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terça-feira, 13 de julho de 2010

O tempo passa, a História permanece

"O Sol é para todos" ou "To kill a mockinbird" , de Harper Lee, fez 50 anos de publicação na semana passada. Assistente de Truman Capote, a escritora conquistou o sucesso com seu primeiro e único romance, ganhador do Prêmio Pulitzer em 1961, e publicou apenas textos esparsos depois disso.

O sucesso em sí talvez derive do retrato direto, sêco e sincero da sociedade interiorana, de seus preconceitos e conservadorismos. O leitor acompanha três anos da vida dos dois personagens principais, Jem e Scout Fincher, enquanto lidam com questões pessoais, como a passagem da infância para a adolescência, e sociais, já que Atticus Fincher, seu pai, decide defender um negro da acusação de ter estuprado uma mulher branca.

A ingenuidade e a maturidade forçada, seja pela simples passagem do tempo, seja pelos acontecimentos diversos que povoam o cotidiano dessa pequena cidadezinha, fazem das crianças observadores e protagonistas de uma história universal. Talvez os preconceitos não sejam mais os mesmos, mas o enfrentamento da realidade com o que se espera de uma sociedade pode ser uma das características mais marcantes da vida. Talvez o entendimento das histórias de vida de cada um dos protagonistas das nossas vidas precise ser curtido durante um longo espaço de tempo, para que se transforme em um produto harmônico, aceito e superado.

Seguindo uma linha de raciocínio parecida, alguns dizem que o livro tem fortes traços autobiográficos e teria sido escrito para expurgar as dores, traumas e provocar uma espécie de catarse na própria escritora. Duramente questionada pelos familiares depois da publicacão, Harper Lee agora vive reclusa em Monroeville, evitando entrevistas e quaisquer perguntas sobre seu livro e sua vida pessoal.

Embora possam existir indícios para que esse raciocínio seja levado a sério, não é função da crítica ultrapassar os limites do bom senso e chafurdar-se na vida alheia para compovar a relação entre vida e obra. Afinal, essa possibilidade é apenas uma interpretação que apenas empobreceria a leitura do livro, fazendo dele uma autobiografia e depojando-o de sua inclinação universalizante. A meu ver, não importa a verdadeira motivação do livro, mas as múltiplas leituras e releituras que cada um pode fazer, cada vez mais profundas com o passar do tempo e a maturidade do leitor.

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