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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Em uma tarde...

Em uma tarde ela sentou-se e leu Adorno falar bem de Paul Valéry, achando digna a defesa da razão como emancipação do homem e superação da barbárie. Na mesma tarde, leu um email em inglês falando sobre a possibilidade de fazer um intercâmbio ou um doutorado nos Grandes Lagos. Teve de ler, ainda, a apostila de latim porque não tinha ido bem na primeira e precisava passar de ano. Línguas mortas não era sua praia, assim como a de muitos outros estudantes de letras que, no auge do pragmatismo contemporâneo, não viam utilidade nenhum em saber o significado de "alea jacta est". Enquanto isso, pensava no post que escreveria no blog, nos tweets a serem escritos e em outros tantos que estaria deixando de retransmitir.

Olha que sentada na cadeira da minha sala eu dei à volta ao mundo em uma tarde, e ninguém ficou sabendo. Não teve documentário nem reportagem que desse conta do que ela havia vivido. O sol se pôs e a vida apenas começou...
 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O mundo da teconologia nos reserva cada supresa!

Um GPS pode parecer um aparelho inocente, um mero apontador de caminhos para quem prefere não se arriscar em veredas desconhecidas, mas pouca gente sabe do seu potencial assustador. Uma amiga minha vivenciou a cena, e eu posso jurar que ela ficou marcada para a vida. O GPS pode ser traumatizante. 


O taxista esperava que minha amiga colocasse cartão, dinheiro e carteira dentro da bolsa para ela sair do carro e ele poder prosseguir sua viagem. Nada mais básico, não fosse a ansiedade do motorista falar mais alto. Ele ligou o GPS, que também tinha função de televisão, e acabou transmitindo para os membros do carro um filme pornô. Chiadinhos, gritinhos e todos os clichês possíveis começaram a ressoar e, embora ele tivesse demorado um pouco para se tocar, ficou envergonhado e buscou repetidamente apertar qualquer botão que desligasse a máquina. Não funcionou, nada dá certo nessas horas. 

A melhor coisa que minha amiga fez foi sair correndo de uma vez, ainda meio desajeitada, e me ligar. Nessas horas, nada como alguém que ouça e ria da desgraça alheia, para que o evento seja banalizado e vire piada para todos, inclusive para quem viveu o momento desconcertante.

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Jangada de Pedra, um conceito estupendo

O lançamento do documentário "José e Pilar", no último dia 16, coincidiu com a minha leitura de Jangada de Pedra, um romance de José Saramago publicado em 1986. 

Confesso que ainda não assisti ao documentário, por isso vou delinear apenas as linhas gerais. Projeto realizado pela O2 produtora, o filme retrata o cotidiano e a intimidade do escritor José Saramago e sua esposa, Pilar del Rio. O diretor é o português Miguel Gonçalvez Mendes e sua intenção é retratar o amor de José e Pilar, como sugere o título, partindo da criação do romance "A viagem do Elefante", de 2008, até o seu lançamento no Brasil. Foram três anos de filmagem. Super vontade de assistir!

Voltando ao romance Jangada de Pedra, o motivo principal deste texto... A história em si tem alguns dos aspectos tradicionais de Saramago, como em Ensaio sobre a Cegueira ou Ensaio sobre a Lucidez. Uma situação incomum, de raízes fantásticas, causa uma reorganização social. O foco da narrativa é o processo, a transformação, representada pelas ações de um grupo de personagens e pela intrusão de um narrador onisciente, onipresente, digressivo. A história do livro em questão é a separação da Peníncula Ibérica do resto da Europa e sua movimentação ao longo do oceano. 

A nova ilha acaba por descer e aportar no oceano Atlântico, entre África e América do Sul. Fica indicada a posição política do escritor, mostrando as aproximações culturais e sociais entre países colonizadores e suas ex-colônias. A proximidade deveria ser valorizada, na perspectiva de Saramago, em oposição à tão celebrada participação de Portugal na Comunidade Econômica Européia, acontecida na década de 80. Ao invés de perseguir um paradigma destoante, o livro defende essa aproximação com África e América do Sul como uma forma de transformação social e perpetuação da espécie. 

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Experiências Poéticas II

É pior do que parecia, tive uma segunda epifania e aqui está, outra poesia:

Acordei perguntando quantas andorinhas fariam um verão.
E quantos sonhadores tecem o presente?
E quantos galos tecem a manhã? 
5, 10, 350.
Tomei um café com pão na chapa na padaria da esquina. 
Ele cruzou meu caminho
E tudo entrou em colapso.
Como é duro ser medíocre.

 

Experiências Poéticas I

Escrever poesia nunca foi meu forte, mas acontece que de vez em quando bate um negócio e quando eu vejo ela já está pronta. Querem ver?

As ruas arrastaram a noite rangendo, 
remoendo as tragicidades cotidianas dessa era. 
O jornal chegava às bancas, as páginas atualizavam-se
e as flores eram pisoteadas pela mob. 
Blocos de gente saiam dos bueiros e dos metrôs, 
buscando os parafusos a serem apertados. 
Um homem dormia na sargeta, alheio.
Jazia um sorriso machadiano em seus lábios
e um grito sufocado no peito. 
Sua língua sangrou, 
mas o mundo acelerava-se ultramodernamente. 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mano, que delícia viver As Melhores Coisas do Mundo!

Filme brasileiro nem sempre é a primeira escolha na hora de alugar um dvd, mas dessa vez abri uma excessão porque ouvi falar muito bem de "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanski. Em um primeiro momento, achei a narrativa muito básica e clichê, nada de muito novo. Depois, meu pai fez um comentário que me chamou a atenção. Ele disse que os problemas adolescentes retratados no filme seguiam os mesmos padrões, repetiam as histórias da minha adolescência, da minha escola, de como eu era. 

Parando para pensar, a história realmente poderia ter acontecido na minha escola. O estilo descoladinho do personagem principal, Mano, que aprende a tocar violão e canta para sua amada é clichê. O preconceito na escola e a forma como alguns estudantes se organizam em torno do grêmio, lutam pelo que acreditam e tem a coragem de mudar de idéia, tudo me fez lembrar os anos de Vera Cruz e as infindáveis discussões sobre drogas, sexualidade e liberdade. Talvez essa leitura seja só um reflexo nostálgico do encontro de 10 anos de formado na 8a série, promovido por alguns amigos e colegas de turma, que aconteceu 2 semanas atrás. Vai saber...

No entanto, o que me restou depois do filme foram todas as minhas reminescências, todas as lembranças dos perrengues e das aventuras, das músicas e das discussões, os primeiros beijos e as brigas. A história pode ser clichê, mas o filme me permitiu lembrar e refletir sobre o que passou de uma forma gostosa, saudosista, bonita. Ficou a impressão de que na adoslescência eu vivi as melhores coisas do mundo e foi delicioso, mesmo nos piores momentos. Esse estranhamento foi a grande conquista do filme, aquilo que faz dele uma obra de arte digna de ser assistida.  #ficadica

Manifestações bizarras de fim de solteirice. Pra quê???

Enquanto bebia uma caipirinha entre amigas, no Genésio, a mesa ao lado foi devastada por uma horda de mulheres com boá, urrando aos quatro ventos: "ada, a-ada, a X (nome da desconhecida que não me dignei a lembrar) tá desencalhada". 

A mulher está na despedida de solteira, indo de bar em bar, de mesa em mesa. Está prestes a casar e pensando no fato de estar desencalhada e não necessariamente de ter encontrado um cara legal, uma relação madura. Manja, cadê o amor na parada toda? Desencalhar virou sinônimo de amar alguém ou é simplesmente uma forma de dizer: não sou mais sozinha no mundo? Afinal, que medo é esse da solidão? A gente fica, namora, se junta, casa por causa da relação ou por que não quer mais dormir em uma cama de solteira? Afe, que inversão de valores. Como é chato ser medíocre. A opinião geral das minhas amigas era de que tal palhaçada não era para gente. 

Um tempo depois, fiquei imaginando quantas pessoas não pensariam da mesma forma que aquelas mulheres, mas não tinham coragem de admitir. Muito menos de gritar aos quatro ventos. Mudei de idéia, achando que no fundo a noiva estava sendo corajosa ao escancalhar a verdade: talvez tenhamos ficado pragmáticos demais, a ponto de achar que a funcionalidade de uma relação é mais importante que as emoções, sentimentos e sonhos que são intrinsecos a ela.

Por um pouco de paz e harmonia





Ações como essas fazem a gente pensar que o mundo em que vivemos pode ter um monte de coisa errada, mas esse é só um lado da moeda.

( As fotos foram copiadas do site do Globo.com: Manifestação em Belize prega por 'harmonia' entre humanos e natureza

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Final de ano, e daí?

Podia jurar que eu tinha me transformado em rolo de macarrão, de tanto ir e vir. Era o travesseiro que não estava na altura certa, o olho que se recusava em fechar, o cobertor que estava quente demais. A cabeça não queria desligar, de jeito nenhum. Os pensamentos mais inusitados corriam na velocidade da luz, passavam e retornavam com força total. 

Tanta coisa e nada, ao mesmo tempo. Há meses que estava dormindo bem, obrigada, até descobrir um dia desses todas as mudanças que o próximo semestre prenuncia. Final de mestrado em março, final de bolsa de mestrado, desemprego... e por ai vai. Será que eu comprava um passarinho, uma bicicleta ou fazia um blog mais profissional e menos pessoal? Será que eu tenho corpo (físico e intelectual, veja bem) para partir pro mundo encabeçando algo sozinha? Aja coragem!


Assisti um filme que falava da minha geração, os millennials, e senti que eu podia fazer qualquer coisa que quisesse. Preocupações com carreira pareceram desnecessárias, já que o que realmente importa é estar fazendo o que se gosta para conseguir o seu lugar ao sol.

We All Want to Be Young (leg) from box1824 on Vimeo.


Vídeos e emoções impulsivas a parte, dentre todas as idéias que eu cogitei fazer, dentre todas as coisas que eu imaginei naquela noite de insônia, o que mais me alegrou foi perceber que eu tenho um mundo de possibilidades. E alguns meses, para decidir.
 
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