Páginas

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Aflição Compartilhada

A comunicação envolve muito mais do que a fala, estando relacionada à postura, pausas, olhares, gestos. Isso aconeteceu no ano passado, mas de vez em quando eu ainda lembro desse episódio.

Ivanise Espiridião da Silva estava sentada, frágil, em frente à 25 jovens quase jornalistas. As lágrimas escorriam pelo rosto para recontar a história de sua filha desaparecida a 130 metros da porta de sua casa, no bairro de Pirituba, São Paulo. Fabiana voltava da casa de uma amiga que fazia aniversário e, doze anos depois, ninguém sabia onde ela estava.

Ela era o tipo de pessoa que ia atrás do que era preciso. Movia mundos e fundos para rever a filha: estudou e formou-se em direito, montou uma ONG, a Mães da Sé, para pais e familiares de desaparecidos (já que a polícia não dá o suporte necessário, segundo ela), já ajudou a reencontrar cerca de 1900 pessoas com o trabalho voluntário da associação. Essa força estava em cada gesto, em cada olhar mais firme. E a esperança é a última que morre, apesar do tempo passar e das chances serem cada dia menores.

Cada vez que alguma notícia chega e ela se frusta, por não ser Fabiana a pessoa encontrada, a angústia com a incerteza cresce. " A gente não sabe se a filha está bem, se está agasalhada, se está alimentada. O desespero, a dor, o luto são constantes. Minha família acabou" diz Ivanise, "De vez em quando minha filha caçula, Fagna, tenta me convencer  a seguir em frente e a ter vida social. Mas eu não consigo, eu não quero fazer isso. Ela que já se esqueceu de como era ter uma irmã, ela que já se esqueceu da Fabiana". 

O sofrimento marcava o olhar fundo e cinza da mãe, que se dirigia a mim como quem vê que conseguiu tocar alguém. Porque eu podia imaginar todas as sensações, o desepero, as dores daquela mulher só de ver como ela se contorcia para falar, mexia na mão ou cruzava as pernas.  

2 comentários:

  1. Também lembro como se fosse hoje. E pensei em faltar àquela aula, vejam só! Tudo bem que eu pensava em faltar todos os dias, mas...

    Taí um dia que valeu a pena na faculdade. Um depoimento importante para formar nossa personalidade jornalista e saber lidar com esse tipo de situação. Eu não sei.

    Palmas para a Flamínia, por permitir aquele momento inesquecível para todas nós que presenciamos a fala emocionada de uma mãe inconsolável.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, lidar com esse tipo de situação emotiva quando é gente conhecida tem vezes que é difícil, quando você não tem intimidade nenhuma então... Foi mesmo, uma aula boa.

    ResponderExcluir

 
BlogBlogs.Com.Br