Enquanto bebia uma caipirinha entre amigas, no Genésio, a mesa ao lado foi devastada por uma horda de mulheres com boá, urrando aos quatro ventos: "ada, a-ada, a X (nome da desconhecida que não me dignei a lembrar) tá desencalhada".
A mulher está na despedida de solteira, indo de bar em bar, de mesa em mesa. Está prestes a casar e pensando no fato de estar desencalhada e não necessariamente de ter encontrado um cara legal, uma relação madura. Manja, cadê o amor na parada toda? Desencalhar virou sinônimo de amar alguém ou é simplesmente uma forma de dizer: não sou mais sozinha no mundo? Afinal, que medo é esse da solidão? A gente fica, namora, se junta, casa por causa da relação ou por que não quer mais dormir em uma cama de solteira? Afe, que inversão de valores. Como é chato ser medíocre. A opinião geral das minhas amigas era de que tal palhaçada não era para gente.
Um tempo depois, fiquei imaginando quantas pessoas não pensariam da mesma forma que aquelas mulheres, mas não tinham coragem de admitir. Muito menos de gritar aos quatro ventos. Mudei de idéia, achando que no fundo a noiva estava sendo corajosa ao escancalhar a verdade: talvez tenhamos ficado pragmáticos demais, a ponto de achar que a funcionalidade de uma relação é mais importante que as emoções, sentimentos e sonhos que são intrinsecos a ela.
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