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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Locativos e livres associações

Até o ano passado, um tempo longínquo em que as minhas noites não eram preenchidas por happy hours, shows ou jantares familiares, eu frequentava assiduamente o lugarzinho debaixo do telhadinho azul. Fica do lado esquerdo, logo depois da entrada da Comfil. Ponto de encontro regular das quatro jornalistas elementares e dos nossos agregados favoritos. 

Dali a gente podia ir para alguns lugares: bar da mandioca se fosse para rir; café se fosse para ter glamour, entrada do Tuca para coisas sérias; aula para se desesperar/ exasperar. Último ano, a última opção era sempre a menos escolhida. A não ser que fosse preciso fazer média com professor, registrar presença ou conquistar nota, aí era aula na certa!

Fiquei pensando se isso era coisa da nossa cabeça ou se sempre temos lugares pré-determinados, para atividades e pessoas especiais. Porque, na verdade, a localização espacial só traz mais um rastilho de memória.   

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Gôndola faz a Ocasião...

Quando inesperadamente uma companhia desagradável ressurge por detrás da gondôla de cereais do supermercado, para dar continuidade àquele oi constrangedor que já foi dado perto do açougue (e superado na sessão de frutas por um longo suspiro de alívio), os olhos se reviram, a boca seca e os pés criam asas. Vontade de sair correndo não falta, mas educação é uma dádiva nessas horas...

Enquanto a boca mantém uma conversa mínima para situação não ficar desagradável, a imaginação busca uma salvação. Às vezes essa uma chance de socialização faz toda a diferença e você acaba sendo surpreendido pela conversa, chegando até mesmo a se sentir mal por ter pensado em fugir. Afinal, a pessoa estava sendo simpática, poxa, você podia cooperar um pouco mais. Mas tem gente que nem tentando... O jeito é escapar discretamente, fingindo que o celular vibrou e, sabe como é essa vida corrida de cidade grande, o tempo passou e você já está atrasadíssima para um compromisso inadiável. 

sábado, 26 de setembro de 2009

Bocuda pra cacete, mano!!

Noites de sexta feira costumam ser muito agradáveis e descontraídas quando acompanhadas de boas amigas. Papo vai, papo vêm e o assunto sempre gira em torno de algum homem: o namorado, o ex, o stalker eterno, o stalker do presente, o ficante, o flerte descompromissado, o amigo, o sem label. Depois de passar e repassar por alguns assuntos e histórias, foi engraçado chegar à conclusão de que mulher é bocuda pra cacete: fala o que deve e o que não deve e, se não fala, imagina milhares de mil coisas e deixa indicado por um comentário sarcásticó/irônico ou carente. Puxa briga mesmo!! Coisas da vida e da TPM. O melhor mesmo foi que a gente chacoalhou de dar risada das nossas trapalhadas linguísticas e linguismânticas, tão clichês e tão banais. Tudo igual, só muda o endereço e, tudo bem, o discurso.

Alguns dos exemplos de ontem: crise de ciúmes por causa de recadinhos deixados no orkut, por uma(s) amiga do homem; crise de ciúmes por causa de fotos deixadas no facebook ou no orkut; comentários carentes porque você sente que ele não te elogia mais e quando ele elogia o enfoque é sexual; crise de identidade porque você confunde crítica com carinho.

ps: A conclusão da noite foi que a gente tem que trabalhar na revista Nova. Para compartilhar essas histórias todas de forma elaborada e divertir as outras com elas também. Ou então começar a falar como mano do bronks, para alterar a persona social e deixar de ser tão girly girl.(Como se a segunda opção pudesse dar certo...)

Yes, I speak! Oui, je parle! Si, yo hablo!

Outro dia tive uma discussão sobre o uso de estrangeirismos na língua portuguesa, no meio de uma das minhas aulas de mestrado. A questão girava em torno um pouco do papel do linguista, da globalização e da multiplicação dos cursos de inglês. Até que chegamos no tal projeto de Lei do Aldo Rebelo (arquivado, ainda bem), que previa penalidades para os brasileiros que pronunciassem palavras de outras línguas que não o português, e as opiniões foram ficando um pouco mais aciradas. 

Usar certas expressões é questão de poder. Falar outras línguas é questão de poder social, econômico e cultural. E, como língua em uso diz tudo como a forma como nos posicionamos perante os outros, eu estava mais do que certa de que cada usuário/falante tem liberdade para fazer da sua boca, da sua língua e da cara/face/persona social o que bem entender. Ninguém controla a boca alheia, por mais que existam penalidades envolvidas. Mas, pensando na preservação da cultura popular e na língua portuguesa, uma professora logo começou  a falar que a utilização dos estrangeirismos tinha que ser questionada e debatida e as pessoas deviam ter consciência dos usos. Embora ela tenha se posicionada de forma um pouco nacionalista demais, tentando dizer que o português brasileiro era castiço, a verdade é que a posição que ela tentava defender (um pouco desastradamente) fazia sentido. Será que nós temos consciência de todos os bombardeios culturais e das mudanças que sofremos com a globalização? Não deveríamos ser um pouco mais críticos?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Verborragia Primaveril

Chegou a primavera e parece que hoje eu não consegui calar a boca, mesmo nas horas mais inconvenientes, mais especificamente em uma missa de sétimo dia. Por mim tudo bem, porque entre o inconveniente de fazer meia dúzia de comentários com o colega ao lado ou o de passar o chapéu do dízimo, eu fico feliz com a minha bocona e indignada com o despudor capitalista da igreja e até de Deus para com suas ovelhas. Foi só um desabafo, passou.
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Aflição Compartilhada

A comunicação envolve muito mais do que a fala, estando relacionada à postura, pausas, olhares, gestos. Isso aconeteceu no ano passado, mas de vez em quando eu ainda lembro desse episódio.

Ivanise Espiridião da Silva estava sentada, frágil, em frente à 25 jovens quase jornalistas. As lágrimas escorriam pelo rosto para recontar a história de sua filha desaparecida a 130 metros da porta de sua casa, no bairro de Pirituba, São Paulo. Fabiana voltava da casa de uma amiga que fazia aniversário e, doze anos depois, ninguém sabia onde ela estava.

Ela era o tipo de pessoa que ia atrás do que era preciso. Movia mundos e fundos para rever a filha: estudou e formou-se em direito, montou uma ONG, a Mães da Sé, para pais e familiares de desaparecidos (já que a polícia não dá o suporte necessário, segundo ela), já ajudou a reencontrar cerca de 1900 pessoas com o trabalho voluntário da associação. Essa força estava em cada gesto, em cada olhar mais firme. E a esperança é a última que morre, apesar do tempo passar e das chances serem cada dia menores.

Cada vez que alguma notícia chega e ela se frusta, por não ser Fabiana a pessoa encontrada, a angústia com a incerteza cresce. " A gente não sabe se a filha está bem, se está agasalhada, se está alimentada. O desespero, a dor, o luto são constantes. Minha família acabou" diz Ivanise, "De vez em quando minha filha caçula, Fagna, tenta me convencer  a seguir em frente e a ter vida social. Mas eu não consigo, eu não quero fazer isso. Ela que já se esqueceu de como era ter uma irmã, ela que já se esqueceu da Fabiana". 

O sofrimento marcava o olhar fundo e cinza da mãe, que se dirigia a mim como quem vê que conseguiu tocar alguém. Porque eu podia imaginar todas as sensações, o desepero, as dores daquela mulher só de ver como ela se contorcia para falar, mexia na mão ou cruzava as pernas.  

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma Epifania sobre a Reciprocidade

Existem algumas teorias populares de que existe reciprocidade no mundo, sendo que a mais famosa pode ser que seja O Segredo. As outras estão expressas naqueles famosos provérbios "Cada um colhe o que planta"; "Tudo que vai, volta" ou o aviso assustador "Aguarde, que vai ter troco". 

Independente do teor da mensagem, o que é de se pensar é que, por essa lógica, quanto mais boas ações são feitas pelos outros, mais os outros podem fazer por você. E é essa generosidade, amizade ou amor que deveria reinar nas relações. Com o vizinho, no farol, os amigos. Um post bem no clima do filme "A Corrente do Bem", para que seja possível refletir sobre a dignidade humana e sobre o que ainda podemos fazer pelos outros; sobre como nossos discursos e presenças tem o poder de afetar e transformar suas vidas; sobre as mudanças que nós sofremos por termos determinadas pessoas por perto e todos os sentimentos que elas nos proporcionam.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Joga tinta nessa tela!

Os quadros do Pollock que são tinta pura e liberdade criativa para expressar um sentimento qualquer. São todos meio intensos e deliberados, com camadas e mais camadas que traduzem a complexidade da criação, de sentimentos e de leituras possíveis. Afinal, cada um atribuí um significado a uma certa dose de cor. As cores basais são quase que a verdade escondida debaixo da capa socialmente apresentada. O vermelho vivo está entre a paixão e a morte. O cinza e o azul, no limiar da depressão sombria. O amarelo luz da manhã, uma esperança de um novo dia. E antes que isso vire terapia das cores ou qualquer coisa parecida, o melhor é encerrar por aqui. Essa tela já tem tinta suficiente...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Memória de Bêbado é Jogo de Tabuleiro

Eu já ouvi dizer que os bêbados perdem a memória e esquecem todas as baixarias que falam ou fazem. Mas também já conheci aqueles muito conscientes que, sem pestanejar, relatam para você todas as piadas e peripércias da noite anterior, em nítidos detalhes, esquecidos necessariamente pelos sóbrios de plantão. Reconstruir uma noite de bebedeira entre amigos é sempre algo divertido, porque nessa mélange existem todos os relatos e os pontos de vista implicados, na sua maioria pouco ortodoxos.

Memória de bêbado é mesmo um jogo de tabuleiro, daqueles que os taxistas se juntam para passar o tempo nos pontos de praça. Os relatos são constituídos de pequenas coisas que um ou outro vai adicionando, em meio a muitas risadas, cafés e aspirinas. Às vezes a gente lembra de coisas que se arrepende, mas já foi. Às vezes a gente acorda sorrindo porque, putaqueopariu, noite maravilhosa!

Conversas que se tem no Silêncio



Algumas conversas são melhores quando o que se é dito não precisa necessariamente ser dito. Às vezes uma música, um quadro, um poema, uma foto parece dizer tudo e de uma forma tão mais bonita, que o melhor é descansar e usar o que já está pronto. Tem vezes que fica cafona e só a gente sabe o quão cafona é, e se arrepende depois. Tem vezes que a cafonice tem que entrar na vida para quebrar o gelo. Mas o que importa mesmo é poder cantar e dançar sem olhar quem está do lado, sem sentir vergonha ou mal estar, simplesmente ser. Digressão à parte, essa conversa é sobre as estripulias de uma mudança necessária ou as ansiedades, angústias e medos das transformações inevitáveis. Para aqueles que estão vendo tudo isso se aproximar no horizonte, sentindo peso dos 20 e poucos, e do diploma nas costas, talvez o melhor seja descansar e abraçar o mistério, ou o cosmopolitan.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Micro-conto da Andorinha

Andorinha passou aqui voando, piando: passou a vida à toa, à toa. E eu não me fiz de rogada, atirei-lhe logo meia dúzia das mais belas palavras de mal dizer. Afinal, quem era ela para me dizer como eu deveria viver a vida? Fiquei pensando, depois, se, por ela ter falado de forma tão aberta, ela estava se referindo mesmo à mim.

Moral: Nem sempre aquilo que é dito reflete o que o outro pensa, mas o que está na sua cabeça te leva a interpretar de certa forma.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ciclo da Vida: Pieguice Emocionante

Segunda-feira é f%$#@!!!!

Segunda é o primeiro dia do começo de uma longa semana de trabalhos, deveres e muitas horas de dedicação à conquista do salário. É quando você se despede do seu dia-a-dia de final de semana, o cotidiano ideal, para entrar no marasmo das responsabilidades. Por isso que terça os bares oferecem chopp em dobro: uma mistura de consolo com  gostinho nostálgico de quero mais... Ai, volta logo final de semana!!

Abaixo à Plataforma!!

É difícil uma mulher legítima que não goste de sapatos, por mais que algumas busquem o conforto e outras a estética. Sapatos são aqueles companheiros que nos são fiéis porque tomam direitinho a forma dos nossos pés, diria uma amiga. Na aula de etiqueta do trabalho, uma outra aprenderia que os fechados atrás são mais formais e chiques, condizentes com o espaço em que ela estaria se inserindo.

Eu digo simplesmente que os meus sapatos são mais um toque ou um detalhe para se alinhar ao conjunto e à situação. Não adianta nada sair mancando por aí ou estar sempre 15 cm abaixo (ou acima, o que também pode acontecer) do esperado. Mas, não importa o que acontecer, não caia na tentação de achar que plataforma no pé é a união do conforto com o alongamento da forma física. Plataforma é pior que ter que ouvir discurso de candidato à prefeito de cidade agreste, de pé, no verão, usando salto alto.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Pilates tem um vocabulário próprio

As aulas de Pilates no clube são sempre fontes interessantes de novos vocábulos para o repertório cultural de qualquer pessoa, especialmente para quem está mais interessado na linguagem do que em suar a camisa nas abdominais intermináveis.

Nos primeiros dias estranhei: ísquios (ossos da bunda), glúteos (músculos da bunda) e outras coisas do tipo. Mas o melhor diálogo que eu já ouvi foi:

- Você têm que contrair mais os músculos da sua vagina, como se estivesse urinando, sabe? (seguido de risinhos) Assim na abdominal você trabalha mais os seus músculos abdominais...

Eu, um tanto pasma e outro tanto suada, mantive o ritmo das abdominais, agradeci por ela ter tirado o microfone da boca e não falado para a classe inteira, normalmente formada por jovens, mães de família, pais e senhores. Nada plural. Depois fiquei imaginando a relação entre o pilates e o pompoarismo, mas isso já são intervenções de uma mente criativa que vai longe.

Tiraram o Trombone da minha Boca?!

A sua participação política despencou?

Ninguém mais quer revolucionar o mundo?

Tudo anda errado e todo mundo prefere que fique assim a ser um agente social transformador?

Vamos facilitar as coisas. Não tente cooptar comparsas ou impôr modos de pensar e ver a vida. Aceitação é a chave. Encontre o seu nicho e invista nele, naquele lugar onde o trombone continua a solta e o mundo ainda pode ser idealizado, transformado.

Uma professora da rede pública da cidade de São Paulo estava reclamando outro dia das condições de trabalho e, ao mesmo tempo, da forma como os seus próprios colegas estavam lidando com essas questões. Segundo ela, ao invés de inverter a mesa e começar a jogar o jogo, a inércia permanecia. Faltava ação, discussão, participação, engajamento, motivação. Coisas provenientes não só da sociedade, como de si mesmos.

Tem Babado Novo na Jogada

Fofoca pura, sabe como é? Aquele momento do dia em que todos se postam à frente da janela (da casa ou do computador) para escarafunchar a vida alheia, nutrir-se de material e sair comentando mundo afora. Um serviço jornalístico da pior espécie, gentilmente exercido por revistas como "Caras" e "Tititi", além do site "Glamourama" (aliás, o glamour perde total o sentido depois desse novo significado atribuído) e membros de cidades pequenas com tempo de sobra para ficar à paisana.

Um desserviço social porque parte do pressuposto que todos querem e devem saber da vida alheia, nos mínimos detalhes. Aqui no cantinho a gente pode cochichar: pressuposto esse que é mais certo do que um e um são dois. Nós, bocudos e comunicólogos, adoramos qualquer coisa que possa nos valer algo: risadas, textos, pautas, fotos. E vida alheia é sempre uma coisa vendável, consumível como informação.

Afinal, e isso serve para qualquer um, o conhecimento é emancipador: quando nada mais pára em pé, pelo menos ele diverte; quando a sociedade é um espetáculo, todo mundo tem seus minutinhos de fama. Quer coisa melhor do que saber quem ficou com quem no feriado, quem faz o quê depois da faculdade? Ou então comentar, en passant, da vida pessoal do ator x com seu cabeleireiro? Fala sério e põe na roda. Pode ser no orkut ou no facebook também, sem problemas.

E-mail de Bar é Garçom???

Não sei se isso acontece com tanta frequência assim nos lugares civilizados, mas peloamordedeus! Essa é total para os homens: garçom não é servidor de e-mail, então mexa-se e elabore aquele discurso de pé de ouvido que a essa altura do campeonato qualquer um poderia se dar ao luxo de, no mínimo, exercitar. Ficar mandando recadinho em papel de quinta categoria por meios escusos é difícil.

Agora, vamos combinar que, se no bar já é difícil, imagina em um café? Era de madrugada, em um bairro agitado da vida noturna paulistana, mas mesmo assim eu e minha amiga fugimos mais do que prontamente: receber um telefone escrito mal e porcamente da garçonete da Ofner, constrangida e meia, foi o fim.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Micro-conto da Ostra

As ostras são moluscos bizarros. Dizem por aí que são afrodisíacos. Também já ouvi dizer que são responsáveis pela formação das pérolas: um organismo invasor conseguiria penetrar pela concha, tentando alojar-se no interior da ostra (a geleca), que instantaneamente produziria uma substância que incalacrasse o ser não identificado. Esse invólucro ficaria rígido com o passar do tempo, produzindo a tão estimada pérola. Que vai ser expelida para o mundo e se transformar em adorno feminino.

Moral (se é que existe uma): mesmo o ser mais fechado consegue produzir algo chique, luxuoso e bonito, ou até mesmo uma piada memorável. (Mais uma pérola de uma bocuda nata).

São Pedro disse: fica, minha filha!

Fui no final de semana para Ubatuba, aproveitar o clima estragado pelas previsões de tempo. Sacanagem da grossa desses metereólogos tentarem privar as pessoas da esperança e da existência real de um tempo bom. A gente vai por causa das companhias e acaba aproveitando tudo. Estou até com marcas de queimado, de tão bonita a segunda-feira.

Terça, aquele marasmo de arrumação de carro, dia feio. Dilúvios e tufões. E nós, mais do que prontamente, interpretamos os sinais divinos: fiquem na praia mais um dia, não vai fazer falta. Não só não fez falta como foi a recomendação geral da nação. Nada como poder se dar ao luxo de não pegar a marginal parada, alagada e o caos total.

Entalou? Gargareja!

Homens e mulheres costumam dizer que odeiam ex que corre atrás para chorar as pitangas e tentar acertar os ponteiros, que estão para lá de Bagdá. Briga entre pais e filhos, irmãos, casais, namorados está cheio de disse-que-disse e de outro dia você fez isso. Uma lavação total de roupa suja, uma tiração de esqueletos do armário.

Certas vezes eu sinto o desprazer de ter coisas entaladas na garganta. E aquela vontade de jogar na cara tudo que o outro fez ou deixou de fazer urge violentamente, de forma tão agressiva que derruba qualquer barreira de sanidade. As cartas e as mensagens saem mal escritas e passionais, um melodrama mexicano da pior espécie. As falas saem gaguejadas. Lágrimas escorrem, Maria do Bairro ganha vida e tudo dá errado. 

Por isso que, hoje em dia, o meu estoque de Listerine e Cepacol triplicou. Tem alguma coisa entalada na garganta? Gargareja primeiro, antes de sair botando a boca no trombone.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Tranquilidade Medicinal

Abri os olhos com a sensação de que o tempo está passando rápido demais. Sabe quando parece que as suas pálpebras se descolam num ímpeto um tanto quanto violento, antes mesmo do despertador e já é tarde? Para quê, eu não sabia ainda ao certo. Não adiantava se desesperar, o melhor era ser. Desliguei o carnaval que o meu celular iria fazer, me esparramei preguiçosamente e me ergui com um impulso. Tinha tempo e podia fazer tudo com classe, sem as correrias de sempre.

Fiquei fascinada com a rapidez com que a minha roupa foi escolhida e deslizou pelo corpo. Estava de bom humor, o calorzinho das 7 da manhã ainda tinha um quê do frescor da madrugada. Cheguei na faculdade, o professor tinha faltado e me ocorreu que estamos em setembro. O semestre ainda está começando e de forma atravancada.

Enquanto isso, a 25 de março já vende artigos de natal e as agências de viagem, pacotes de reveillon. Os outros já planejam o fim do ano. Faltam meses ainda. Pensei que essa sensação de que o tempo passa rápido tem mais a ver com os outros, do que comigo mesma. Manter a tranquilidade é mesmo algo medicinal, além de um ato de rebeldia em prol do glamour cotidiano.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sinceridade Safada

Uma loira que conquista seus pretendentes da forma mais inesperada possível: anunciando publicamente sua qualidade mais nobre. Sinceridade, qualidade safada essa.

Contar Carneirinhos Caiu em Desuso

A insônia é um mal que nos acomete de tempos em tempos, trazendo à tona questões mal resolvidas, e nos proporciona altos monólogos. É quase um pré-requisito para o autoconhecimento. Talvez Paulo Coelho já tenha escrito algo sobre isso. Mas pode ser que tenha sido Melanie Clarke.

Normalmente, ela está associada a algum tipo de ansiedade. Na véspera da minha primeira viagem de avião, quando eu devia ter 7 anos, mal preguei os olhos só de imaginar e sonhar com como seria atravessar quilômetros no ar, lá em cima e chegar em um país de língua estranha. Ia ter neve, amigos e muitas aventuras de inverno.

A gente cresce e percebe que cresceu quando as insônias deixam de ser causadas somente por coisas positivas, sonhos e planos de futuro e passam a englobar preocupações mundanas (dinheiro, trabalho, contas, empréstimos) e problemas afetivos de qualquer natureza.

God save the Ipod! E as músicas clássicas, que parecem calar o turbilhão de pensamentos que monologa na cabeça e faz o corpo torcer e retorcer nos lençóis. Contar carneirinhos caiu em desuso, era realmente ineficaz. Um método arcaico que só adicionava mais uma voz ao fluxo desenfreado.
 
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