLand, que quando eles saem a festa rola solta, mas a casa é entregue bonitinha de novo. Como se nada tivesse acontecido...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Páginas de uma Reconstrução

Vou escrever a próxima frase só para ser chique, mas é compreensível: vou mudar a linha editorial dessa joça (ops!) de blog. Acho que, na verdade, ele nunca teve uma, o que explica a bagunça geral. Então, preparem-se, estamos em reforma! Comprando cimento, tijolo, aceitando pautas e sugestões por email, sms, twitter, facebook, carta, telegrama, telepatia, sinal de fogo.

Contato: jusayao@gmail.com

À partir de agora, os posts relacionados à educação e linguística serão publicados em outro Blog: Reflexões de Ensino. Todos serão, mais do que nunca, muito bem vindos!! Inté logo menos!

Panorâmicas da Metrópole

Dizem que a vista de São Paulo do prédio do Banespa é uma das panorâmicas mais bonitas e românticas da cidade. Desconheço, mas tenho planos de ir. Ontem, no entanto, estive no Skye. O lugar é lindo e a vista do skyline da nossa metrópole é única, com o privilégio do verde do parque Ibirapuera a 90o da Avenida Paulista. Quando o olhar vai longe assim, acompanhado de boas companhias e bebidinhas maravilhosas, só mesmo uma chuva inoportuna para fazer todo mundo correr.

A chuva chegou e nos pegou, desavisados, em pleno deck aberto. Nem o glamour resiste, quando é necessário correr para se proteger da água. E a água foi crecendo e dominou a paisagem, deixando tudo cinza. Sem mais skylines ou visões do parque... A cegueira cinza desempolgou o pessoal, que prontamente pagou a conta e foi dormir.

Enquanto isso, o gringo do sofá ainda utilizava de toda a sua lábia para tentar persuadir a "prima" (como defeniu um amigo meu). Ele estava todo atiçado e a mulher pedia: "calma, aqui não que tem muita gente". Situações de hotel... Eles nem viram a chuva chegar, uma pena, porque foi um happening da natureza. Uma transformação camaleônica, do colorido das luzes da Paulista e das antenas de Rádio e TV, para o cinza de São Pedro. 

domingo, 15 de novembro de 2009

O Embriagado Perturba, O Amigo tem Vergonha Alheia

Sábado de madrugada, tomando aquele caldinho de feijão saidera, deu de pertubarem a nossa mesa do Filial. Um advogado mais para lá do que para cá tentou pegar o cigarro do moço da mesa do nosso lado, que tinha só saído para fumar. Resultado: teve que passar pela gente de novo para devolver o cigarro e voltar para a sua mesa. Na volta, fez questão de justificar o ato ilícito, justo para mim que estava revoltada pela invasão do espaço alheio. É mesquinho e ato duvidoso, do ponto de vista da vigilância sanitária, pegar maço esquecido ou roubar cigarro de outros. Compra logo o seu, é só 4 reais... Vai vir fechado e cheio.

Eu estava nada interessada na explicação, mas o cara estava bêbado e o papo acabou deslanchando. O amigo dele não estava tão bêbado e era bem mais interessante, diga-se de passagem. Entabulamos conversa e fomos indo noite adentro. O bêbado intervinha para falar do quanto já tinha bebido, fazer elogios. O outro falava da vida, e a conversa seguia. O bêbado encontrou uma amiga e começou a conversar com ela ( graças! ). O problema é que ele sempre voltava a atenção para a nossa mesa de novo, fazendo algum comentário impertinente e desconexo.

Quando ele pediu carona, mais do que rapidamente eu pedi a conta. Putaqueopariu, era demais! Segurei minha língua para não soltar logo aquela pérola verborrágica um tanto quanto ríspida e grossa. A conversa estava seguindo rumos indesejados, ainda mais com um bêbado inconveniente. Saimos de lá mais do que rapidamente, deixando os dois com os chopps de saidera deles. C'est la vie. Eu só queria mesmo era tomar um caldinho de feijão, conversar um pouco antes de terminar a noite e ir dormir relaxada, mas tinha um bêbado no caminho. Acompanhado de um amigo que ficava cada vez mais incomodado também, mas se é amigo de verdade aguenta cada uma...

Que fase!!

A vida tem fases e a escrita também. Senti que estou deixando um pouco de lado essa verborrgia imensa que dominou os últimos meses para me concentrar em outras áreas: um projeto de um blog voltado única e exclusivamente para temas relacionados à educação (com uma linha editorial mais bem definida do que esse, que tem de tudo e mais um pouco) e trabalhos do mestrado, inclusive um capítulo de livro e artigos para serem publicados.

Só uma fase, espero...

sábado, 7 de novembro de 2009

Quando as máquinas não dialogam

Impossível imaginar, atualmente, uma apresentação de congresso que não envolva computador, datashow e slides. Faz parte do gênero acadêmico, embora algumas áreas do conhecimento ainda tenham certa resistência ao uso de novas tecnologias. Quando computador e datashow não conversam e as pessoas encarregadas não têm o conhecimento e o suporte técnico necessário, a situação começa a ficar constrangedora porque o tempo vai passando e os apresentadores começam a sentir o nervosismo na pele. Um pouco de jogo de cintura e cara de pau ajudam e o jeito é ser verborrágico, sem contar com todos os recursos visuais que deveriam explicitar e complementar certas falas, digressões e linhas de raciocínio. Engata a primeira e vai ser bocudo na vida, quem sabe com uma dose gauche.

Uma Epidemia de Havannas!

Mar del Plata é também conhecida por abrigar a sede dos cafés Havanna, inseridos no comércio brasileiro de algumas capitais há cerca de 5 anos. Havanna são aqueles cafés altamente reconhecidos e apreciados pelos alfajores e doces de leite, presentes em shoppings de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte (que eu saiba, mas posso estar errada). Aqui, eles são o Mc Donalds porteño. Ou quem sabe o Starbucks. Tem uma casa em cada esquina, sempre com as mesmas orientações estéticas para a decoração e a mesma variedade de produtos, como toda rede grande. É o melhor café que se toma por aqui e vende os melhores alfajores, independemente do fato de ser uma rede e por isso estar mais preocupada em quantidade do que qualidade. Existem algumas casas genéricas, como a Balcarce, que são muito mais grosseiras e rústicas, com produtos mais pesados.

Desfrutar desse sol abrigada do vento em algum dos Havannas é um passeio jornalístico-sociológico. Pelas janelas é possível observar o movimento habitual da cidade em começo de estação. A tranqüilidade parece reinar no cotidiano dos nativos, que nutrem um gosto particular pelos esportes à beira-mar, na rua da orla, e pelas conversas de beira de praia, esticados ao sol. Talvez seja uma particularidade das cidades costeiras, inexistente em São Paulo e na rotina acelerada de metrópole. Se bem que um parque como o Ibirapuera está sempre povoado de pessoas a lagartear no sol e praticar esportes, independente de hora ou dia.

Visões de uma Cidade

Congresso mal organizado é um convite para o turismo e para as compras em qualquer cidade do mundo, mas depois de 4 dias em Mar del Plata estou me questionando sobre a existência do turismo na cidade. A impressão que se têm é de que a economia local está baseada principalmente no turismo de alta temporada, no verão. Entrando em novembro, no começo da estação, as tendas já estão montadas nas praias, o sol já aparece (apesar do vento que dá uma sensação térmica muito mais fria do que nós brasileiros estamos acostumados a ver em uma praia), mas é interessante ver como tudo está ainda meio vazio, em um clima de espreita pelo que está por vir.

As praias são todas parecidas, com costões de pedra e bancos de areia. A cor da água não salta aos olhos. As tendas são espaços bizarros, como um loteamento do espaço público que deveria ser de todos. Paga-se para reservar uma tenda para a família, por semana, e nela constam cadeiras e um telefone, com ligação direta para o bar mais próximo. Estamos ali para ser servidos, desde que possamos arcar com as despesas decorrentes da opção pelo conforto. E a segregação econômica é algo escancarado.

Ao lado do centro comercial, ocupando um pedaço que deveria ser praia, está o Cassino de propriedade governamental (não entendi se era do estadual ou federal). Um lugar enorme e decadente, onde eu me deparei com senhores e senhoras de meia idade, mangas arregaçadas e casacos de moletom, distribuindo fichas e dando dinheiro à rodo para o próprio estado. Apesar das placas de “Cuidado, jogar pode fazer mal à saúde e causar dependência”, as pessoas continuavam ali. Achei indigno um governo manter algo que, por mais rentável ou prazeroso que seja, está incentivando seus cidadãos a serem jogadores profissionais.

O centro comercial têm um ar de 25 de março. Lojas seguidas de lojas, quinquilharias, souvenires, roupas de qualidade duvidosa. Daqueles lugares em que a disposição para encontrar coisas a serem compradas está diretamente relacionada à paciência e à disponibilidade de tempo e pés. Anda-se muito para achar algo que valha a pena.

De acordo com informações locais, os hotéis são incentivados a darem descontos especiais para congressistas, devido ao grande número de congressos na cidade. É uma forma de manter sempre uma movimentação turística na cidade, embora as duas únicas atrações sejam o porto dos leões marinhos e o Cassino. O porto é um espaço mal cheiroso e isolado, impossível passar muito tempo ali.

Dizem as más línguas que no Verão esse espaço se enche de gente jovem e bonita procurando entretenimento, diversão e ondas. Não vou estar aqui para ver, mas gostaria de tirar essa impressão de decadência e cafonice que essa cidade me passa...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Flanando às margens do Rio da Prata

O sol desceu por detrás das esculturas engeinherísticas às margens do rio. Um yacht club à direita, vários barcos aportados. Uma loja da beira vendia pashminas de alpaca, doces de leite, vinhos, pequenos artefatos de decoração, muffins e alfajores. Era uma espécie de mercado chique, restaurante. Muito plural. O calor dava espaço ao friozinho de fim de tarde. Casais, grupos de amigos, famílias passeavam de um lado para o outro.

Com o Ipod nos ouvidos, tocando no máximo, pude flanar por entre aqueles estranhos, fluindo continuamente como a água do rio. Heráclito já diria que a mesma água não banha o mesmo local, fazendo uma das metáforas mais recorrentes na literatura. O tempo fluiu solto, correndo, deslizando pelos dedos. A cabeça vôou longe, lenta e placidamente, para frente e para trás, para o passado e o futuro.

Senti que era um joguete do tempo, desse tempo interno que configura maturidade, mudanças e transcendências. E esse jogo todo de ir e vir calhou de me mostrar conquistas passadas, novos sonhos,  alegrias e desavenças. Por que será que em terras estrangeiras, longe da rotina, conseguimos ser mais reflexivos? Talvez seja porque cada viagem nos muda, em algum aspecto. Ou talvez porque toda viagem material seja também uma viagem metafórica, espiritual, trancendente. Elocubrações de uma mente curiosa...

Portunhol Total

Quem não tem cão, caça com gato.

Quem tem boca, vai à Roma.

Dois ditados altamente utilizados, relacionados à lingua e à linguagem. Levando eles à cabo, aprende-se a ter cara de pau e sair testando sua melánge linguística no mundo afora. Sabe como é? Chegar em um lugar com a sensação de que você tem que se fazer compreender? Até você se adaptar a toda lógica cultural, ao ouvido, demora um lapso de tempo em que tudo fica suspenso ou meio incompreensível.

Um dia passa e parece que tudo que era novo não é mais. O espanhol flui de outra forma... Hoje tive um papo com o taxista, pedindo informações de shows no Teatro Cólon, de Buenos Aires, que ainda está reformando. Auge de uso da língua. Para vender, no entanto, todo mundo consegue se comunicar...

ps: Estava indo para o Puerto Madero. Parei no Hilton Hotel, olhei para a outra margem do Rio da Prata e lá estava o Hooters. Muito democrático esse rio, que tem o melhor e pior do global. Comentário à parte, para dar continuidade à globalização....

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Global, Local, Glocal!!

Globalização é quase um termo banalizado atualmente, mas tal fenômeno histórico-social parece ditar as regras e reger a comunidade mundial: transnacionais, investimentos, bancos, mercados, instituições financeiras. Um verdadeiro castelo de cartas, em que diferentes países estão intimamente ligados, financeiramente ou comercialmente, puxa uma carta e vê quem cai primeiro ou vai mais fundo. Mas não acaba por ai. Com a facilidade de trânsito (de idéias, pessoas, cargas), nos transformamos numa comunidade com aspectos culturais homogêneos, difundidos worldwide. Dentro de tudo isso, coloca-se todo o conhecimento acadêmico difundido nos congressos internacionais e nas teorias produzidas pelo primeiro mundo. Pensando nas teorias de educação agora, sendo simpelsmente trazidas (para não dizer importadas) ao nosso país sem grande critério para adaptação na prática.

Entra em questão a necessidade de se explorar criticamente tudo aquilo que é posto pela academia internacional e pelas editoras de material didático (para estudo de línguas estrangeiras) como sendo a forma correta de se estimular alunos a desenvolverem capacidades, conhecimentos. A prática deveria ser algo que perpassa pelo senso crítico e pela intuição de qualquer um; sensibilidade e conhecimento de mundo; afeto e disciplina para o processo de desenvolvimento do Saber Local. Levando em consideração aqueles aspectos do contexto social em que cada classe e cada aluno estão inseridos  para criação de métodos que auxiliem a tarefa de mediar o acesso do aluno ao conhecimento teórico.

Utilizando-se do Global e do Local, chegamos então à fusão de ambos: o Glocal. Aquilo que pode ser desenvolvido na teoria e na prática em cada contexto: no México, no Brasil, em São Paulo ou no Amapá. Afinal, em um mundo globalizado, de nada adianta fechar-se no seu país ou na sua escola para educar. E, nesse mesmo mundo, de nada adianta sair importando à torto e à direito, sem relativizar os processos de conhecimento e entender as necessidades específicas e as peculiaridades de cada sala ou aluno. A colisão e a síntese do que sai no processo de entendimento para aperfeiçoar a prática, retroalimentada pela experiência de cada um e pela reflexão sobre as ações feitas.

Mais informações:

Moita Lopes, Luiz Paulo(org.). 2006. Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. Parábola:São Paulo.

Canagarajah, Suresh(org). Reclaiming the Local in Language Policy and Practice. Mahwah, New Jersey, EUA: Lawrence Erlbaum.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ninguém Entende Minhas Mímicas!!!

Por falar em jogos infantis, tinha outro que era muito apreciado quando eu era menor e causava grandes sensações nos dias chuvosos na praia: Imagem e Ação. Sempre que caia na maldita mímica, ninguém conseguia entender o que eu estava fazendo. Mas, em minha defesa, eram coisas difíceis e tinha que ficar estática, nada de gestos mil (assim ia ser fácil).

Da primeira vez foi um sapato e eu me embolei no chão como um tatu bola, utilizando os joelhos e a coxa para fazer o salto alto; abdomen e peitoral para planta do sapato. Lógica interna master. 

Da outra vez, caiu fogão. E a palhaça aqui, mais uma vez, foi se articular em forma de fogão. Assim: duas mãos no chão, paralelas; um pé esticado para o alto (fazendo aquela tampa de vidro) e o outro no chão, perna esticada no máximo. As costas formavam uma superficie reta que seria o local das bocas de gás.

Se o tempo não curou, nada cura imaginação fértil...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quebrando o Gelo!

Existiu uma vez, algum tempo atrás porque eu brinquei demais, um jogo de plástico com cubos brancos de gelo e um urso equilibrista. O objetivo era derrubar a maior quantidade de blocos de gelo sem deixar derrubar o urso. Hoje em dia eu acho que esse jogo estava preparando as crianças para quebrar o gelo naquelas situações um tanto constrangedoras ou intimidantes que fazem parte da vida. 

Ex-namorados (com fins tempestuosos, vai...) que se cruzam cotidianamente, por estudarem na mesma universidade, são exemplo clássico. Você cumprimenta, pergunta como vai a vida mas a conversa fica por aí. Ir adiante não parece mais fazer sentido, o que causa certo estranhamento porque, afinal, a pessoa conhece uma parte de você que talvez ninguém mais conheça. Mesmo assim, os dois continuam ali, um do lado do outro, meio sem assunto e sem achar uma forma de sair dali. O jeito é botar em prática todo o conhecimento adquirido, fazer malabarismos para iniciar uma conversa real e quebrar o gelo ou sair pela tangente e inventar uma justificativa para sair dali o mais rápido possível (tipo: Preciso passar no xerox).

Primeiro encontro é outro happening em que, se o discurso não é elaborado o suficiente para quebrar o gelo, um beijo encobre logo o silêncio bizarro que fica entre as duas pessoas que não se conhecem, mas estão dispostas a se conhecer melhor. Se beijos encobrem demais a jogada, talvez o apelo seja meramente sexual e aí incentivar e prosseguir é uma questão de escolha (Vale a pena?).  

E, bom, até hoje estou aprendendo a quebrar as pedras de gelo sem deixar o urso cair. Coisa difícil esse jogo de cintura...

domingo, 25 de outubro de 2009

Um Pouquinho de Silêncio Faz Bem

Alguns dias sem escrever, garganta inflamada, talvez seja tudo uma conspiração para o silêncio. Porque tem dias que a gente simplemente não pode falar mais nada, o silêncio se faz necessário e a atenção se volta exclusivamente para a participação nas atividades longe do computador, nas coisas que os outros têm a dizer (normalmente, mais legais do que as coisas que se passam na sua cabeça). Ao invés de ter algumas defesas erguidas, manter certo afastamento e não pretender entender o outro, as máscaras sociais caem e uma verdade é revelada. O sentimento pulsa, a generosidade e a solidariedade acolhem. Uma epifania que assusta e te desconstrói um pouco, para se reconstruir um pouco mais aberta, um pouco mais franca e sincera.  

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Confidências Jornalísticas

Estava fazendo um social acadêmico necessário e quando vi estava conversando de jornalismo. Ele era da Folha de São Paulo e começamos a falar das publicações, curiosidades. Por exemplo, já existe um caderno especial (e esse não é o primeiro a ser montado) sobre Oscar Niemeyer, para ser publicado na ocasião da sua morte. Tudo feito com base na lógica de que é melhor prevenir do que remediar. Surgiu o comentário de que os cadernos de 11 de setembro ou da morte de Michael Jackson  foram atividades relâmpago, daqueles que você sai correndo atrás de qualquer neguinho que possa escrever e tem um mínimo de credibilidade para ser publicado.

Apesar de parecer frieza escrever a homenagem pós-morte de qualquer pessoa antes mesmo do acontecido, para mim isso é ser calculista. Faz parte da profissão almejar a informação de qualidade, antecipar os fatos e estar sempre pronto para fornecer aos seus leitores o que é esperado de um veículo de comunicação do porte da Folha, do Estado ou do Globo. Na maioria das vezes são meio duvidosas as seleções das fontes e dos colaboradores, quando a coisa é tão em cima da hora: o critério vira o prazo e não o status/conhecimento/propriedade. A gente escreve para não perder o bonde da história e, bom!, depois corrige qualquer coisa errada. Importante é não deixar que outro dê coisas que você não tenha escrito por um problema de tempo. Dá uma de bocudo, mesmo!

Na Hora da Baliza, só o Flanelinha Salva!

Sabe aquela pessoa que pára na janela ao lado do motorista, esperando alguma contribuição financeira, depois que o carro já está parado? Se ela já tiver os macetes da rua, ela te ajuda a parar e fazer a baliza antes mesmo de ver: é mulher que tá dirigindo! O melhor de quando você começa a ouvir o "esterça para direita, outro lado, vem devagar" é que em algumas ocasiões rola até aquele alívio, como se aquelas dicas fossem imprescindíveis.  

Para o meu pai, engenheirão, fazer uma baliza é algo muito fácil, quase natural. Acho que ele está tão acostumado com as máquinas que não vê dificuldade nenhuma em manobrar aquele quadrado nada maleável. Já eu, ah!, como eu queria que as rodas andassem para lateral também! Juro que dou mil voltas no quarteirão antes de pensar em fazer uma baliza daquelas apertadinhas, sofridas. Haja direção hidraúlica e pescoço!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Como Tapear Passantes Desconhecidos

De vez em quando, acontece de um gentleman estar passeando pela praia e reparar em cenas duvidosas, levando-o a dar uma de super-homem. Romântico e válido, não fosse o ato uma pegadinha entre duas amigas.

Duas primas andavam pela areia, na beira da praia, quando deram com um rio. Atravessaram com água na cintura e, a mais prevenida, deixou um graveto marcando o caminho feito, para quando estivessem voltando. A mais brincalhona decidiu pregar uma peça na volta. Fingiu ter caído em algum buraco negro, profundo e mergulhou desastradamente na água. Conhecendo a figura, sabe-se que foi um impulso extremamente escadaloso.

O gentleman prontamente salta na água para salvá-la do possível afogamento, vestido com sua roupa e tênis de corrida. A prima prevenida, mais do que distraída, acompanha a cena como se estivesse ao longe. A outra levanta das águas e dá de cara com o protótipo de príncipe encantado, e cai na risada imediatamente. A gargalhada de ambas deixa o coitado envergonhado, sem graça. Qual não deve ser a frustação de cair do status de herói para vítima de troça geral... Acontece. 

domingo, 18 de outubro de 2009

Do Arco (e da Casa) da Véia!

A tríade dos Gipsy Kings não podia faltar nos domingos em famílila na casa da vovó. Acho que foi assim que eu fiquei com gosto duvidoso para música e, ao mesmo tempo, adquiri esse samba no pé, gingado maroto. Tenho tendências a ser a  pé de valsa que paga mico, preciso confessar. Tudo culpa das estripulias infantis no quintal, com tecidos e tentativas de danças ciganas.








Bateu aquela nostalgia dos encontros semanais, com avós, os 15 tios/tias e as 10 primas (forte presença feminina na família) todas, fora os 3 primos homens condenados a ficar de canto. Se minha bisavó estivesse viva, então, a gente sentava no cantinho da sala em que ela estava sempre tricotando, só para ouvir as histórias. Tinham as lembranças da infância dos nossos pais e as estórias do macaco Simão, o ladrão de bananas. Tinham as musiquinhas (Santa Luzia passou por aqui, com seu cavalinho comendo capim...) e as brincadeiras (tipo cunhê!). E, quando estava frio e chovendo, tinha o filme da princesa Sissi, que minha avó colocava para gente assistir e ficar quietinho.

sábado, 17 de outubro de 2009

C'est si bon! (Uma Viagem de Raciocínio Sobre a Pós-Modernidade)



"C'est si bon" é daquelas que marca o espírito de uma época, das noites de cabaré e da bohemia tipicamente francesa de início do século passado, quando Paris era a cidade das luzes, capital mundial da cultura e abrigo de intelectuais como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Monet. Lá se concentraram as grandes manifestações artísticas que chocaram a sociedade e motraram novos rumos, apontando a necessidade de se questionar os padrões estabelecidos e mostrando a importância de se experienciar a vida, as suas dimensões cotidianas e prazeirosas.  

Na chamada pós-modernidade, o espírito de viver a vida independente das moralidades reinantes, questionar os paradigmas e aproveitar todos os momentos da forma mais intensa (vita brevis!) parece estar engrandecido, tornando-se uma espécie de mote. Embora essa seja uma crítica e não um elogio dessa desmesura e desproporção com que são feitas certas coisas nos nossos tempos, minha intenção é, também, mostrar o outro lado, ver o copo meio cheio. Afinal, não adianta nada racionalizar a vida social e entrar em paranóia ou depressão existencial.

Entre o espírito questionador do início do século passado e a contemporaneidade, veio a década de 60 e a contracultura, que parecem ter radicalizado as propostas modernistas. Antes de abraçar o radicalismo, a exuberância e o desbunde atuais, parecia existir uma certa ingenuidade, um olhar para as pequenas coisas do cotidiano que era mais romancizado. A música acima  mostra, embora relate a vida de uma mulher (uma garota de programa) a procura de uma vida de riquezas materiais e prazeres, uma lista de coisas boas da existência que nada tem a ver com o resultado material, mas sim com os sentimentos ou sensações envolvidos na relação com o mundo e com os outros. Ela mostra a liberdade de transitar no mundo a procura de algo, o prazer de ver a esperança no olhar dos outros, de ser invejada por estar com alguém passeando à beira do Sena.

Na loucura anciosa de hoje em dia, parece que esquecemos da importância do toque, do estar junto e sonhar, trocar vivências, conversar, dessas coisas aparentemente cotidianas, mas totalmente despretenciosas. Será que conseguimos ou tiramos tempo para realmente aproveitar essas situações ou estamos correndo sempre à procura de algo mais, sempre insatisfeitos?


A lógica de viver o momento e espremer 500 vivências, emoções e êxtases em 24 horas parece levar-nos por caminhos obscuros de experimentações, micro-alegrias e epifanias cotidianas. Conhecendo seus limites e respeitando-se, é sempre proveitoso viver, dar a cara a tapa, descobrir alguma verdade vida afora. Deixar moralismos e moralidades de lado pode ser uma forma de nos permitir entrar em contato com  situações inusitadas e surpresas, novidades, dimensões da existência humana até então desconhecidas. Impulsos, instintos, decisões e desejos, tudo pode ser válido, depende de você e o que você pretende da sua vida, do seu processo de ser na Terra.

Talvez estejamos (ou deveríamos estar) caminhando para o meio termo, para a junção do ímpeto questionador e experenciador com a visão mais romancizada, ingênua desse processo. Mantendo, respeitando, aprendendo, aceitando nossos limites.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sobre os Nomes

Gosto de acreditar, embora seja uma crença teleológica e nada científica, que os nomes que nós recebemos acabam fazendo parte do que somos. Por isso, resolvi contar a história do nome deste blog. Primeiro dado importante: é baseada em fatos reais. Uma campainha (dessas de garganta), um dia, foi picada por uma abelha. Má sorte do caramba! E não é lenda urbana, garantido, porque aconteceu com uma tia minha.

Merece um parênteses: a pessoa é figuraça. Além do ferrão da maldita abelha, a sua campainha já recebeu a visita de um anel de latinha de cerveja, a  sua coluna já foi danificada pela queda de um camelo jovem, que não sabia ainda contornar dunas, e a sua mão levou mordida de um mico no zoológico.

Para manter esse espírito aventureiro, desprendido, despretencioso e até um pouco catastrófico da vida, nós que aqui estamos por vós esperamos. Mantendo a capacidade de rir dos nossos erros e acertos, criticar os outros e depois descriticá-los, ser altamente contraditória e plural. Porque, afinal, a vida é um processo e não uma corrida numa montanha russa ou uma volta no autódromo de Interlagos.

O Cúmulo da Incomunicabilidade!!

Acabei de descobrir qual é o cúmulo da incomunicabilidade: ter todas as forma de contatar alguém mas não decidir qual a melhor maneira e por isso ficar muda. E-mail é o tipo de coisa que demanda ou implica em resposta, mas nem sempre ela cabe. MSN é quase uma conversa e tem vezes que é melhor do que o face-a-face, embora eu seja do tipo que não troca conversa por telefone ou ao vivo por nenhum meio virtual (mas tem vezes que escapa, assumo!). Telefone, se for de casa, melhor pensar na possibilidade de outro alguém atender. Celular quase sempre tem bina e pode ser que você não seja atendida. Mensagem de texto é quase uma opção, mas para os verborrágicos o espaço é pouco e a mensagem sai toda cortada. Orkut e Facebook são piores, porque escancaram todo o conteúdo para quem quiser fuçar a sua vida. Ai ai, dúvida cruel!!

ps: Segundo post sobre incomunicabilidade da semana e eu estou mais bocuda do que nunca, na vida real. Nóia master? Sim, né...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Desmistificação Acadêmica da Intuição

A intuição foi negada pelos iluministas, positivistas e racionalistas em geral como parte constituinte do ser humano. Na era da auto-ajuda, ela se transformou em uma espécie de mantra do sexto-sentido, ligado ao místico e ao inexplicável das sensações humanas. Bem cartomancista e premonitório.

Guy Claxton, um educador inglês, propõe que as escolhas feitas no âmbito profissional sejam mediadas pela intuição, se a tomarmos como sendo a junção do processo racional de apreensão da realidade e conhecimento do mundo e do aspecto emotivo, afetivo e impulsivo da existência. 

Essa nova forma de intuição seria constituída por 6 fatores: 
  1.  Expertise: know-how, aprendido pelo estudo e pelas vivências profissionais de cada um; 
  2. Aprendizado: reconhecimento das variáveis envolvidas, por exemplo, na educação e no processo de ensino/aprendizagem e na formação do ser adulto (crítico, racional, emocional);
  3. Julgamento: escolhas e posicionamentos adotados, capacidade de julgar as ações e os fenômenos e agir em resposta;
  4. Sensibilidade: percepção aguçada das situações, das emoções, dos acontecimentos ao seu redor; 
  5. Criatividade e capacidade de resolução de problemas: processo de inovação, mudança e busca de soluções para as situações enfrentadas;
  6. Ruminação: reflexão sobre situações, vivências, dificuldades - associada aos sonhos, à imaginação - da qual extraímos o significado e o sentido das ações e suas implicações.
De qualquer forma, segundo Claxton, é preciso tomá-la como uma nova forma de conhecimento e, para isso, é necessário estar aberto às mudanças comportamentais implicadas nessa nova abordagem. As assepções e os comportamentos derivados desse novo método deveriam ser tomados como falíveis, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, dando a dimensão de que o conhecimento é uma construção, um processo e que é preciso errar para um dia estar certo, tropeçar para poder levantar.

Fiquei intrigada porque (talvez seja impressão minha) no mundo pós-moderno as ações profissionais estão cada vez mais limitadas pela racionalização do processo, pela maquinicidade da atividade e pela linhas de produção. Será que está nos faltando essa dimensão sensitiva, emocional, esse gut feeling da intuição? Ou somos todos pragmáticos em busca de certos resultados, conseguidos pela subserviência muda aos manuais?

Isso é, então, um convite à ousadia. Não a uma ousadia absolutamente impulsiva e irresponsável, mas àquela dimensão da experimentação em que existem ponderações e autolimitações e existe ainda o espaço do desejo, da vontade, do querer.


Referências:

Claxton, Guy. 2000. The anatomy of intuition. In: The Intuitive Practioner: On the value of not always knowing what one is doing. Buckingham: Open University Press. pp. 33-52.

Guy Claxton Website: http://www.guyclaxton.com/

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Esbanjando Amor e Gentileza ou o Encanto com o Vivido

Outro dia estive com um publicitário que tinha uma proposta de trabalho a fazer, mas queria discutir detalhes ao vivo. Era algo relacionado a alguma forma de trabalho jornalístico, no qual a viagem pelo nosso país seria um percurso de crescimento pessoal, experimentações e o produto dessas vivências compartilhadas seria uma revista, um guia turístico, um zine com cara de Brasil, de jovens, de mochileiros, aventureiros. Tudo é muito tentador, mas também extremamente discursivo. Por isso, em um primeiro momento, não consegui me posicionar radicalmente contra, mas agora, pensando melhor...

Eu não lido bem com falta de parâmetros ou paradigmas. Para tudo existe uma espécie de planejamento, um projeto, financiamento, estrutura. Nada precisa sair da forma como foi planejado, mas sonhar é tão importante e cogitar o que se quer e o que se propõe a fazer é essencial. Não existia nada disso, e era aí que estava a beleza do projeto, para ele.  Ser altamente livre era a intenção: na experiência, na elaboração do produto, abraçar o acaso e o destino e seguir em frente. Fiquei pensando se alguém consegue ser assim, de verdade, tão desprendido e se, no fim, essa pretensa liberdade toda não era uma limitação também, da mesma forma como ele colocava que as disposições e pré-requisitos da vida social eram imposições limitantes para o ser. Muito filosófico.

Mas ele começou a contar as experiências pessoais e tudo se encaixou um pouco mais: ele queria era reviver algo especial já vivido, compartilhar com alguém essas novidades todas que se descobre quando se têm contato com a realidade, a multiplicidade de discursos, as pessoas que cruzam sua vida e te fazem gentilezas sem pensar muito na necessidade de troca. Ele queria sair daqui para encontrar a vida no cotidiano das pessoas, na vida dos outros. Mas, mal sabe ele, que não é preciso sair explorando Brasil afora para viver tudo isso. Basta fazer as unhas, fechar um bar, fazer amizade com o garçom ou com pessoas que trabalham com você ou para você. Sair perguntando, questionando, conversando. Taxista sempre tem história boa, alguns até já tem blog e livros publicados. E, bom, ele também não precisa de companhia para realizar tudo o que quer. Muito menos de uma comunicóloga implicante e bocuda, que não tem perfil de quem saí por aí querendo beber a vida e descobrir mistérios e verdades. Para mim, isso tudo está na arte: no cinema, nas telas, nos livros e nas fotografias.  

Aiiiii! Abri o bocão e olha no que deu!

A situação é calamitosa, mas espera-se que para tudo haja um jeito nessa vida. Consertar discurso feito não é coisa pouca. É pior do que consertar máquina de fotografia de estação de trem em Paris no verão ou televisão em véspera de final de copa, Brasil e Argentina. Pior do que tentar construir uma máquina sem ser engenheiro; uma casa sem ser pedreiro. Porque a chance de se enrolar e as explicações e emendas saírem desastradamente mundo afora, sem sentido nenhum, é grande. Gigantesca. Sabe o esquema bola de neve? Começa um pingo e vira o mundo? Assim mesmo!

Sempre que tenho crises verborrágicas e saio falando sem pensar eu vejo a frase: "Abre a boca e fecha os olhos...". Um ensinamento nada sábio para se passar adiante para as crianças e que, fora do contexto original - dar de comer - parece ter seu sentido desvirtuado em função da descomunicação, desentendimento e desastre. Dá até para enxergar a voadeira que vem em resposta. É quase como o teste de batida de carro que as montadoras fazem com os bonequinhos de madeira: você vê tudo acontecer e não pode fazer nada para parar.

Às vezes o que sai é uma verdade inquestionável, uma evidência real, e nesses casos é pior porque a sinceridade foi tamanha que os olhos dos outros estalam e alguém ainda solta uma risadinha nada constrangida. E você se encolhe ao ver o espanto da pessoa a quem se dirige. Em outras ocasiões, o problema é exatamente o fato da notícia dada não fazer sentido nenhum a não ser para você mesma, na sua lógica mental interna. Fazer o quê??

Amigas quando comentam roupas, no fundo, só querem elogiar o bom gosto alheio. Mas, quando bate aquela TPMzinha ou um mal-humor causado pelo homem com quem está saindo, não tem como se segurar, a coisa brota e sai: "por que você não usa aquele sapato de salto com esse vestido? Ficaria bem melhor...". Desastre master (pode ser que seja exagero também, mas nessas horas é tudo meio novela mexicana, TPM mesmo). Rompimento de ir cada uma para um lado e fechar a cara até uma se redimir e falar algo. Para os teimosos e orgulhosos, falar é fácil, díficil é consertar depois.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Mundo Virtual é um Buraco Negro de Incomunicabilidade

Tem vezes que é compreensível alguém não responder os e-mails que chegam na sua caixa de entrada sem pedir licença. Aquelas correntes detestáveis, as piadas bizarras e os spams são verborragias desnecessárias que só atolam o espaço virtual destinado a coisas mais indispensáveis. Ou então as tentativas toscas de se fazer notar por outras pessoas: amigos carentes, desafetos revoltados, reprocuras. Paciência, nesses casos, tem limite e prazo de validade, a não ser que sejam mensagens provenientes de contextos de intimidade  em que se permite essa troca verborrágica.  

Hoje eu abri meu e-mail e ele tinha 100 mensagens desnecessárias e 2 importantes e, justo essas, estavam escritas de forma incomunicável, o que acontece também. Senti que o feriado foi feito para relaxar e desencanar de tentar entender. É melhor deixar que a conversa ao vivo flua de forma mais comunicativa.  A internet realmente facilita a vida, mas não supre todas as necessidades comunicativas... 

Por sinal, eu não poderia deixar de dizer que um dos 100 e-mails desnecessários era sobre frases lendárias dos pré-universitários em redação de vestibular. Li (não sei porquê) e achei triste a forma como a deseducação reinante no país se transforma em piada: as pessoas fazem graça da tentativa frustada dos alunos de usarem um código linguístico condizente com o que lhes é proposto, ou seja, formal e vernacular. Uma inadequação que só reforça a necessidade de se mudar as políticas públicas na educação: fornecer possibilidade e acesso à discursos os mais variados; criar consciência crítica para leituras, interpretações e usos da linguagem nas diferentes situações que fazem parte da vida pública de qualquer pessoa. Tudo a ver com a linguística, diga-se de passagem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Escreve, apaga, reescreve, deleta post!

A odisséia pelo tema perfeito, escrito de maneira mais estética, é sempre uma crise. Porque tem dias que só o silêncio faz sentido e a obrigatoriedade de escrever pesa nos ombros. O branco fica pasmo, ali, à espera da grande revelação da criação artística/jornalística. Os dedos passeiam vagarosos por cima das teclas, escrevendo as primeiras besteiras que vêm à cabeça. Besteiras essas que demoram milênios para vir à tona e são tão detestáveis quanto as notícias populares da imprensa marrom, os poemas espontâneos cliquês (que às vezes a gente acredita serem maravilhosos e avant-garde, mas convenhamos, no dia seguinte são piores que as músicas da Xuxa ou as pérolas do Paulo Coelho) e as crônicas ditas metafísicas a la Clarice Lispector que são mera reprodução de estilo alheio. 

Por isso, vou respeitar a minha falta de assuntos e de comunicabilidade para dizer que, de vez em quando, até uma bocuda master fica sem ter o que falar. Algumas  vezes, quando a autocrítica/ autocensura bate na porta (vide final do parágrafo acima), outras quando algo se revela indizível e curtir esse mistério parece ser o mais sensato.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fica Quietinho, que é Melhor.

Esse diálogo se deu na presença de testemunhas um tanto alcoolizadas, mas é fato real. As pessoas perderam a noção. Toda e qualquer noção. Vamos ao relato...Estava no Alley, na Barra Funda, tomando um gim tônica com duas amigas, noite de sábado. Chega um gringo de 20 e poucos anos e puxa conversa (a reprodução mantém só o conteúdo, não tem nenhuma pretensão de ser igual):

Gringo: Vocês aconselham alguma bebida?
Eu: Estamos tomando gim tônica, tá ótima. Mas você é de onde? (um loiro, perdido, com sotaque macarrônico só podia ser gringo).
Gringo: Sou francês.
Eu: E o que você faz em São Paulo?
Gringo: Eu me mudei para cá faz três meses. Estava na minha casa assistindo uns filmes pôrnos brasileiros e achei toda essa sexualidade o máximo. Fiquei me perguntando o que eu fazia na França se aqui eu podia aproveitar a vida e o sexo de forma mais legal. Vim. (só porque viu meia dúzia de porno-chanchadas estava achando que era chegar aqui que ele ia abalar, fiquei curiosa...).
Eu: E o seu plano deu certo?
Gringo: Ah, fiquei só com uma pessoa... (subentende-se que foi frustante e que o gringo está com aquela sensaçãozinha de que caiu no conto do vigário). 

E aí que o cara pegou uma cerveja e cada um foi para um canto, por razões óbvias. Eu estava rindo muito da cara dele e da história e o coitado só queria achar alguém disposto a distrair ele. Mas o que me chamou a atenção foi o fato do francês achar que o estereótipo de brasileira é válido e, partindo desse pressuposto, sair contando essa história para tentar achar alguém. Por que raios daria certo sair falando coisas assim de cara? Cadê todo o jogo da sedução? As pessoas realmente perderam a noção. Mas, pelo menos, as experiências tentadas não foram tão frutíferas quanto ele imaginava.

Outra coisa a se considerar é que, no fim, toda brasileira continua sendo bunda, peito e nudez. E isso está relacionado ao discurso construído no exterior sobre o que é a brasilidade, a cultura do nosso país. Enfim, o que os nossos discursos, imagens, reportagens, filmes, quadros, livros informam ao mundo sobre a nossa realidade, o nosso cotidiano.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Poesias Cotidianas ou Suspiros...

É invejável, para quem mantém a rotina cinza paulistana, acordar um dia e ver que seus olhos parecem mais atentos às pequenas coisas da vida, como por exemplo o som da chaleira de água fervendo no café da manhã, as flores no terraço ou as andorinhas, beija-flores e outros pássaros cantando no jardim. Parece doença de um dia e depois passa; ficam os suspiros de saudade.

Algumas pessoas colocam-se mais abertas para receber esses minimalismos, mantendo sempre viva e ativa a sua percepção para com a dimensão cotidiana e prosaica da existência.Uma dessas pessoas é Manuel Bandeira e eu diria que é por isso que seus poemas tocam tantas pessoas distintas, nos mais diversos aspectos. Quem nunca sentiu aquele amor infantil por um bicho de estimação? Um porquinho da índia qualquer que estava ali todos os dias, não se deixando acarinhar, escondido debaixo do fogão. Quem nunca teve um(a) primeiro(a) namorado(a)-porquinho(a) da índia? Um desses amores adolescentes em que não se sabe muito bem definir o sentimento, mas é algo tão prosaico e cotidiano quanto a relação com um animal de estimação.

Amor mesmo, segundo ele, seria a fusão do carnal e do espiritual. Uma comunhão entre prazer e compreensão; desbunde e silêncio. Seria uma comunicação elaborada cotidianamente entre razão, sentimentos e desejos de dois seres humanos predispostos a sentirem e a se deixar levar pelos discursos, atenções e carinhos. Algo elaborado entre cactos, ruas, bichos de estimação e reminescências de infância.

O que raios é Linguística Aplicada???

É muito comum as pessoas ficarem me olhando com cara de ué quando eu digo que faço mestrado em linguística aplicada ou quando eu tento explicar o que é que eu faço da vida. Algumas vezes eu faço piada e sigo em frente, outras eu tento explicar e me enrolo toda porque está estampado na cara do outro que não necessariamente ele quer saber ou acompanhar o raciocínio.

Mas vou tentar mais uma vez: Linguística Aplicada é uma ciência, uma área do conhecimento voltada para questões de usos da língua, educação. Todas as pesquisas desenvolvidas na área tem como ponto de partida um problema social (como o discurso constrói a realidade? como as pessoas se comunicam? como ensinar línguas, seja português ou qualquer língua estrangeira?) e a pretensão de chegar em alguma proposta para resolução desse problema.

Por ser transdisciplinar e dialogar com áreas como Filosofia, Antropologia e Sociologia, as pesquisas levam em consideração aspectos culturais e diferenças sociais relacionadas ao uso da linguagem nos seus contextos. O contexto seria, então, o espaço em que certas práticas sociais são realizadas. Está diretamente relacionado às variáveis: quem participa da interação, quem produz,  a quem a comunicação é direcionada, como á mensagem é organizada para estabelecer a comunicação de forma eficaz e quais significados estão sendo compartilhados.

Será que deu para criar um quadro geral?

sábado, 3 de outubro de 2009

Será que Conversa de Manicure pode voltar a ser Fiada?

O sol de sábado me gritou para eu fazer minhas unhas, afinal, tem festa de aniversário hoje à noite. Uma pequena digressão: acho que agora ele se recolheu à sua insignificância, o que é quase ultrajante para quem já tinha roupa arquitetada para uma noite de calor...

Fui até o cabeleireiro com o humor de quem acabou de acordar e resolveu se embelezar, relaxar um pouco e ler revista de fofoca para passar o tempo e esvaziar a cabeça. Coisas femininas leves, que não envolvem um secador estonteantemente grave e maquinal nos seus ouvidos, pinças arranhando a sua pele ou o calor da cera de mel se espalhando pelas suas pernas.

Enquanto fazia o pé com a manicure que eu conhecia, joguei um pouco de conversa fora, falei do tempo, da novela e dos atores globais. Básico. Mas, chegou uma outra manicure para fazer minha mão. E começou a contar a história da vida dela: ela ficou viúva ano passado e, faz um mês, reencontrou um namorado de quando tinha 15 anos e começou a ficar com ele. Grifo no Ficar! Depois de um mês o cara já estava ligando atrás dela todas as noites, dando uma de staulker total e fazendo a coitada sofrer. Até proposta de vender os carros e comprar um apartamento para morarem juntos o cara já fez. Para ela, estava na hora de acabar. Dar um fim antes que ficasse pior. Ela só queria, mesmo, era curtir a vida. E, segundo ela, tinha deixado isso claríssimo para o tal do homem... Mas, será que ele tinha entendido mesmo tudo que ela queria dizer e estava dizendo? Será que ele queria entender?

Talvez o cara esteja em denial ou será que aquilo era fruto de um se fazer de sonso, bizarramente construído. Por outro lado, será que existe uma forma explícita de se dizer o que se quer do outro sem magoá-lo, quando a situação envolve intenções diferentes?

Com tanta coisa a se pensar, eu  fiquei tonta e voltei a falar do tempo, da novela e dos atores globais... Eu só queria ter uma conversinha fiada de sábado de manhã, não viajar em filosofias de vida.

Rio 2016: O começo da Epopéia

Uma amiga definiu bem: "Esse trauma de ex-colônia é eterno. O Brasil é uma dondoca new rich comprando uma bolsa Gucci em parcelas até 2016...". É só o começo de 7 anos de reformas, desvios de dinheiro público, editais e investimentos desproporcionais em infraestrutura material. E cadê os investimentos naqueles direitos básicos de qualquer cidadão brasileiro? Aqueles da primeira emenda da constituição, que determina que o Estado deve garantir a dignidade humana? Entende-se, por dignidade, o acesso à terra, educação, saúde, trabalho.

Só espero que seja o tipo de investimento que compensa, ou seja, o retorno econômico- financeiro ao menos têm de incluir juros e correção, as reformas têm de trazer algum benefício à população e as novas construções não podem virar elefantes brancos no meio da mata atlântica. Porque, vamos combinar, para quê bancar uma bolsa Gucci se a dor de cabeça para pagar a conta do cartão de crédito é pior do que o prazer de poder usá-la no dia-a-dia? 

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Locativos e livres associações

Até o ano passado, um tempo longínquo em que as minhas noites não eram preenchidas por happy hours, shows ou jantares familiares, eu frequentava assiduamente o lugarzinho debaixo do telhadinho azul. Fica do lado esquerdo, logo depois da entrada da Comfil. Ponto de encontro regular das quatro jornalistas elementares e dos nossos agregados favoritos. 

Dali a gente podia ir para alguns lugares: bar da mandioca se fosse para rir; café se fosse para ter glamour, entrada do Tuca para coisas sérias; aula para se desesperar/ exasperar. Último ano, a última opção era sempre a menos escolhida. A não ser que fosse preciso fazer média com professor, registrar presença ou conquistar nota, aí era aula na certa!

Fiquei pensando se isso era coisa da nossa cabeça ou se sempre temos lugares pré-determinados, para atividades e pessoas especiais. Porque, na verdade, a localização espacial só traz mais um rastilho de memória.   

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Gôndola faz a Ocasião...

Quando inesperadamente uma companhia desagradável ressurge por detrás da gondôla de cereais do supermercado, para dar continuidade àquele oi constrangedor que já foi dado perto do açougue (e superado na sessão de frutas por um longo suspiro de alívio), os olhos se reviram, a boca seca e os pés criam asas. Vontade de sair correndo não falta, mas educação é uma dádiva nessas horas...

Enquanto a boca mantém uma conversa mínima para situação não ficar desagradável, a imaginação busca uma salvação. Às vezes essa uma chance de socialização faz toda a diferença e você acaba sendo surpreendido pela conversa, chegando até mesmo a se sentir mal por ter pensado em fugir. Afinal, a pessoa estava sendo simpática, poxa, você podia cooperar um pouco mais. Mas tem gente que nem tentando... O jeito é escapar discretamente, fingindo que o celular vibrou e, sabe como é essa vida corrida de cidade grande, o tempo passou e você já está atrasadíssima para um compromisso inadiável. 

sábado, 26 de setembro de 2009

Bocuda pra cacete, mano!!

Noites de sexta feira costumam ser muito agradáveis e descontraídas quando acompanhadas de boas amigas. Papo vai, papo vêm e o assunto sempre gira em torno de algum homem: o namorado, o ex, o stalker eterno, o stalker do presente, o ficante, o flerte descompromissado, o amigo, o sem label. Depois de passar e repassar por alguns assuntos e histórias, foi engraçado chegar à conclusão de que mulher é bocuda pra cacete: fala o que deve e o que não deve e, se não fala, imagina milhares de mil coisas e deixa indicado por um comentário sarcásticó/irônico ou carente. Puxa briga mesmo!! Coisas da vida e da TPM. O melhor mesmo foi que a gente chacoalhou de dar risada das nossas trapalhadas linguísticas e linguismânticas, tão clichês e tão banais. Tudo igual, só muda o endereço e, tudo bem, o discurso.

Alguns dos exemplos de ontem: crise de ciúmes por causa de recadinhos deixados no orkut, por uma(s) amiga do homem; crise de ciúmes por causa de fotos deixadas no facebook ou no orkut; comentários carentes porque você sente que ele não te elogia mais e quando ele elogia o enfoque é sexual; crise de identidade porque você confunde crítica com carinho.

ps: A conclusão da noite foi que a gente tem que trabalhar na revista Nova. Para compartilhar essas histórias todas de forma elaborada e divertir as outras com elas também. Ou então começar a falar como mano do bronks, para alterar a persona social e deixar de ser tão girly girl.(Como se a segunda opção pudesse dar certo...)

Yes, I speak! Oui, je parle! Si, yo hablo!

Outro dia tive uma discussão sobre o uso de estrangeirismos na língua portuguesa, no meio de uma das minhas aulas de mestrado. A questão girava em torno um pouco do papel do linguista, da globalização e da multiplicação dos cursos de inglês. Até que chegamos no tal projeto de Lei do Aldo Rebelo (arquivado, ainda bem), que previa penalidades para os brasileiros que pronunciassem palavras de outras línguas que não o português, e as opiniões foram ficando um pouco mais aciradas. 

Usar certas expressões é questão de poder. Falar outras línguas é questão de poder social, econômico e cultural. E, como língua em uso diz tudo como a forma como nos posicionamos perante os outros, eu estava mais do que certa de que cada usuário/falante tem liberdade para fazer da sua boca, da sua língua e da cara/face/persona social o que bem entender. Ninguém controla a boca alheia, por mais que existam penalidades envolvidas. Mas, pensando na preservação da cultura popular e na língua portuguesa, uma professora logo começou  a falar que a utilização dos estrangeirismos tinha que ser questionada e debatida e as pessoas deviam ter consciência dos usos. Embora ela tenha se posicionada de forma um pouco nacionalista demais, tentando dizer que o português brasileiro era castiço, a verdade é que a posição que ela tentava defender (um pouco desastradamente) fazia sentido. Será que nós temos consciência de todos os bombardeios culturais e das mudanças que sofremos com a globalização? Não deveríamos ser um pouco mais críticos?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Verborragia Primaveril

Chegou a primavera e parece que hoje eu não consegui calar a boca, mesmo nas horas mais inconvenientes, mais especificamente em uma missa de sétimo dia. Por mim tudo bem, porque entre o inconveniente de fazer meia dúzia de comentários com o colega ao lado ou o de passar o chapéu do dízimo, eu fico feliz com a minha bocona e indignada com o despudor capitalista da igreja e até de Deus para com suas ovelhas. Foi só um desabafo, passou.
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Aflição Compartilhada

A comunicação envolve muito mais do que a fala, estando relacionada à postura, pausas, olhares, gestos. Isso aconeteceu no ano passado, mas de vez em quando eu ainda lembro desse episódio.

Ivanise Espiridião da Silva estava sentada, frágil, em frente à 25 jovens quase jornalistas. As lágrimas escorriam pelo rosto para recontar a história de sua filha desaparecida a 130 metros da porta de sua casa, no bairro de Pirituba, São Paulo. Fabiana voltava da casa de uma amiga que fazia aniversário e, doze anos depois, ninguém sabia onde ela estava.

Ela era o tipo de pessoa que ia atrás do que era preciso. Movia mundos e fundos para rever a filha: estudou e formou-se em direito, montou uma ONG, a Mães da Sé, para pais e familiares de desaparecidos (já que a polícia não dá o suporte necessário, segundo ela), já ajudou a reencontrar cerca de 1900 pessoas com o trabalho voluntário da associação. Essa força estava em cada gesto, em cada olhar mais firme. E a esperança é a última que morre, apesar do tempo passar e das chances serem cada dia menores.

Cada vez que alguma notícia chega e ela se frusta, por não ser Fabiana a pessoa encontrada, a angústia com a incerteza cresce. " A gente não sabe se a filha está bem, se está agasalhada, se está alimentada. O desespero, a dor, o luto são constantes. Minha família acabou" diz Ivanise, "De vez em quando minha filha caçula, Fagna, tenta me convencer  a seguir em frente e a ter vida social. Mas eu não consigo, eu não quero fazer isso. Ela que já se esqueceu de como era ter uma irmã, ela que já se esqueceu da Fabiana". 

O sofrimento marcava o olhar fundo e cinza da mãe, que se dirigia a mim como quem vê que conseguiu tocar alguém. Porque eu podia imaginar todas as sensações, o desepero, as dores daquela mulher só de ver como ela se contorcia para falar, mexia na mão ou cruzava as pernas.  

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma Epifania sobre a Reciprocidade

Existem algumas teorias populares de que existe reciprocidade no mundo, sendo que a mais famosa pode ser que seja O Segredo. As outras estão expressas naqueles famosos provérbios "Cada um colhe o que planta"; "Tudo que vai, volta" ou o aviso assustador "Aguarde, que vai ter troco". 

Independente do teor da mensagem, o que é de se pensar é que, por essa lógica, quanto mais boas ações são feitas pelos outros, mais os outros podem fazer por você. E é essa generosidade, amizade ou amor que deveria reinar nas relações. Com o vizinho, no farol, os amigos. Um post bem no clima do filme "A Corrente do Bem", para que seja possível refletir sobre a dignidade humana e sobre o que ainda podemos fazer pelos outros; sobre como nossos discursos e presenças tem o poder de afetar e transformar suas vidas; sobre as mudanças que nós sofremos por termos determinadas pessoas por perto e todos os sentimentos que elas nos proporcionam.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Joga tinta nessa tela!

Os quadros do Pollock que são tinta pura e liberdade criativa para expressar um sentimento qualquer. São todos meio intensos e deliberados, com camadas e mais camadas que traduzem a complexidade da criação, de sentimentos e de leituras possíveis. Afinal, cada um atribuí um significado a uma certa dose de cor. As cores basais são quase que a verdade escondida debaixo da capa socialmente apresentada. O vermelho vivo está entre a paixão e a morte. O cinza e o azul, no limiar da depressão sombria. O amarelo luz da manhã, uma esperança de um novo dia. E antes que isso vire terapia das cores ou qualquer coisa parecida, o melhor é encerrar por aqui. Essa tela já tem tinta suficiente...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Memória de Bêbado é Jogo de Tabuleiro

Eu já ouvi dizer que os bêbados perdem a memória e esquecem todas as baixarias que falam ou fazem. Mas também já conheci aqueles muito conscientes que, sem pestanejar, relatam para você todas as piadas e peripércias da noite anterior, em nítidos detalhes, esquecidos necessariamente pelos sóbrios de plantão. Reconstruir uma noite de bebedeira entre amigos é sempre algo divertido, porque nessa mélange existem todos os relatos e os pontos de vista implicados, na sua maioria pouco ortodoxos.

Memória de bêbado é mesmo um jogo de tabuleiro, daqueles que os taxistas se juntam para passar o tempo nos pontos de praça. Os relatos são constituídos de pequenas coisas que um ou outro vai adicionando, em meio a muitas risadas, cafés e aspirinas. Às vezes a gente lembra de coisas que se arrepende, mas já foi. Às vezes a gente acorda sorrindo porque, putaqueopariu, noite maravilhosa!

Conversas que se tem no Silêncio



Algumas conversas são melhores quando o que se é dito não precisa necessariamente ser dito. Às vezes uma música, um quadro, um poema, uma foto parece dizer tudo e de uma forma tão mais bonita, que o melhor é descansar e usar o que já está pronto. Tem vezes que fica cafona e só a gente sabe o quão cafona é, e se arrepende depois. Tem vezes que a cafonice tem que entrar na vida para quebrar o gelo. Mas o que importa mesmo é poder cantar e dançar sem olhar quem está do lado, sem sentir vergonha ou mal estar, simplesmente ser. Digressão à parte, essa conversa é sobre as estripulias de uma mudança necessária ou as ansiedades, angústias e medos das transformações inevitáveis. Para aqueles que estão vendo tudo isso se aproximar no horizonte, sentindo peso dos 20 e poucos, e do diploma nas costas, talvez o melhor seja descansar e abraçar o mistério, ou o cosmopolitan.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Micro-conto da Andorinha

Andorinha passou aqui voando, piando: passou a vida à toa, à toa. E eu não me fiz de rogada, atirei-lhe logo meia dúzia das mais belas palavras de mal dizer. Afinal, quem era ela para me dizer como eu deveria viver a vida? Fiquei pensando, depois, se, por ela ter falado de forma tão aberta, ela estava se referindo mesmo à mim.

Moral: Nem sempre aquilo que é dito reflete o que o outro pensa, mas o que está na sua cabeça te leva a interpretar de certa forma.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ciclo da Vida: Pieguice Emocionante

Segunda-feira é f%$#@!!!!

Segunda é o primeiro dia do começo de uma longa semana de trabalhos, deveres e muitas horas de dedicação à conquista do salário. É quando você se despede do seu dia-a-dia de final de semana, o cotidiano ideal, para entrar no marasmo das responsabilidades. Por isso que terça os bares oferecem chopp em dobro: uma mistura de consolo com  gostinho nostálgico de quero mais... Ai, volta logo final de semana!!

Abaixo à Plataforma!!

É difícil uma mulher legítima que não goste de sapatos, por mais que algumas busquem o conforto e outras a estética. Sapatos são aqueles companheiros que nos são fiéis porque tomam direitinho a forma dos nossos pés, diria uma amiga. Na aula de etiqueta do trabalho, uma outra aprenderia que os fechados atrás são mais formais e chiques, condizentes com o espaço em que ela estaria se inserindo.

Eu digo simplesmente que os meus sapatos são mais um toque ou um detalhe para se alinhar ao conjunto e à situação. Não adianta nada sair mancando por aí ou estar sempre 15 cm abaixo (ou acima, o que também pode acontecer) do esperado. Mas, não importa o que acontecer, não caia na tentação de achar que plataforma no pé é a união do conforto com o alongamento da forma física. Plataforma é pior que ter que ouvir discurso de candidato à prefeito de cidade agreste, de pé, no verão, usando salto alto.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Pilates tem um vocabulário próprio

As aulas de Pilates no clube são sempre fontes interessantes de novos vocábulos para o repertório cultural de qualquer pessoa, especialmente para quem está mais interessado na linguagem do que em suar a camisa nas abdominais intermináveis.

Nos primeiros dias estranhei: ísquios (ossos da bunda), glúteos (músculos da bunda) e outras coisas do tipo. Mas o melhor diálogo que eu já ouvi foi:

- Você têm que contrair mais os músculos da sua vagina, como se estivesse urinando, sabe? (seguido de risinhos) Assim na abdominal você trabalha mais os seus músculos abdominais...

Eu, um tanto pasma e outro tanto suada, mantive o ritmo das abdominais, agradeci por ela ter tirado o microfone da boca e não falado para a classe inteira, normalmente formada por jovens, mães de família, pais e senhores. Nada plural. Depois fiquei imaginando a relação entre o pilates e o pompoarismo, mas isso já são intervenções de uma mente criativa que vai longe.

Tiraram o Trombone da minha Boca?!

A sua participação política despencou?

Ninguém mais quer revolucionar o mundo?

Tudo anda errado e todo mundo prefere que fique assim a ser um agente social transformador?

Vamos facilitar as coisas. Não tente cooptar comparsas ou impôr modos de pensar e ver a vida. Aceitação é a chave. Encontre o seu nicho e invista nele, naquele lugar onde o trombone continua a solta e o mundo ainda pode ser idealizado, transformado.

Uma professora da rede pública da cidade de São Paulo estava reclamando outro dia das condições de trabalho e, ao mesmo tempo, da forma como os seus próprios colegas estavam lidando com essas questões. Segundo ela, ao invés de inverter a mesa e começar a jogar o jogo, a inércia permanecia. Faltava ação, discussão, participação, engajamento, motivação. Coisas provenientes não só da sociedade, como de si mesmos.

Tem Babado Novo na Jogada

Fofoca pura, sabe como é? Aquele momento do dia em que todos se postam à frente da janela (da casa ou do computador) para escarafunchar a vida alheia, nutrir-se de material e sair comentando mundo afora. Um serviço jornalístico da pior espécie, gentilmente exercido por revistas como "Caras" e "Tititi", além do site "Glamourama" (aliás, o glamour perde total o sentido depois desse novo significado atribuído) e membros de cidades pequenas com tempo de sobra para ficar à paisana.

Um desserviço social porque parte do pressuposto que todos querem e devem saber da vida alheia, nos mínimos detalhes. Aqui no cantinho a gente pode cochichar: pressuposto esse que é mais certo do que um e um são dois. Nós, bocudos e comunicólogos, adoramos qualquer coisa que possa nos valer algo: risadas, textos, pautas, fotos. E vida alheia é sempre uma coisa vendável, consumível como informação.

Afinal, e isso serve para qualquer um, o conhecimento é emancipador: quando nada mais pára em pé, pelo menos ele diverte; quando a sociedade é um espetáculo, todo mundo tem seus minutinhos de fama. Quer coisa melhor do que saber quem ficou com quem no feriado, quem faz o quê depois da faculdade? Ou então comentar, en passant, da vida pessoal do ator x com seu cabeleireiro? Fala sério e põe na roda. Pode ser no orkut ou no facebook também, sem problemas.

E-mail de Bar é Garçom???

Não sei se isso acontece com tanta frequência assim nos lugares civilizados, mas peloamordedeus! Essa é total para os homens: garçom não é servidor de e-mail, então mexa-se e elabore aquele discurso de pé de ouvido que a essa altura do campeonato qualquer um poderia se dar ao luxo de, no mínimo, exercitar. Ficar mandando recadinho em papel de quinta categoria por meios escusos é difícil.

Agora, vamos combinar que, se no bar já é difícil, imagina em um café? Era de madrugada, em um bairro agitado da vida noturna paulistana, mas mesmo assim eu e minha amiga fugimos mais do que prontamente: receber um telefone escrito mal e porcamente da garçonete da Ofner, constrangida e meia, foi o fim.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Micro-conto da Ostra

As ostras são moluscos bizarros. Dizem por aí que são afrodisíacos. Também já ouvi dizer que são responsáveis pela formação das pérolas: um organismo invasor conseguiria penetrar pela concha, tentando alojar-se no interior da ostra (a geleca), que instantaneamente produziria uma substância que incalacrasse o ser não identificado. Esse invólucro ficaria rígido com o passar do tempo, produzindo a tão estimada pérola. Que vai ser expelida para o mundo e se transformar em adorno feminino.

Moral (se é que existe uma): mesmo o ser mais fechado consegue produzir algo chique, luxuoso e bonito, ou até mesmo uma piada memorável. (Mais uma pérola de uma bocuda nata).

São Pedro disse: fica, minha filha!

Fui no final de semana para Ubatuba, aproveitar o clima estragado pelas previsões de tempo. Sacanagem da grossa desses metereólogos tentarem privar as pessoas da esperança e da existência real de um tempo bom. A gente vai por causa das companhias e acaba aproveitando tudo. Estou até com marcas de queimado, de tão bonita a segunda-feira.

Terça, aquele marasmo de arrumação de carro, dia feio. Dilúvios e tufões. E nós, mais do que prontamente, interpretamos os sinais divinos: fiquem na praia mais um dia, não vai fazer falta. Não só não fez falta como foi a recomendação geral da nação. Nada como poder se dar ao luxo de não pegar a marginal parada, alagada e o caos total.

Entalou? Gargareja!

Homens e mulheres costumam dizer que odeiam ex que corre atrás para chorar as pitangas e tentar acertar os ponteiros, que estão para lá de Bagdá. Briga entre pais e filhos, irmãos, casais, namorados está cheio de disse-que-disse e de outro dia você fez isso. Uma lavação total de roupa suja, uma tiração de esqueletos do armário.

Certas vezes eu sinto o desprazer de ter coisas entaladas na garganta. E aquela vontade de jogar na cara tudo que o outro fez ou deixou de fazer urge violentamente, de forma tão agressiva que derruba qualquer barreira de sanidade. As cartas e as mensagens saem mal escritas e passionais, um melodrama mexicano da pior espécie. As falas saem gaguejadas. Lágrimas escorrem, Maria do Bairro ganha vida e tudo dá errado. 

Por isso que, hoje em dia, o meu estoque de Listerine e Cepacol triplicou. Tem alguma coisa entalada na garganta? Gargareja primeiro, antes de sair botando a boca no trombone.
 
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