Páginas

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dramas de Verão

Já me falaram que amor de praia não sobe serra, mas essas frases nunca tiveram grande efeito em mim. Já namorei um menino da minha escola depois que a gente começou a se encontrar na Praia Vermelha. É um lugar lindo, você já esteve lá? A praia tem um ar antigo, cercada por árvores, amendoeiras, um clima ainda de preservação ambiental. As ruas são de areia, isso pra mim é o máximo do retrô-chique-sustentável. Dizem que só tem arquiteto por lá, o que é bem possível. Se daquela vez o amor subiu a serra e a gente foi feliz por três meses, dessa vez a possibilidade de dar certo de novo é grande. As cartas me dizem: 70% de chance de dar certo. Acho justo, está chovendo e não tem nada para fazer na praia, a não ser olhar o relógio e buscar respostas nas cartas de baralho. Elas são sempre razoáveis. 

Queria muito que desse certo com o Gabriel. Uma amiga nossa, a Bianca, me disse que ele está de verdade a fim de mim. Sabe, tipo, pronto pra me pedir em namoro. Ele só não disse nada ainda porque está com medo da minha reação e tentando evitar ter que encontrar com o meu pai, ele é bem bravo. O Gabriel é muito inteligente, ele lê as pessoas. Ainda bem que ele já perecebeu algumas coisinhas do meu pai...Ele pode ser bem ciumento com os meus namorados, o Pedro (meu ex) , que o diga. Mesmo assim, eu queria que ele me pedisse logo!

Outro dia estava na praia, esperando a Bianca e o Gabriel chegarem. Eles são vizinhos e estão sempre juntos. Às vezes eu fico com ciúmes, mas só as vezes. Quando eles chegaram estavam rindo de alguma coisa, nunca me contaram o que era. Achei que ele estava um pouco mais distante, mas ele me deu um beijo do mesmo jeitinho de sempre e eu deixei qualquer dúvida de lado. Será que daqui a duas semanas, quando a gente voltar pra São Paulo e ele não tiver que encontrar meu pai todo dia na praia, ele vai ter coragem e pedir logo? 



 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Coisas de final de ano

Quando meu marido desmaiou vestido de Papai Noel, durante o Natal do ano passado, eu não poderia saber tudo que estava por vir nesses próximos meses. A internação, a recuperação, a fisioterapia, a fonoaudióloga. Tanta gente entrou e saiu da minha casa, cada um com uma receita mágica ou um remedinho santificado por João de Deus, o Papa ou qualquer outra eminência espiritual. Eu, que nunca acreditei em muita coisa, passei a agarrar qualquer fio de esperança que caisse no meu colo. Era fitinha do bonfim, crucifixo do Vaticano, água benta, rosário pra cá e pra lá o dia todo. 

E o tempo foi passando, essas coisas todas viram rotina. A doença vira rotina e a gente se acostuma com a companhia da enfermeira. A única coisa que não me parece natural é ele, deitado, vazio e mudo. As vezes eu converso esperando que ele me responda, mas isso nunca acontece e o buraco vai crescendo. Eu queria que terminasse, porque esse luto está se estendendo sem motivo. Milagre só acontece ao longe, por mais que a fé aqui seja grande.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Urgências

Promessas foram feitas na noite de 21 de janeiro de 1997. Eu não me lembro exatamente quais, mas aparentemente tenho algo a cumprir, e a incerteza só me corrói. Talvez eu tenha prometido ao meu marido cozinhar todas as noites, mas isso é impossível. Chego em casa sem fôlego, buscando ar e descanso. Nem jornal eu gosto de assistir, porque me faz pensar nas porcarias que acontecem pelo mundo: terremotos, escândalos de corrupção, fome, desastre, violência, morte, política, morte. E ainda tem aquele moço que acha que é arauto do caos, vestido de terno preto, clamando contra a desordem e a favor de uma ordem que eu nunca vi existir em sociedade nenhuma, na história da humanidade. 

Posso ter prometido ir atrás de algum sonho que se perdeu no tempo, entre uma mensagem de texto e um tweet. Quem sabe quem eu era 13 anos atrás? O que eu queria ou deixava de querer. Nem me lembro mais. Aconteceu o que aconteceu e hoje estou aqui, na vida pequena, nos detalhes do cotidiano, presa a determinação do que seriam as escolhas lexicais infelizes e correções de postura. 

Um cachorro, eu queria um cachorro. Prometi tomar conta dele como se ele fosse gente, mas ele teve câncer ano passado e tivemos que sacrificar o bichinho. Mas essa não era a promessa principal, acho que era parte dela. Eu preciso saber qual era a promessa, para ter certeza de que ela foi cumprida e que tudo está dando errado não porque eu fui negligente, mas porque assim estava predestinado, fadado a ser.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Vai

Mulher é foda. A gente dá o braço, o drink, faz a noite delas e elas já estão pensando no amanhã. O amanhã não existe, gata! Existe o hoje, o nosso desejo imenso, o ardor de te querer, a surpresa de te ter... Existe o nosso toque suado, a borracha entre as suas coxas. Eu te amo por uma noite e mais coisas não posso prometer, eu mal te conheço. Por que tudo tem que ser tão definido? Não existe receita, defrute enquanto pode. 

Um dia qualquer, quando alguém mexer no meu criado-mundo, vai encontrar uma foto nossa. A mesma foto que você postou no facebook e eu falei que não era para você ter feito isso. Foi um passo maior que a perna, eu tinha acabado de te conhecer. Aquela foto do beijo, lindo. E nós nunca estivémos tão bem quando na noite em que nos conhecemos. Eu queria ter ficado só nisso, mas você tinha um jeito de ir atrás do que queria e me venceu. A gente saiu algumas vezes mais e você foi me conquistando, mas eu ainda não estava pronto para o que você queria. 

Eu ainda vou querer o que você quer. Uma mulher ainda vai mexer com o meu plano de vida só no balançar das ancas. Por enquanto, as fotos no criado-mudo vão se acumulando. Eu quero experiências, aventuras, novidades. Eu quero viver e seus planos me sufocam. 
E você, por que eu? Larga de besteira e vai correr o mundo, eu não sou suficiente para você. Você quer mais do que eu posso dar, não se afobe que outros virão para preencher o vazio. Um dia, quem sabe, dá certo. Promete uma coisa? Promete que não vai fazer o tipo amargurado que desacredita no amor, não combina com você. Você é do tipo que, não só acredita, como vai atrás. Então, vai...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um bom papo, uma boa foda

Ele pegou na minha mão, do seu cigarro pendia uma fileira de cinzas, e me olhou demoradamente. Esperava uma reação, uma denúncia qualquer, que não veio. Eu não posso me dar ao luxo de ter reações espontâneas. Tudo é milimetricamente pensado: eu sento no bar, peço um whisky. Ele vai durar a noite inteira, o tempo de alguém chegar em mim e puxar conversa. Eu falo que sou escritora, digo o título do meu único livro, o qual ele desconhece, e quem sabe, se for um gentleman, ele me paga outro whisky. Faço perguntas, gracejos, provoco. Mas isso é muito plástico. 

Eu queria mesmo que, um dia, alguém tentasse me beijar de cara, sem esses papinhos furados, chavecos toscos ou mentiras calculadas. O dia que alguém fizesse isso, eu ia acreditar na sua sinceridade e confiar a minha vida. Como ninguém nunca fez, eu continuo enrolando os homens que passam, batendo os cílios e soltando jargões nos balcões de bar, porque eu sei que é isso que eles querem. Um bom papo, uma boa foda.

 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Não posso mais nem olhar!

Peguei nojinho. Não consigo vislumbrar mais o que distingue o texto de mim. As alterações foram tantas que não me posiciono como um leitor objetivo, mas sim como alguém subjetivamente imbricado no texto. Mexer mais um pouco implica em fazer uma plástica, colocar silicone, botox e fazer preenchimento de rugas. 

Se algum dia ele quiser me representar, vai precisar estar bem vestido. Chique, simples e delicado. Bem construído, milimetricamente arquitetado, repleto de requintes de bom gosto que  prezam pela acuidade da informação, não tanto pela estética. São usos funcionais da linguagem, voltados para construção precisa do gênero. Não é fazer uma enumeração caótica de referências que só fazem com que eu ganhe respeito dos deslumbrados, mas perca qualidade frente os críticos.Muito pelo contrário, o objetivo é impactar pela concisão. 

O texto ficou duas semanas na gaveta, como quem vive no submundo para poder respirar. Enquanto isso, distraí a todos com um olhar de cansaço pedante, uma cara estóica de heroísmo intelectual. Quem acreditou na palhaçada, mal sabia que sem o texto eu virara bobo da corte.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Grandes idéias, pequenos obstáculos

Outro dia eu podia jurar que tinha tido a idéia da vida, a idéia que ia me valer o best seller cult de uma vida. Mas, como eu não parei o carro para anotar nada, ela se perdeu no arcabouço de rastros de pensamento não concretizados. Tenho muito disso. Ainda nesse ano, numa terça-feira a noite, outra idéia igualmente perfeita me escapou durante a aula de latim.

Decidi que da próxima vez vou estar preparada para esperá-la. Ela vai passar por mim como quem nâo quer nada e eu vou deixar. Ela vai voltar com toda força e eu vou abraça-la, apertá-la, conhecê-la pelo tato e pelo olfato. Depois que eu já tiver alguma familiaridade com a tal idéia, ai sim, ela se transforma em uma breve anotação perdida em um canto de página de um caderno. O próximo obstáculo será reter o caderno no meu quarto. Posso jurar que os meus cadernos são rebeldes e preferem a luz do sol.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O cochicho dos sonhos

Tem um sonho que anda rondando o meu travesseiro, sussurrando coisas no meu ouvido em plena madrugada. Posso jurar que alguém entrou no meu quarto e começou a conversar comigo, eu fico ouvindo umas vozes quando estou sonhando. Tudo meio que se mistura, o sonho plantado, a voz que planta o sonho, o meu sono absurdo. Final de ano é dureza, tem happy hour da empresa, festinha de final de ano de ex-colegas, umas babaquices dessas que a gente prende o sorriso na orelha, usando fio dental, e aproveita o álcool. Dead end.

O sonho me diz que eu preciso fazer uma coisa por mim. Não sei muito bem o que ele quer dizer com isso, tudo que eu faço é por mim. Quem sabe ele está me avisando que eu não posso mais me anular, que eu preciso ter auto-estima forte e brigar pelo que eu quero na vida? Não, não creio que seja isso. Talvez ele esteja transmutando tudo e reafirmando o que eu sou, para que eu me negue. Sabe? Sonho esperto esse. Mas, o mais provável mesmo, é que o sonho esteja me dizendo o quanto amar a mim mesmo está relacionado ao complexo de édipo. Acho que Freud me induziria a chegar a essa conclusão e, em seis meses, estaria curada. 

De minha parte, o sonho que se liche. Ele diz, mas eu nunca escuto.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Verborragia acontece

O que não cabe em mim, transborda para o papel. Bocudice master, funciona como incontinência urinária. Quando eu vejo, o texto já tá no papel, link no twitter. Tudo pronto para ser massacrado. Essa verborragia só faz bem a mim, a pessoa que expele e expurga e lava. E os outros, que se lichem, eles não são o inferno? Meio feio falar isso, mas não é meu, é do Sartre. Ele disse primeiro e todo mundo deslanchou a citar, com nariz em pé e pincé-nez no bolso, cigarro na mão e ar displicente. Blasé. Depois os citadores viraram marxistas, hoje em dia usam a camiseta do Che Guevara e fazem a revolução na universidade, dentro das faculdades de ciências humanas, jornalismo, letras. Se bem que a camiseta do Guevara já virou clichê. De qualquer forma, eu sei que os citadores escrevem seus poemas toscos no moleschine comprado em Paris, no inverno anterior, e falam mal do capitalismo. Um dia eles aprendem que o seu contradiscurso também faz parte do sistema. 


Mas quem sou eu para dizer alguma coisa? Saí desembestada tirando algo de mim e atirando na cara dos outros. Justo uma  jornalista, que aprende que os leitores são tudo e você sempre fala pra eles, senão perde dinheiro, sair falando assim. Tá certo? 

Reformas

Não saberia dizer o que incomodava mais: o barulho das máquinas ou a presença de pedreiros na sua casa. Deixavam marcas nas paredes e ninguém sabia exatamente para quê tanta violência ao marretar as calhas. Tudo em prol da estética e da boa aparência, sabe? Aquele ar de casa cuidada e vida nova. Quem sabe essa reforma toda não fosse como tratamento de canal, a gente tira o nervo mas deixa vivo. Sensível, mas vivo.

Às vezes é preciso transformar para transcender. Que pérola, não? Que eu gostava do jeito de antes, ah eu gostava. A casa era sinônimo de mim e estava tudo uma beleza. Agora eu preciso aprender a ser sinônimo dela, ou me emancipar de uma vez.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Em uma tarde...

Em uma tarde ela sentou-se e leu Adorno falar bem de Paul Valéry, achando digna a defesa da razão como emancipação do homem e superação da barbárie. Na mesma tarde, leu um email em inglês falando sobre a possibilidade de fazer um intercâmbio ou um doutorado nos Grandes Lagos. Teve de ler, ainda, a apostila de latim porque não tinha ido bem na primeira e precisava passar de ano. Línguas mortas não era sua praia, assim como a de muitos outros estudantes de letras que, no auge do pragmatismo contemporâneo, não viam utilidade nenhum em saber o significado de "alea jacta est". Enquanto isso, pensava no post que escreveria no blog, nos tweets a serem escritos e em outros tantos que estaria deixando de retransmitir.

Olha que sentada na cadeira da minha sala eu dei à volta ao mundo em uma tarde, e ninguém ficou sabendo. Não teve documentário nem reportagem que desse conta do que ela havia vivido. O sol se pôs e a vida apenas começou...
 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O mundo da teconologia nos reserva cada supresa!

Um GPS pode parecer um aparelho inocente, um mero apontador de caminhos para quem prefere não se arriscar em veredas desconhecidas, mas pouca gente sabe do seu potencial assustador. Uma amiga minha vivenciou a cena, e eu posso jurar que ela ficou marcada para a vida. O GPS pode ser traumatizante. 


O taxista esperava que minha amiga colocasse cartão, dinheiro e carteira dentro da bolsa para ela sair do carro e ele poder prosseguir sua viagem. Nada mais básico, não fosse a ansiedade do motorista falar mais alto. Ele ligou o GPS, que também tinha função de televisão, e acabou transmitindo para os membros do carro um filme pornô. Chiadinhos, gritinhos e todos os clichês possíveis começaram a ressoar e, embora ele tivesse demorado um pouco para se tocar, ficou envergonhado e buscou repetidamente apertar qualquer botão que desligasse a máquina. Não funcionou, nada dá certo nessas horas. 

A melhor coisa que minha amiga fez foi sair correndo de uma vez, ainda meio desajeitada, e me ligar. Nessas horas, nada como alguém que ouça e ria da desgraça alheia, para que o evento seja banalizado e vire piada para todos, inclusive para quem viveu o momento desconcertante.

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Jangada de Pedra, um conceito estupendo

O lançamento do documentário "José e Pilar", no último dia 16, coincidiu com a minha leitura de Jangada de Pedra, um romance de José Saramago publicado em 1986. 

Confesso que ainda não assisti ao documentário, por isso vou delinear apenas as linhas gerais. Projeto realizado pela O2 produtora, o filme retrata o cotidiano e a intimidade do escritor José Saramago e sua esposa, Pilar del Rio. O diretor é o português Miguel Gonçalvez Mendes e sua intenção é retratar o amor de José e Pilar, como sugere o título, partindo da criação do romance "A viagem do Elefante", de 2008, até o seu lançamento no Brasil. Foram três anos de filmagem. Super vontade de assistir!

Voltando ao romance Jangada de Pedra, o motivo principal deste texto... A história em si tem alguns dos aspectos tradicionais de Saramago, como em Ensaio sobre a Cegueira ou Ensaio sobre a Lucidez. Uma situação incomum, de raízes fantásticas, causa uma reorganização social. O foco da narrativa é o processo, a transformação, representada pelas ações de um grupo de personagens e pela intrusão de um narrador onisciente, onipresente, digressivo. A história do livro em questão é a separação da Peníncula Ibérica do resto da Europa e sua movimentação ao longo do oceano. 

A nova ilha acaba por descer e aportar no oceano Atlântico, entre África e América do Sul. Fica indicada a posição política do escritor, mostrando as aproximações culturais e sociais entre países colonizadores e suas ex-colônias. A proximidade deveria ser valorizada, na perspectiva de Saramago, em oposição à tão celebrada participação de Portugal na Comunidade Econômica Européia, acontecida na década de 80. Ao invés de perseguir um paradigma destoante, o livro defende essa aproximação com África e América do Sul como uma forma de transformação social e perpetuação da espécie. 

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Experiências Poéticas II

É pior do que parecia, tive uma segunda epifania e aqui está, outra poesia:

Acordei perguntando quantas andorinhas fariam um verão.
E quantos sonhadores tecem o presente?
E quantos galos tecem a manhã? 
5, 10, 350.
Tomei um café com pão na chapa na padaria da esquina. 
Ele cruzou meu caminho
E tudo entrou em colapso.
Como é duro ser medíocre.

 

Experiências Poéticas I

Escrever poesia nunca foi meu forte, mas acontece que de vez em quando bate um negócio e quando eu vejo ela já está pronta. Querem ver?

As ruas arrastaram a noite rangendo, 
remoendo as tragicidades cotidianas dessa era. 
O jornal chegava às bancas, as páginas atualizavam-se
e as flores eram pisoteadas pela mob. 
Blocos de gente saiam dos bueiros e dos metrôs, 
buscando os parafusos a serem apertados. 
Um homem dormia na sargeta, alheio.
Jazia um sorriso machadiano em seus lábios
e um grito sufocado no peito. 
Sua língua sangrou, 
mas o mundo acelerava-se ultramodernamente. 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mano, que delícia viver As Melhores Coisas do Mundo!

Filme brasileiro nem sempre é a primeira escolha na hora de alugar um dvd, mas dessa vez abri uma excessão porque ouvi falar muito bem de "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanski. Em um primeiro momento, achei a narrativa muito básica e clichê, nada de muito novo. Depois, meu pai fez um comentário que me chamou a atenção. Ele disse que os problemas adolescentes retratados no filme seguiam os mesmos padrões, repetiam as histórias da minha adolescência, da minha escola, de como eu era. 

Parando para pensar, a história realmente poderia ter acontecido na minha escola. O estilo descoladinho do personagem principal, Mano, que aprende a tocar violão e canta para sua amada é clichê. O preconceito na escola e a forma como alguns estudantes se organizam em torno do grêmio, lutam pelo que acreditam e tem a coragem de mudar de idéia, tudo me fez lembrar os anos de Vera Cruz e as infindáveis discussões sobre drogas, sexualidade e liberdade. Talvez essa leitura seja só um reflexo nostálgico do encontro de 10 anos de formado na 8a série, promovido por alguns amigos e colegas de turma, que aconteceu 2 semanas atrás. Vai saber...

No entanto, o que me restou depois do filme foram todas as minhas reminescências, todas as lembranças dos perrengues e das aventuras, das músicas e das discussões, os primeiros beijos e as brigas. A história pode ser clichê, mas o filme me permitiu lembrar e refletir sobre o que passou de uma forma gostosa, saudosista, bonita. Ficou a impressão de que na adoslescência eu vivi as melhores coisas do mundo e foi delicioso, mesmo nos piores momentos. Esse estranhamento foi a grande conquista do filme, aquilo que faz dele uma obra de arte digna de ser assistida.  #ficadica

Manifestações bizarras de fim de solteirice. Pra quê???

Enquanto bebia uma caipirinha entre amigas, no Genésio, a mesa ao lado foi devastada por uma horda de mulheres com boá, urrando aos quatro ventos: "ada, a-ada, a X (nome da desconhecida que não me dignei a lembrar) tá desencalhada". 

A mulher está na despedida de solteira, indo de bar em bar, de mesa em mesa. Está prestes a casar e pensando no fato de estar desencalhada e não necessariamente de ter encontrado um cara legal, uma relação madura. Manja, cadê o amor na parada toda? Desencalhar virou sinônimo de amar alguém ou é simplesmente uma forma de dizer: não sou mais sozinha no mundo? Afinal, que medo é esse da solidão? A gente fica, namora, se junta, casa por causa da relação ou por que não quer mais dormir em uma cama de solteira? Afe, que inversão de valores. Como é chato ser medíocre. A opinião geral das minhas amigas era de que tal palhaçada não era para gente. 

Um tempo depois, fiquei imaginando quantas pessoas não pensariam da mesma forma que aquelas mulheres, mas não tinham coragem de admitir. Muito menos de gritar aos quatro ventos. Mudei de idéia, achando que no fundo a noiva estava sendo corajosa ao escancalhar a verdade: talvez tenhamos ficado pragmáticos demais, a ponto de achar que a funcionalidade de uma relação é mais importante que as emoções, sentimentos e sonhos que são intrinsecos a ela.

Por um pouco de paz e harmonia





Ações como essas fazem a gente pensar que o mundo em que vivemos pode ter um monte de coisa errada, mas esse é só um lado da moeda.

( As fotos foram copiadas do site do Globo.com: Manifestação em Belize prega por 'harmonia' entre humanos e natureza

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Final de ano, e daí?

Podia jurar que eu tinha me transformado em rolo de macarrão, de tanto ir e vir. Era o travesseiro que não estava na altura certa, o olho que se recusava em fechar, o cobertor que estava quente demais. A cabeça não queria desligar, de jeito nenhum. Os pensamentos mais inusitados corriam na velocidade da luz, passavam e retornavam com força total. 

Tanta coisa e nada, ao mesmo tempo. Há meses que estava dormindo bem, obrigada, até descobrir um dia desses todas as mudanças que o próximo semestre prenuncia. Final de mestrado em março, final de bolsa de mestrado, desemprego... e por ai vai. Será que eu comprava um passarinho, uma bicicleta ou fazia um blog mais profissional e menos pessoal? Será que eu tenho corpo (físico e intelectual, veja bem) para partir pro mundo encabeçando algo sozinha? Aja coragem!


Assisti um filme que falava da minha geração, os millennials, e senti que eu podia fazer qualquer coisa que quisesse. Preocupações com carreira pareceram desnecessárias, já que o que realmente importa é estar fazendo o que se gosta para conseguir o seu lugar ao sol.

We All Want to Be Young (leg) from box1824 on Vimeo.


Vídeos e emoções impulsivas a parte, dentre todas as idéias que eu cogitei fazer, dentre todas as coisas que eu imaginei naquela noite de insônia, o que mais me alegrou foi perceber que eu tenho um mundo de possibilidades. E alguns meses, para decidir.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sabiaguara merece um adendo

Sabiaguara é o nome de uma praia de pescadores localizada a mais ou menos 15 quilometros do centro de Fortaleza. Para chegar lá, atravessamos a cidade, pegamos uma estrada que mais parece a marginal pinheiros (mas é estrada, não avenida) e depois andamos por umas ruinhas locais todas esburacadas. 

A tal estrada era cercada por lojas, shoppings e supermercados. Construções um tanto megalomaníacas, mas olha quem diz, eu sou de São Paulo. O limite de velocidade era 60km por hora, por causa do grande tráfego de pessoas, ônibus e carros. A cada quarteirão, um semáforo. Larga como a Marginal Pinheiros e tão movimentada quanto. Bom, pode ser que a parte do movimento seja um exagero, mas os semáforos faziam com que longas filas de carros parassem de vez em quando, o que me chamou a atenção e fez lembrar do trânsito de São Paulo. Saudade? Obviamente, não. 

O GPS nos mandou virar a esquerda, pegar um contorno e cair no meio de um bairro de casas simples, ruas estreitas e mal pavimentadas. O asfalto já estava ondulado, velho. Pequenas lojinhas populares se estendiam às margens do asfalto, com bancas de havaianas. Mini mercadinhos vendiam bolachas, leite, pão, frutas, legumes e Ypióca. Todos os bares traziam a marca estampada nas suas paredes ou placas.




Estávamos na Rua Sabiaguara quando, de repente, as dunas tomaram o asfalto e a estrada virou areia branca e fofa. Meu namorado, gringo e acostumado com a civilização, achou aquilo tudo muito exótico e começou a duvidar do poder do nosso carro 1.0. Vários carros passavam pela gente e ele começou a acreditar que dava jeito, era só sair desviando dos buracos sem se importar muito com a mão. Se tivesse que atravessar para a esquerda e dar de cara com outro carro, seria parte da aventura. 


As dunas estavam à nossa direita, lindas e imponentes. Um monte de areia branca que cegava qualquer um que não usasse óculos escuros. Uma beleza e imensidão azul, inesperadas, nos deixaram de queixo caído. Paramos o carro, andamos um pouco a beira mar, mas a falta de infra-estrutura nos impediu de ficar mais tempo. Aquele sol de rachar pedia água, qualquer coisa para beber, e a gente tinha ido desprevenido.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Frutos do mar a preços acessíveis e outras comidas de Fortaleza

Toda região de praia, por si só, já possui frutos do mar a preços mais acessíveis que os de São Paulo. Aliás, em qualquer lugar do Brasil é possível comer bem e pagar bem menos do que estamos acostumados nessa metrópole cinza, mas isso é só uma observação a parte. 


A verdade é que todo mundo ficou de queixo caído quando eu disse que as lagostas custavam 20 reais em um boteco estilo Vila Madalena, de frente pro mar, no começo da Avenida Beira Mar (em Fortaleza, ainda... vai render alguns posts essa viagem.). O nome do bar é Boteco Praia. Apesar da cerveja ser cara, cerca de 9 reais a garrafa, as caipirinhas eram mais ou menos o mesmo preço. Normalmente já sou mais da vodka, por gosto e por causa das calorias, ainda mais quando o preço é o mesmo e, tendo São Paulo como base, é barato. Nós almoçamos lagostas grelhadas na brasa com arroz de camarão e foi delícia dos deuses. 


Outro lugar onde comemos muito bem, mais chique e mil vezes mais caro, foi no restaurante Vojnilo. A casa tinha um estilo estranho, com paredes de pedra verde acinzentada, garrafas espalhadas pelas paredes beges. Era decorada com motivos naúticos, como timões e nós. Fica em uma região boêmia, de mesmo nome. Na mesma rua, um restaurante atrás do outro. O menu era bem diversificado e cheio de combinações atraentes. Acabei pedindo o trio: peixe, camarão e lagosta, acompanhado de arroz a grega. Sucesso puro! Mas, depois, veio a facada. Oh, well, faz parte. A gente não sabia...


Na saída do Vojnilo, logo na esquina, tinha um restaurante que minha avó tinha comentado que era bom, o Colher de Pau. Achei simpático, o que foi motivo para voltar no dia seguinte e comer um daqueles pratos tradicionais do nordeste: paçoca, baião de dois e carne seca desfiada. Adorei o lugar, bem descontraído e sem pretensões, focado na qualidade da comida e do atendimento. Sabe como é? Não tinha a necessidade de ser chique para ser bom. 


Mais um lugar que entrou para a lista foi o Coco Bambu. Era noite, passeávamos de carro pela Avenida Beira Mar em busca de um Banco 24 horas. Quando, algumas curvas após a Feirinha de Artesanato, demos de cara com esse lugar lotado e de frente para o mar. Fechou balada e  eu não sabia nem o nome. Fui descobrir que era uma das indicações do Guia 4 Rodas que eu tinha anotado como Must Go! na hora de entregar o carro para o manobrista. Não desapontou, o ambiente era lindo, estilo clean e descolado phino. Madeiras e meia luzes, ar condicionado, tudo de bom. Comi maravilhosamente bem. 


A última descoberta gastronômica foi a sorveteria 50 Sabores. Ao longo da avenida Beira Mar tinham 3 ou 4 casas, todas elas da sorveteria, o que me fez acreditar que ela era boa, tradicional. A primeira impressão se mostrou perfeita, depois que eu entrei no lugar e experimentei o sorvete deles. Tinha uma lista de opções de sabores homérica: de caipirinha à negresco; de açaí à cerveja. Seriguela, bolacha e tangerina. Tantas opções que tivemos que voltar, para experimentar os outros. 

De braços abertos, Fortaleza nos recebe

Congresso para alguns se transforma em oportunidade de fazer turismo. Para outros, ficou impossível sair do hotel sem ter a companhia de outros congressistas, fato que fazia com que o assunto das conversas desse voltas e esbarrasse, novamente, em linguística, educação, discurso, língua. Dessa vez eu tive sorte e consegui defrutar um pouco mais do que Fortaleza, a cidade da vez, tinha a nos oferecer. 

A intenção era descansar nos intervalos de congresso, relaxar em uma praia de areias brancas e sol forte, caipirinha na mão. Fomos nos primeiros dias à Praia do Futuro, onde encontramos ótimas cabanas turísticas. Daquelas que te fornecem tudo, inclusive um puff maravilhosamente relaxante. A única questão era ter de conviver com todos os vendedores ambulantes tentando desesperadamente vender algo. De cinco em cinco minutos algum parava na nossa mesa, o que nos deixou um tanto incomodados.

No segundo dia, voltei à Praia do Futuro por causa da proximidade com o hotel do Congresso. Tive que participar de algumas atividades pela manhã, mas escapei de tarde. Mais uma tarde relaxante à beira da água, mas dessa vez uma surpresa: estávamos saindo para dar uma volta a pé na beira d'água quando um dos garçons da nossa barraca veio nos buscar. Ele contou que várias pessoas estavam sendo assaltadas na praia, e que não seria seguro sair andando por ai. Segundo ele, na frente da barraca era o único lugar seguro, porque tinha seguranças. Voltei um pouco frustrada para o carro, devo confessar, mas achei a atitude do garçom bem legal.

Nos outros dias, fomos a uma praia de pescadores chamada Sabiaguaba. Sem barracas prontas, só uma areia imensa, dunas e mais dunas e alguns pescadores com varas high-tech. Apesar das pedras no chão, não resisti entrar um pouco naquele trecho do mar. Parecia tão mais tranquilo que na Praia do Futuro, onde as ondas tinham nos carregado, uma atrás da outra. Teria sido mais aventureiro ir de jipe, mas e a falta que faz um ar condicionado naquele verão de 35 graus?


A última praia que nós nos aventuramos a ir foi a Porto Dunas, onde fica o Beach Park. Era sábado , estava lotado de crianças querendo aproveitar as piscinas e tobogãs, fiquei com preguiça de pagar a entrada para o parque sendo que teria que sair dalí em 2 horinhas. Resolvi ficar na barraca à beira mar. A banda estava se arrumando, vai que era bom. No fim, foi muito agradável. Melhor banho de mar, com certeza. Melhor bronze, já que sai de lá num tom vermelho gringo. 


Fortaleza nos recebeu muito bem, obrigada. Praias bonitas, algumas mais do que outras, com uma hospitalidade surpreendente.



domingo, 26 de setembro de 2010

Antigo comercial da Poupança Bamerindus

O tempo passa,o tempo voa... E a poupança Bamerindus continua numa boa!
Pelo visto, o blog também fica numa boa, mesmo quando eu não escrevo nele. 


A famosa síndrome da mulher de malandro

A síndrome de mulher de malandro ocorre em mulheres que, em fase stressante da vida, precisam levar umas broncas para sacudirem a poeira e darem a volta por cima. Vamos contextualizar. Final de TCC, a mocinha ainda não fez metade do  que deveria ter feito. O professor cai matando e a coitada corre atrás do prejuízo. Dá certo, dessa vez foi de raspão.

Todas as ocorrências observadas da síndrome estouram, normalmente, quando  prazo também está para terminar. A bronca é necessária para que se obtenha o resultado esperado, traço que dá nome à síndrome.

domingo, 5 de setembro de 2010

Restaurant Week anda rendendo bons momentos

Saiu no Ilustrada de hoje, domingo, um texto sobre um crítico musical e gastronômico americano, Roger Ebert. Há quatro anos sem comer, ele continua escrevendo sobre culinária a partir da experiência adquirida ao longo dos anos, da sua memória gustativa. O que ele sente falta atualmente não é do seu paladar, mas sim do ritual de sentar à mesa com amigos, conversar sobre banalidades (ele está a quatro anos sem conseguir falar), rir de besteiras filosóficas. Todas essas coisas que compõe o cenário social em torno da mesa.

Ontem fui jantar no restaurante argentino, Ávila, no Itaim. É Restaurant Week e, como boa paulistana, estou aproveitando para conhecer lugares novos. Hoje almocei no Dui, na Alameda Franca e terça passada estava no Limonn. Fui bem atendida em todos os restaurantes escolhidos, todos os pratos servidos estavam maravilhosos. Mas, por mais que estivesse tudo muito saboroso, concordo com Ebert. O melhor mesmo foram os  as conversas, as fofocas, as risadas inusitadas e os sonhos compartilhados.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

São Paulo virou o sertão!

Com essa secura sahaariana na nossa metrópole, as pessoas estão à cata de umidificadores de ar, baldes de água e toalhas úmidas para refrescar o ambiente. Para quem não quer abrir mão da estética, existem modelos diferentes:


Fofura Master!!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Com um muchocho, tiro uma conclusão pessimista

Não foi propriamente a violência física que me leva a escrever uma denúncia sobre maus-tratos. Essa é, verdadeiramente, uma denúncia banal. Outro dia, estava almoçando com meu namorado no restaurante Thai Gardens quando os pratos do buffet começaram a desaparecer das nossas vistas, enquanto ainda estávamos almoçando. Eram 4:15 da tarde, o restaurante deveria fechar às 5. Éramos os únicos no lugar, mas gostaríamos de ter tido a oportunidade de ficar o tempo que quiséssemos. Pedimos a conta e saímos de lá o mais rápido possível, maldizendo a quinta geração do dono e do gerente. Da próxima vez, melhor mesmo era nem abrir o restaurante, já que a pressa de fechar é tanta.

Como a violência tem sido um tema recorrente entre pensamentos e acontecimentos, fiquei com a noção de que o mundo anda obscuro. Ontem mesmo, ouvia no rádio Renata Simões (acho que era ela) fazendo um discurso fervoroso contra a falta de educação. Desde cutucar nariz no carro até fechar a rua porque a necessidade de andar 15 cm é imperiosa. Gostaria de adicionar à essa lista de desarranjos sociais o total desrespeito ao consumidor, apenas para deixar claro que a falta de educação não está só concentrada no trânsito, mas em outros aspectos da vida e que ela continua sendo um grande entrave na nossa sociedade.

ps: O pessimismo aqui retratado expira agora, em nome da crença nas pequenas transformações sociais, nas mudanças e na realização de que reclamar, somente, não leva a nada.  (Será? - Uma voz machadiana anda me rondando).

Quando a violência chega perto

Uma das minhas lembranças das aulas de jornalismo era a discussão sobre a violência e o  discurso de que a classe média considerava a segurança um dos maiores problemas do país porque via seu quintal sendo invadido, não necessariamente porque entendia as razões sociais ou os direitos dos cidadãos brasileiros como um todo. Ou seja, partia-se da assepção individualista e burguesa de que aquilo que se possui deveria ser mantido a duras penas, porque o importante da sociedade capitalista é a manutenção da propriedade privada e não necessariamente a igualdade de direitos.

Pois bem, essa semana houve uma tentativa de assalto, a mão armada, na casa em frente à minha. Os assaltantes renderam a empregada e entraram na casa. Foram interrompidos pela chegada de uma viatura da guarda civil metropolitana, que passava na rua para averiguar a denúncia de que os moradores da rua podavam ilegalmente suas árvores. Ao perceber a presença dos policiais nas redondezas, os assaltantes acharam que eles estavam a sua procura e começaram a atirar. Um policial ficou ferido e os assaltantes fugiram.

Eu estava fora de casa quando recebi uma ligação da moça que trabalha em casa, relatando o ocorrido. Fiquei imaginando o quão stressante deve ter sido para ela ouvir todos os tiros e gritos, sem saber exatamente o que estava acontecendo na rua e temendo por sua vida. Quando cheguei em casa, tudo o que eu conseguia pensar era que tinha sido muita sorte eu estar fora e a casa da vizinha ter sido o alvo. É o terceiro caso de roubo ou furto de que tenho conhecimento nas útimas duas semanas, acontecido na minha rua.

Não que agora eu esteja achando que a segurança é o maior problema do Brasil e que devemos criar um ministério novo para tratar de questões de segurança. Mas que os últimos eventos nos fazem refletir sobre a violência real e a virtual, aquela que priva cidadãos dos seus direitos e mantém uma sociedade desigual, é fato.

Releituras Clássicas

Eis que eu me encontro relendo Machado de Assis. Sendo senso-comum a importância do escritor para a Literatura Brasileira, não pretendo fazer uma defesa ou interpretação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", mas sim fazer um breve relato.

Li o referido livro a primeira vez quando tinha aproximadamente 17 anos. As chaves de leitura eram outras. Primeiro porque livro para mim era diversão, agora virou trabalho. Segundo porque existia uma professora ditando os passos certos e errados, orientando a apreensão que os alunos teriam de cada um dos aspectos estilísticos ou formais, os significados, as ironias. Era tão mais simples e lógico. 

Hoje em dia, em meio a correntes literárias, interpretações diversas e professores que te fazem duvidar de tudo e mais um pouco, inclusive deles mesmos, a opinião ou interpretação tem que ser única e exclusivamente minha. Obviamente que, sendo bem fundamentada, vai ser comprada por outros. E eu me faço a seguinte questão: o quando vou ter que usar do que já está feito, para conseguir uma inovação ou iluminar algo novo que um século ainda não viu? Nada mais clássico do que o conceito de Equilíbrio. Tomara que eu não sofra de labirintite tão cedo, senão não me mantenho de pé nessa corda bamba.  

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Me diz que foi ilusão!

Passeando os olhinhos pela internet, achei o blog do Paulo Coelho no globo.com. Nada demais, já que até mago entra na era cibernética. O problema foi começar a ler os textos e identificar aquele tom "auto-ajuda" que domina e transborda e corrompe o ser humano. Sabe como é? Aquele jeito que o escritor dá para dizer que se o lápis caiu há uma razão transcendental e nós devemos refletir sobre as nossas ações constantemente, já que nesse engodo cósmico tudo o que vai volta; nós semeamos hoje o futuro. Esse tipo de coisa que todo mundo conhece e tem gente que ama. Pois bem, euzinha tenho pavor imenso de um dia sair desse lugar estéticamente auto-crítico que eu tento manter e cultivar e construir a duras penas. Cada um que ocupe o lugar que deseja, sem preconceitos. Ele, provavelmente, ganha mais dinheiro em um dia do que eu vou jamais vou ganhar a minha vida inteira.

Acontece que eu fiquei tentada a ler uns posts do mago-escritor e acabei me deparando com um problema: talvez eu tenha um olhar "auto-ajuda" para certas coisas. Grande revelação. E o pior foi perceber que talvez eu já tenha escrito algumas centenas de frases tão "auto-ajuda" quanto aqueles 3 posts. Inconscientemente, estava mais próxima daquilo que sempre critiquei do que daquilo que sempre acreditei ser. Resumo da ópera, vou passar a ser uber-crítica de Shakespeares e Clarices Lispector, só para ver se dessa vez chego mais perto de escrever bem.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Jornal Premiado

De vez em quando passeio pelos sites de jornais de outros estados, não só São Paulo, para dar uma olhada no que anda se passando no mundo. Com a Classe C em alta, resolvi dar uma olhada no site do Extra!. Ele é um jornal voltado para classes C e D do Rio de Janeiro, publicado pela editora Globo.

Me deparei com a seguinte notícia: Jornal Extra ganha Prêmio Internacional por InfografiaO infografista Ary Moraes e a repórter Clarissa Monteagudo receberam prêmio de Excelência Jornalística 2010 da Sociedade Interameicana de Imprensa (SIP), pela infografia de "Camdomblé", publicada em janeiro de 2009 na série Inimigos da Fé. No site acima a gente encontra a série de reportagens premiadas, muito interessantes para quem se interessa por diagramação e transmissão de informações. Mostrando diversas facetas do Camdombé e da Umbanda, há uma retrospectiva histórica e uma visão sobre preconceito que também vale a pena conferir.

Atraso de Vida e Catracas Contemporâneas

Quando eu entrei na USP, um dos temas de redação (não lembro se foi um dos que eu treinei ou se foi o da prova mesmo) tratava sobre as catracas da vida contemporânea. Elaborado de forma figurada, o texto da proposta fazia com que o aluno procurasse exemplos práticos e argumentasse seu ponto de vista sobre as burocracias que atrasavam as nossas vidas.

Eu passei no vestibular, começaram as aulas e, junto com elas, as greves e todos os protestos do movimento estudantil. Tanto na USP quando na PUC-SP, ambas faculdades nas quais eu estudava. À princípio era divertido e, como tudo era novidade, eu participei de alguns deles. Mais por curiosidade do que por acreditar em qualquer coisa que estava sendo defendida, é preciso confessar. Passou-se o primeiro ano, mais greves e movimentações sociais e, para falar a verdade, já não via muito sentido em tudo aquilo. Não pelas causas, que eu passei a respeitar, mas pelo resultado prático do mesmo: no fim das contas, as conquistas eram pequenas e os prejuízos sociais e pessoais muito maiores.

Esse ano já enfrentei uma greve de funcionários na USP, que teve impactos significativos na rotina dos estudantes. Agora, acabei de sair do telefone no Ministério do Trabalho e os funcionários responsáveis pelo Registro de Jornalistas, o Mtb, estão em greve desde abril. Duas greves que afetaram a minha rotina, meus planos de vida, minha carreira e a de muitos outros.

A greve é um direito do trabalhador e um importante instrumento de mobilização social, mas precisamos repensar a forma como elas estão configuradas. À partir do momento que se extendem por meses, corroendo os cofres públicos, causando transtornos na vida dos cidadãos, deveriam ser consideradas alternativas antes de se recorrer à greve. Uma delas poderia ser a paralização para manifestação ou o abaixo-assinado. 

A impressão que se tem atualmente é de que a greve, e unicamente ela, é tida pelos trabalhadores como forma de defesa de suas causas. Em decorrência disso, perde-se apoio popular e uma causa digna acaba sendo defendida por setores sociais cada vez menores. Talvez a greve tenha perdido credibilidade e, por isso mesmo, seja uma das catracas que atrasam a vida das pessoas. Antes ela pudesse voltar a ser um instrumento democrático, ao invés de ser vista como um direito banalizado.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Garrafa em Alto Mar

Podia jurar que uma mensagem tinha chegado. Não era suficiente ver a escassez de coisas a serem ditas, a correnteza puxando o tempo, as pedras desviando a água de caminho.

Precisava era pensar grande e sustentar uma campanha pró-passado, pró-alguma coisa. O amanhã seria uma revolução. Precisava, mesmo, era ter entre os dedos uma mão caleijada. E de tinta para fazer cartazes e de megafones para cooptar comparsas. Um arrastão na Rebouças para chacoalhar os alienados. Yes, we can! We need change!

Precisava acreditar que as coisas seriam melhores, sempre e tudo seria um daqueles happy endings cafonas. Parar de chorar em filmes piegas seria um passo extraordinário. Seria um manifesto contra todas as coisas "softs" e lindamente construídas para reforçar o sonho princesco. Reconstruir-se como a megera cuja carreira anda muito bem, obrigado, mas a vida pessoal anda em frangalhos e, francamente, o último fato não importaria tanto tendo dinheiro na mão. Uma recompensa falida, veja só a contradição.  

A quem ela enganava? Ela só precisava da mensagem.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Uma visão assustadoramente próxima do real

Estava parada no farol da rua Cerro Corá quando tive uma daquelas experiências bizarras em que a cabeça ultrapassa o limite da racionalidade e nos mostra uma espécie de revelação. Um Déjà vu que se anuncia como tal, prenunciando um futuro próximo. Foi uma imagem/vivência assustadoramente próxima do real, sai zica!

Resumindo, acho que vou quebrar a perna um dia desses. Um dia desses vou estar andando por uma rua de nome desconhecido, uma dessas descidas de Perdizes cheia de degraus na calçada e torcer o pé direito. Vai doer e eu vou estar sozinha. O resto não sei mais, não vi nenhum princípe encantado me carregando até o café mais próximo ou ligando para um rádio taxi. Não me vi como a heroína-mártir que tira a chave da bolsa e dirige até o pronto socorro mais próximo, enfrentando a dor pelo bem maior.

Só sei que o farol abriu, as buzinas soaram no mais alto volume e tive que dirigir.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O tempo passa, a História permanece

"O Sol é para todos" ou "To kill a mockinbird" , de Harper Lee, fez 50 anos de publicação na semana passada. Assistente de Truman Capote, a escritora conquistou o sucesso com seu primeiro e único romance, ganhador do Prêmio Pulitzer em 1961, e publicou apenas textos esparsos depois disso.

O sucesso em sí talvez derive do retrato direto, sêco e sincero da sociedade interiorana, de seus preconceitos e conservadorismos. O leitor acompanha três anos da vida dos dois personagens principais, Jem e Scout Fincher, enquanto lidam com questões pessoais, como a passagem da infância para a adolescência, e sociais, já que Atticus Fincher, seu pai, decide defender um negro da acusação de ter estuprado uma mulher branca.

A ingenuidade e a maturidade forçada, seja pela simples passagem do tempo, seja pelos acontecimentos diversos que povoam o cotidiano dessa pequena cidadezinha, fazem das crianças observadores e protagonistas de uma história universal. Talvez os preconceitos não sejam mais os mesmos, mas o enfrentamento da realidade com o que se espera de uma sociedade pode ser uma das características mais marcantes da vida. Talvez o entendimento das histórias de vida de cada um dos protagonistas das nossas vidas precise ser curtido durante um longo espaço de tempo, para que se transforme em um produto harmônico, aceito e superado.

Seguindo uma linha de raciocínio parecida, alguns dizem que o livro tem fortes traços autobiográficos e teria sido escrito para expurgar as dores, traumas e provocar uma espécie de catarse na própria escritora. Duramente questionada pelos familiares depois da publicacão, Harper Lee agora vive reclusa em Monroeville, evitando entrevistas e quaisquer perguntas sobre seu livro e sua vida pessoal.

Embora possam existir indícios para que esse raciocínio seja levado a sério, não é função da crítica ultrapassar os limites do bom senso e chafurdar-se na vida alheia para compovar a relação entre vida e obra. Afinal, essa possibilidade é apenas uma interpretação que apenas empobreceria a leitura do livro, fazendo dele uma autobiografia e depojando-o de sua inclinação universalizante. A meu ver, não importa a verdadeira motivação do livro, mas as múltiplas leituras e releituras que cada um pode fazer, cada vez mais profundas com o passar do tempo e a maturidade do leitor.

Vulnerabilidades Caninas

Quando nasceram os filhotes da minha cadela, mais ou menos um mês atrás, eles pareciam pequenos famintos. Não largavam a mãe por nada, viviam pendurados uns nos outros, sempre buscando a teta mais cheia de leite. Era divertido, mas nada é mais gostoso do que ver que eles cresceram e agora buscam aventuras no jardim. Saem correndo por aí explorando o gramado, brincando uns com os outros, comendo ração.

Outro dia, um deles estava gripado. Os espirros eram os mais fofos do mundo, porque incluíam a meneada de cabeça que todo mundo faz. De acordo com a veterinária, além do tempo sêco, ele precisaria ganhar um pouco de peso e tomar mais leite da mãe do que os outros. Era um problema no sistema imunológico. Além disso, ele deveria tomar gotas de Cebion ou Redoxon para se fortalecer e dormir dentro da casinha junto com todos os filhotes.

Fiquei supresa por cachorrinhos terem as mesmas vulnerabilidades humanas em mesmas condições climáticas. Minha irmã e meu pai estavam igualmente gripados, tomando vitamina C e espirrando cidade afora.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O chinês faz yoga, os motoristas se stressam

Foi pulicada hoje no G1 a notícia de que um jovem chinês parou o trânsito de uma avenida ao praticar yoga no meio da rua, enquanto os carros e seus motoristas irados passavam ao lado. Segundo policiais locais, o gargalo provocado no trânsito não foi pior, porque o happening só durou uma hora.

Retirando tudo o que há de espetáculo em uma ação dessas, há também uma espécie de manifesto contra uma série de males que assolam as capitais contemporâneas: o trânsito, o stress,  a  apropriação do passeio público pelos carros. Afinal, quem disse que o esporte não pode coexistir com os carros nas ruas? O chinês resolveu fazer yôga, mas se fosse uma bicicleta ou um patinete, o fato do cidadão querer usar uma faixa da rua para se locomover é seu direito, e provocaria trânsito e stress da mesma maneira. Já posso ver todos os carros  tentando desviar para ir um pouco mais rápido, muitas vezes colocando a vida do outro em risco. E para quê mesmo? Muitas vezes a gente nem sabe mais.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mais uma de entrevista de emprego

Outro dia, depois de ter mandado o que me pareceu serem 500 currículos, fui finalmente chamada para uma entrevista de emprego. Era de uma agência de tradução, a qual eu me dignei a ir pensando que essa seria uma ocupação secundária até que eu terminasse o mestrado. Ou seja, uma possível fonte complementar de renda.

A entrevista foi normal, com o entrevistador e trabalhador da empresa exultando as dificuldades e peculiaridades da profissão, defendendo a importância do que ele faz. 15 minutos de falas exasperadas depois e eu me dei conta que estava me colocando numa furada. Mais 15 minutos e eu percebi que estava naquela minha posição corporal relaxada e até mesmo arrogante, de quem já se deu conta de que não quer fazer nada do que o trabalho propõe. Péssimo, preciso me controlar melhor nessas horas. Demorou 2 horas ao total e eu saí de lá levemente envergonhada pela minha atitude relapsa, mas completamente aliviada por ter acabado.

Enquanto andava até o carro, progressivamente fui me conscientizando de que muitas entrevistas ainda viriam  e que eu poderia sofrer do mesmo mal em cada uma delas. Provavelmente, não acharia o emprego dos sonhos logo no começo, teria que ouvir todos os sermões possíveis sobre o trabalho a ser desempenhado. Eu teria, quem sabe, que trabalhar com coisas antes inimagináveis só para ver se eu gostava. Seria obrigada a fazer tantas coisas que, no futuro, eu ia acordar uma velha caquética que ainda se arrepende de ter passado por certas coisas e feitos certas escolhas. Foi uma grande revelação, para um quarteirão de caminhada.

Cabisbaixa, um pouco decepcionada por não ter arranjado a solução para os meus problemas e ainda ter descoberto a verdade sobre o mercado de trabalho, comecei a revirar a bolsa para tentar encontrar a chave do carro. Quando levantei a cabeça (ninguém merece!), um papeletinho amarelo tremia no meu parabrisa.

Há fogueiras e fogueiras, em época de São João

Existem muitas celebrações de final de semestre, mas dessa vez o que eu estava com mais vontade de fazer era juntar aquele bando de trabalhos, textos e coisas escritas e fazer uma bela fogueira. Assim como quem não se interessa muito pela poluição, mas procura mesmo é exorcizar todo o esforço e dedicação devotados àquele pedaço de papel.Seria só mais uma, dentre as tantas que acontecem nas festas juninas Brasil afora.

Meus amigos psicólogos, se não me engano, tiveram uma festa para queimar todos os tcc's (trabalhos de conclusão de curso), depois que se formaram na PUC. Aparentemente, foi uma das coisas mais libertadoras do mundo. Queria ter tido um para o jornalismo. Já imaginou? Queimaria muito fácil aquele livrinho mequetrefe!!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Interpretações poéticas em campanhas publicitárias

Na década de 90, o UBS (Union Bank of Switzerland) fez uma campanha publicitária com atores famosos recitando poesias de Yeats, Kipling, Frost e outros. Vale a pena conferir no youtube algumas dessas propagandas, para trazer um pouco de poesia pra vida e ver como interpretação, empostação de voz, ritmo de leitura, tudo isso só contribui para a beleza da mensagem.







Só o romance não segura uma história

"Cartas para Julieta" pode ser só mais uma comédia romântica, porém, o que faz dela um filme, ou seja, a história singular de três pessoas em busca de um homem, um amor perdido, é puro clichê. O trailler é o filme, sem tirar nem pôr. Não há nada de diferente, emocionante ou engraçado e todas as cenas parecem longas demais. A previsibilidade passa a incomodar e, mesmo que o intuito seja um filme leve que não te faz pensar, saí do cinema com a sensação de ter perdido tempo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A memória é uma esponja

Será que na vida existe uma verdade? Ou seríamos todos condicionados a plagiar, repetir, contar e recontar coisas que nós vivemos e que acreditamos ter vivido?




O discurso é uma colcha de retalhos, uma constante reelaboração de histórias. E quem quer saber da verdade, toda hora, sempre? Prefiro uma velha história bem contada!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pó de guaraná? Nunca mais! Hollywood já tem as frases motivacionais que eu mereço!

Quando frases motivacionais saem da auto-ajuda e das palestras de RH, a gente percebe que o mundo artístico está só dizendo o que a gente quer ouvir. Clichês, c'est la vie!



Só para deixar mais claro: Cuidado! Parece aqueles filmes de e-mail corrente ou Spam.

A nóia do tempo ataca novamente

Tinha pensado em alguma coisa, mas o assunto principal deste post me fugiu, saiu correndo atrás de um coelho que urrava o passar apressado do tempo. Talvez eu só esteja escutando aquele TIC-TAC da barriga do jacaré.



Parece mentira, mas todo final de semestre os trabalhos se acumulam e eu fico com aquela sensação de que não vai dar tempo. E aí surgem os cronogramas de trabalho, as expectativas e as análises entre a projeção do semestre passado e o avanço real alcançado. Essas coisas só fazem tudo parecer pior do que realmente é, eu sei que vai dar tempo.

Once again, a trip to memory lane...

Outro dia estava relembrando com meus primos as minhas pequenas travessuras de criança. Como é bom lembrar que teve uma época em que você não precisava controlar o que dizia ou fazia. Saia fazendo e depois é que descobria quão certo e errado era. Aprendia errando e vendo os outros errar. Hoje em dia eu fiquei uma chata burocrática que pensa cinco vezes antes de dizer, escrever ou fazer qualquer coisa, por mais banal que seja.

É, acho que cresci.

Mais precisamente, cresci um metro e sessenta e cinco centímetros desde 1986. Passei pelas fraldas descartáveis, chupetas, mamadeiras, bonecas, barbies, diários de adolescência, namoricos, paquerinhas, cinemas incontáveis e cheguei ao hoje, ao dia em que eu lembrei que um dia eu tentava fazer perfume com água, álcool e pétalas de flor. Um dia, eu também já enfiei uma banana na testa da minha irmã enquanto ela fazia uma lição de casa no computador. Outro dia, eu acordei ela de um pesadelo dando uma travesseirada nada amistosa. E ainda, durante todas as memórias, pensei: "eu já troquei as fraldas dessas crianças que estão na minha frente, falando dos seus namorados e paqueras".

quinta-feira, 3 de junho de 2010

As conversas de Skype me pegam de surpresa

Estava em uma tarde comum de terça-feira fuçando a internet antes de começar a escrever e trabalhar, quando de repente uma amiga que mora no exterior me chamou para uma conversa no skype. Foi um encontro e tanto, dado que não nos falávamos desde janeiro. Milhares de mil novidades e fatos foram sendo relatados e a conversa cara-a-cara via câmera de computador pareceu extremamente realista, porém com um quê de irreal que toda virtualidade proporciona. Não podia acreditar no que acontecia, na situação, mesmo porque era uma das poucas vezes que eu tinha usado a minha câmera do skype.

De qualquer forma, tiramos parte do atraso, tendo que filtrar 90% do que teríamos realmente conversado se pudessemos ou se estivessemos mesmo cara-a-cara. Realmente, a relação tempo-espaço se apresenta de forma absolutamente tranformada para minha geração: a gente corre o máximo para fazer o máximo, a gente viaja o mínimo para alcançar distâncias máximas. Mudar meus horários para encaixar uma conversa entre amigas saudosas foi uma escolha que me impediu de entrar na correria de trabalho aquele dia, mas parece que em 45 minutos eu viajei até Paris e sentei no sofá da minha amiga, para gente botar o papo em dia.

Turismo à parte, foi divertido

Só para esclarecer, o stress dos motoristas de taxi não me impediu em nenhum momento de curtir o resto do Rio de Janeiro. Os shows de samba na Lapa foram ponto alto dos passeios noturnos: sexta-feira no Carioca da Gema, sábado no Rio Scenarium. São perfis completamente diferentes.

O primeiro é pequeno, mais intimista e com shows de gente nova, mas já conhecida da indústria fonográfica. Uma banda pequena, uma cantora e tanto, como Teresa Cristina. Ficamos sentados numa mesa, longe do burburinho, conversando sobre a vida e a carreira. Updates gostosos para uma musiquinha de fundo que era tudo de bom. Saindo do Carioca da Gema, umas 3 e 30, depois do fim da banda e da fila para pagar, milhares de barzinhos se espalhavam pela Mem de Sá, cada um mais cheio e parecendo esticar a noite até mais tarde. Até de manhã...

O Rio Scenarium tinha uma fila enorme na porta, quatro andares de casa, 6.000 pessoas como limite máximo de ocupação. A banda era igualmente grande: cerca de 10 integrantes com diferentes arranjos e instrumentos para dar o clima agitado e dançante do espaço. A banda tinha nome desconhecido e tinha acabado de terminar um cd experimental, as músicas eram conhecidas e a gente vai dançando esbarrando no vizinho, como dizia um passante: "nesse aperto gostoso, nesse roça, roça". Em ritmo de festa, tinha ainda uma pista de dança com Dj de música brasileira. As pessoas pareciam estar chegando ainda, quando nós resolvemos ir embora, cerca de 3 horas da manhã. Esse ia até o raiar do dia.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Turista, no Rio, é explorado por demais...

Os cariocas que me desculpem, mas fiquei com uma má impressão tremenda dos taxistas da cidade maravilhosa.

Pega a Epopéia:

1) Eu e o gringo fomos de Ipanema para o Corcovado de taxi. A gente queria subir até o Cristo Redentor de bondinho, mas quando chegamos lá ele estava fechado. Nisso, o taxista vira para mim e fala:

- Se você quiser, te levo até o topo por 70,00 reais.

Pasmei e disse não. Mas, começou a juntar um monte de guia turístico na porta e eles estavam cobrando 100,00 reais para nós dois. Afe! Fiquei no taxi e acabei deixando 100 conto com o taxista, quando ele nos deixava no Pão de Açúcar, 35 reais a mais do que o taxímetro marcava. A grande questão é: você se arriscaria a não pagar? Achei que, como estava de férias, o dinheiro pagava uma tranquilidade que não tinha muito preço.

2) A gente queria ir ao Carioca da Gema, um bar da Lapa. O taxista que nos levou começou a conversar e dizer milhares de mil coisas e acabou nos levando para um tour no centro da cidade, já que o Teatro Municipal tinha sido reaberto no dia anterior. Eu adorei ver o teatro, mas que ele se aproveitou para dar umas voltinhas (pequenas, que seja) a mais, ele se aproveitou.

3)  Estavámos saindo do Carioca da Gema, depois de um show maravilhoso daTeresa Cristina. O taxista estava bêbado e quase bateu o carro umas duas vezes. Emoção pura!

4) O taxista do Pão de Açúcar ia nos levar para o Porcão, mas no meio do caminho ele tira do banco um panfleto de outra churrascaria, Marius, e começa a falar que se eu quisesse mesmo ir no Porcão eu deveria ter feito reserva e que essa outra era melhor. Afe, me leva logo pra outra. Não aguentava mais discutir com taxista, já tinha ligado o foda-se. No fim, o Marius era bárbaro, a gente adorou.  

5) A gente estava fazendo compras no fashion mall e precisava retirar dinheiro, porque o caixa do shopping estava fechado. O taxista nos diz que só faz preço fechado, não pode ligar o taxímetro, e cobra 35 reais para ir até Copacabana, passando em um banco. De noite, o que você quer mesmo é chegar no quarto, então você paga.

Acho que foi isso. Em dois dias, cinco experiências frustantes. Porque todos eles se aproveitaram do fato de estarmos perdidos em plena cidade, querendo e precisando de transporte. E todos eles tiraram uma castinha, uma vantagem da nossa situação. Achei feio, mas não chegou a estragar a paisagem maravilhosa e a viagem de férias.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Jundiaí também tem Virada Cultural!

Estava sábado passado sem muito o que fazer em Jundiaí, sem grandes planos. Decidi, repentinamente, passar na Virada Cultural e assistir o show do Zeca Baleiro, no Parque da Uva à meia-noite. Antes dele, às 10 e meia, teve show da Cat Power no  Teatro Polytheama e eu senti muito ter perdido a hora e não ter ido vê-la.

Mas, voltando ao que interessa, o Parque da Uva estava lotado para ver o Zeca Baleiro. As entradas do parque estavam muito bem policiadas, todo mundo era revistado, ninguém podia entrar com bebida alcóolica ou qualquer outra bebida. Lá dentro, barraquinhas de bebida com água, coca e guaraná e algumas comidinhas. Fiquei impressionada com a quantidade de gente e a organização do evento. Muito melhor que a organização da Virada em São Paulo, mas convenhamos, a quantidade de gente era infinitamente menor.

As músicas foram variadas, mas os grandes hits fizeram parte do set list. Teve Telegrama, Alma não tem cor, Babylon, Meu amor minha flor minha menina. Teve também um vento abusivo e um frio inesperado, que me fizeram sair antes do final do show. Mesmo assim, sempre bom aproveitar essas oportunidades que surgem no caminho, ainda mais quando ninguém tem muita expectativa e o programa é definido de última hora.

Com rodinha nos pés, o destino da vez é o Rio de Janeiro

Depois de um final de semana no interior (Jundiaí, Jaguariúna e Campinas), estava faltando mesmo tomar um solzinho, com caipirinha na beira da praia, um belo cristo de braços abertos para proteger essa ginga malandra. Sim, o próximo destino é o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, à qual não vou a muito tempo. 

O melhor de fazer uma viagem é poder pesquisar, planejar, sonhar e, quando você está no lugar, aproveitar e fazer o que der na telha, sem muito se preocupar em seguir o cronograma proposto. Por isso, passei grande parte do meu tempo hoje buscando hotéis, hostels, novidades e todas aquelas coisas que eu já nem lembro mais que existem no Rio. Próximo passo é vasculhar fotos e memórias.

Moda carioca, barzinhos, passeio no posto 6, posto 9, av. Atlântica. Aí vou eu!

A natureza age por meios escusos

Assistindo ao parto da Cleo, cachorra da minha avó, anos atrás, tive certeza da existência de um instinto animal e maternal que brota do nada e toma de assalto a nova mãe. Minha cachorra lambeu todos os filhotes para limpá-los e estimulou, com a língua, cada um deles para que começassem a respirar e viver sem o cordão umbilical.

Sexta-feira passada, a mesma coisa aconteceu com a Cora, de uma hora para outra ela era a mãezona super-protetora, abraçando os filhotes com a pata, evitando assim que qualquer pessoa tentasse chegar perto deles. Ela até lambeu um dos filhotinhos que nasceu morto, tentando, em vão, fazer com que ele vivesse.

Explicações biológicas, fisiológicas e hormonais devem existir aos montes, mas será que vale a pena buscar uma resposta para um fato tão natural? Tem vezes que a ciência e a teorização desvirtuam ou encrudecem o que é tão espontâneo e belo, fazendo com que se perca o foco. Não importa a razão científica para tal coisa ter acontecido, importa que aconteceu e foi marcadamente bonito presenciar a transformação de estados e atitudes da minha cadela, com a nascimento dos seus filhotes. A super-proteção e a maternidade parecem uma reação meio universal, inerente a diversas espécies de animais, e é isso só engrandece a sua beleza.

E é goooooooooool!



Essa sensação de sofrer e ser surpreendido faz falta de vez em quando. Sabe? Quando a gente começa a torcer, espera ver grandes jogos, superações, dificuldades...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Outras visões do feminino



Em um outro post, eu falava sobre a representação do mundo feminino no filme Sex and The City 2. Continuando no mesmo tópico, gostaria de comentar o filme Caramelo, uma produção franco-libanesa premiada no Festival de Cannes em 2007.

A história se passa em Beirute, no cabeleireiro Sibelle, onde três amigas trabalham juntas. A personagem principal, Layale, é depiladora e manicure. A cera para depilação libanesa é feita com caramelo, de onde é dado o título do filme. Participam da história, também, mais três clientes do salão: uma mãe divorciada cliente do salão, uma vizinha costureira e sua mãe. As mulheres unem-se para conversar sobre amor, paixão e outros problemas, criando uma forte amizade.

Entre namoros proibidos, paqueras e casamentos, as personagens recompõe aspectos culturais da vida no Líbano, como a necessidade de casar virgem ou a obediência aos pais. Ao contrário da visão ilusiória de Sex and The City, em Caramelo há um esforço para retratar dramas e crises reais. O filme discute, assim, um lado mais humano e dá um panorama concreto dos hábitos  e questões de diferentes gerações. Questões que, em essência, são independentes de cultura ou crença e fazem parte da vida de qualquer uma.

Para quem está atrás de algo do gênero, vale a pena alugar o filme. Ainda mais nessas noites de frio de São Paulo...

A arte em seu princípio humanizador

A arte pode não ter um princípio moralizante, mas ela pode unir mundos distintos, partilhar experiências e visões de mundo, representar a vida ou aspectos da humanidade independentes de nacionalidade, cultura, religião ou posicionamento político.



E antes que se pense que a globalização é o mal dos tempos, talvez seja possível pensar em formas de tirar proveito desse momento histórico. Semeando humanismo, gentileza e consciência social, por meio da arte global.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O mundo feminino e seu retrato moderno ou a estréia de Sex and the City 2



Para alguns, o assunto da série  Sex and The City já deveria ter esgotado faz tempo. A revolucionária primeira temporada que falava de hábitos contemporâneos e retratava o sexo e as relações modernas foi aos poucos sendo substituída pela exaltação das marcas e do mercado da moda. De um pretenso retrato antropológico travestido de entretenimento, para entretenimento puro existe um mundo de diferenças, sendo a mais importante delas a banalização da mulher. São enfocadas a frivolidade e as crises existenciais que caracterizam, antes de tudo, o estereótipo mais devastador da mulher contemporânea. A idéia de que o consumo pode suprir nossas necessidades humanas e trazer a Felicidade, explicitamente cultivada pela série e pelo filme, é tentadora demais, não é? Antes fosse simples assim na vida real também.

O fator entretenimento, entretanto, é satisfatório na medida em que está retratada nas telas e na televisão uma vida de glamour, viagens, amigas e relações muito sedutora. Quem não gostaria de poder sair por aí nos desertos de Abu Dhabi com suas melhores amigas, camelos, champagnes, tudo do bom e do melhor? É um filme para quem gosta e quem respira esse mundo da moda, do consumo e do luxo.Um filme para quem sabe distinguir fantasia de realidade e toma a história como uma diversão ficcional e não como um projeto de vida.  

Quem quiser de distrair, vai poder conferir o filme nas telinhas brasileiras a partir do dia 28 de maio.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A atual relação com o Tempo


O que antes era onomatopéia, virou marca de produto de consumo.

A água já bateu no número 32!

A Persistência da Memória - Salvador Dali


Acabei de ver que, nas últimas duas semanas, já mandei 32 currículos só em 1 site desses de anúncio de emprego. Entre análises linguísticas e aulas de mestrado, classes de letras, matei um tempão nesses sites, dissernindo o que presta do que não presta para se fazer na vida. Como é difícil, não? Nenhuma resposta até agora. Já sabia que seria um longo processo, por isso comecei antes mesmo de terminar o mestrado. Mas mesmo assim, haja paciência. Tem vezes que o tempo parece se dissolver e, prontamente, o reloginho do Dali surge na cabeça.

A Você/SA publicou na edição desse mês uma matéria sobre o processo seletivo para vagas do Google . O atual diretor da empresa no Brasil, Alex Dias, disse que passou por 18 entrevistas para conseguir o cargo. Fora isso, 50% dos empregados contratados foi indicado por um amigo que já trabalha lá. O que me fez pensar que nessa vida de procurar emprego, duas coisas são necessárias: indicação e paciência.

Outra coisa que eu ando reparando é que diferentes profissões estão requisitando coisas parecidas: experiência, agilidade, empreendedorismo, criatividade e inovação. O primeiro dos requisitos é puramente currículo, mas os outros tem muito a ver com o perfil de cada um. É, a capacidade de reflexão e as iniciativas de revolução são cada vez mais bem vista pelo mercado. Talvez a gente só precise ser um pouco mais vanguardista no nosso âmbito de trabalho, assim como Dali foi no seu.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O centro na virada


Havia a música, sim. Mas o mais importante e gostoso era estar em um local inusitado, andando como quem é turista na própria cidade.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

Você é o que você come

Cada vez que eu faço uma visita ao nutricionista, surge a pomposa frase: "Você é o que você come". Eu já fui a vários médicos para desenvolver hábitos de vida saudáveis (I wish!), perder peso e ficar de bem comigo mesma. Um deles me receitou uma fórmula, outro remédio para ansiedade. Uma médica chegou ao absurdo de me dizer que eu deveria ler livros de auto-ajuda e aqueles para encontrar Deus e Jesus. Esses livros realmente não casam com o meu perfil de literatura e de gostos.

Mas a verdade é que depende de uma mudança na rotina, nos hábitos e nenhum remédio pode fazer isso por você. Espero que, com a maturidade, eu tenha encontrado uma forma de conciliar melhor as vontades e desejos com aquilo que meu corpo precisa para funcionar bem. Afinal, quando eles dizem que "você é o que você come", eles tem razão. Todo docinho fora de hora, vira bunda um dia.  

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O glamour de uma manhã qualquer

9 e alguns clichês da vida moderna

Nine é a história de um cineasta, Guido Contini (Daniel Day-Lewis), e suas crises amorosas e criativas. Segundo sua esposa, Laura, seu problema é não distinguir trabalho e vida pessoal. Todas as pressões para que seu novo filme, Italia, seja feito e retome o sucesso de seus primeiros trabalhos acabam por soterrar a imaginação e a critividade, tirando o gosto que ele tem pela produção, filmagem e finalização de qualquer obra.




Suas crises são tecidas com memórias e momentos, ambos musicais e líricos, com cada uma das mulheres de sua vida, cada uma com um papel a ser interpretado:

Sophia Lauren, a grande mama italiana.
Judi Dench, a eterna parceira de trabalho.
Marion Cotillard, a esposa perfeita.
Penélope Cruz, a amante passional.
Nicole Kidman, a musa inspiradora.
Kate Hudson, a jornalista com o olhar externo, elogioso. 
Fergie, o primeiro contato, ainda pequeno, com a sexualidade. 

Enquanto entretenimento, o filme atende à necessidade do público de ver um espetáculo. Dramas, paixões e crises que, após a síntese e o processamento dos sentimentos, são resolvidos e levam a personagem principal à uma espécie de redenção e retorno ao lar. Trata de um problema contemporâneo, equilibrar os diferentes âmbitos da vida para satisfação pessoal e encontro da felicidade.Além disso, apresenta o verdadeiro amor como o caminho para a descoberta da felicidade e para redenção, o perdão.  Clichê, mas daqueles que vale a pena perder um tempinho para ver, de vez em quando.
 
BlogBlogs.Com.Br