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segunda-feira, 29 de março de 2010

B4 e uma noite modelo

B4, além de ser advérbio de tempo da língua inglesa, é o nome de um lounge na rua Amaury, onde todos se reúnem para os drinks e o fabuloso pré-balada da noite paulistana. Drinks e sinuca, com o requinte que a região pede. Como diriam minhas amigas, um lugar hype.

Era quinta-feira e chegamos cedo, porque tinhamos reservado uma mesa. Saltos atos, maquiagens e cabelos caprichados, entramos no ambiente ainda vazio. As paredes estavam cobertas com um papel com aqueles padrões de corte-francesa em cinza chumbo, fundo branco, móveis azul petróleo e branco. Tudo ornamentado e milimetrica e esteticamente combinado. Ao fundo das garrafas, atrás do bar, a imagem de caveiras coloridas destoava levemente do conjunto, lembrando que aquele era um local para o requinte do moderno-kitsch.

Lá pelas tantas, 11 horas, as mesas estavam lotadas. Dois casais mais velhos passeavam pelo local e se entretinham com suas histórias. Um dos homens, que devia ter uns 60 anos, olha de relance para a mesa de modelos, no auge da sua magreza escultural e de seus 16 anos. Eram muitas e andavam sempre em bando. Flagrei até o small talk de banheiro delas.

O grupo formado por colegas de empresa e duas estrangeiras, certamente num clima happy hour, terminava de jogar sinuca e deixava livre a mesa, para dois casais jovens degladiarem-se na arena de feltro verde.

Uma festa de anivesário acontecia ao fundo. Disputando lugar com as modelos, as meninas usavam seus melhores e mais curtos vestidos, com saltos altíssimos. A silhueta em destaque é para quem pode.

E nós, quatro mulheres absolutamente alheias a tudo isso, falávamos besteira como se estivéssemos em um boteco da Vila Madalena, bebendo chop de calça jeans e all star, sentadas com as pernas cruzadas. A música alta disfarçava a nossa clandestinidade, em prol da nossa liberdade de expressão...

Nada como o tempo...

Tem coisas que na hora em que a gente faz, tudo bem. Mas depois, quando a vida pára um pouquinho, parece que existe um lapso de consciência, um instinto de realidade, uma epifania qualquer que nos faz questionar internamente: "Mais o que é que eu estou fazendo, mesmo?".

Outro dia, fiquei assim vendo textos antigos. Parece que verborragia só produz coisa ruim. Às vezes a crítica acaba perdendo sua razão de ser: ou ela parte de um pressuposto de uma arte impositiva, regrada, estruturada (quase tradicional, perdendo a dimensão singular de uma obra) ou não toma o despretencioso entretenimento pelos seus próprios parâmetros. Como é difícil achar o meio termo ou o tom crítico acertadamente argumentado!

Talvez no turbilhão da vida cotidiana seja a mesma coisa. A autocrítica parte de um ponto de vista socialmente aceito e correto, não tomando como base a sua singularidade, aquilo que se é de verdade, não o que deveria ser. Ou, muito pelo contrário, ela parte do ponto de vista espontâneo que nos permite ousar e se divertir, mas depois se culpa por estar sendo demasiado superficial e impulsiva. Uma vez mais, questão de tom e ponderação.
 
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