"C'est si bon" é daquelas que marca o espírito de uma época, das noites de cabaré e da bohemia tipicamente francesa de início do século passado, quando Paris era a cidade das luzes, capital mundial da cultura e abrigo de intelectuais como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Monet. Lá se concentraram as grandes manifestações artísticas que chocaram a sociedade e motraram novos rumos, apontando a necessidade de se questionar os padrões estabelecidos e mostrando a importância de se experienciar a vida, as suas dimensões
Na chamada pós-modernidade, o espírito de viver a vida independente das moralidades reinantes, questionar os paradigmas e aproveitar todos os momentos da forma mais intensa (vita brevis!) parece estar engrandecido, tornando-se uma espécie de mote. Embora essa seja uma crítica e não um elogio dessa desmesura e desproporção com que são feitas certas coisas nos nossos tempos, minha intenção é, também, mostrar o outro lado, ver o copo meio cheio. Afinal, não adianta nada racionalizar a vida social e entrar em paranóia ou depressão existencial.
Entre o espírito questionador do início do século passado e a contemporaneidade, veio a década de 60 e a contracultura, que parecem ter radicalizado as propostas modernistas. Antes de abraçar o radicalismo, a exuberância e o
Na loucura anciosa de hoje em dia, parece que esquecemos da importância do toque, do estar junto e sonhar, trocar vivências, conversar, dessas coisas aparentemente cotidianas, mas totalmente despretenciosas. Será que conseguimos ou tiramos tempo para realmente aproveitar essas situações ou estamos correndo sempre à procura de algo mais, sempre insatisfeitos?
A lógica de viver o momento e espremer 500 vivências, emoções e êxtases em 24 horas parece levar-nos por caminhos obscuros de experimentações, micro-alegrias e epifanias cotidianas. Conhecendo seus limites e respeitando-se, é sempre proveitoso viver, dar a cara a tapa, descobrir alguma verdade vida afora. Deixar moralismos e moralidades de lado pode ser uma forma de nos permitir entrar em contato com situações inusitadas e surpresas, novidades, dimensões da existência humana até então desconhecidas. Impulsos, instintos, decisões e desejos, tudo pode ser válido, depende de você e o que você pretende da sua vida, do seu processo de ser na Terra.
Talvez estejamos (ou deveríamos estar) caminhando para o meio termo, para a junção do ímpeto questionador e experenciador com a visão mais romancizada, ingênua desse processo. Mantendo, respeitando, aprendendo, aceitando nossos limites.
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