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sábado, 17 de outubro de 2009

C'est si bon! (Uma Viagem de Raciocínio Sobre a Pós-Modernidade)



"C'est si bon" é daquelas que marca o espírito de uma época, das noites de cabaré e da bohemia tipicamente francesa de início do século passado, quando Paris era a cidade das luzes, capital mundial da cultura e abrigo de intelectuais como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Monet. Lá se concentraram as grandes manifestações artísticas que chocaram a sociedade e motraram novos rumos, apontando a necessidade de se questionar os padrões estabelecidos e mostrando a importância de se experienciar a vida, as suas dimensões cotidianas e prazeirosas.  

Na chamada pós-modernidade, o espírito de viver a vida independente das moralidades reinantes, questionar os paradigmas e aproveitar todos os momentos da forma mais intensa (vita brevis!) parece estar engrandecido, tornando-se uma espécie de mote. Embora essa seja uma crítica e não um elogio dessa desmesura e desproporção com que são feitas certas coisas nos nossos tempos, minha intenção é, também, mostrar o outro lado, ver o copo meio cheio. Afinal, não adianta nada racionalizar a vida social e entrar em paranóia ou depressão existencial.

Entre o espírito questionador do início do século passado e a contemporaneidade, veio a década de 60 e a contracultura, que parecem ter radicalizado as propostas modernistas. Antes de abraçar o radicalismo, a exuberância e o desbunde atuais, parecia existir uma certa ingenuidade, um olhar para as pequenas coisas do cotidiano que era mais romancizado. A música acima  mostra, embora relate a vida de uma mulher (uma garota de programa) a procura de uma vida de riquezas materiais e prazeres, uma lista de coisas boas da existência que nada tem a ver com o resultado material, mas sim com os sentimentos ou sensações envolvidos na relação com o mundo e com os outros. Ela mostra a liberdade de transitar no mundo a procura de algo, o prazer de ver a esperança no olhar dos outros, de ser invejada por estar com alguém passeando à beira do Sena.

Na loucura anciosa de hoje em dia, parece que esquecemos da importância do toque, do estar junto e sonhar, trocar vivências, conversar, dessas coisas aparentemente cotidianas, mas totalmente despretenciosas. Será que conseguimos ou tiramos tempo para realmente aproveitar essas situações ou estamos correndo sempre à procura de algo mais, sempre insatisfeitos?


A lógica de viver o momento e espremer 500 vivências, emoções e êxtases em 24 horas parece levar-nos por caminhos obscuros de experimentações, micro-alegrias e epifanias cotidianas. Conhecendo seus limites e respeitando-se, é sempre proveitoso viver, dar a cara a tapa, descobrir alguma verdade vida afora. Deixar moralismos e moralidades de lado pode ser uma forma de nos permitir entrar em contato com  situações inusitadas e surpresas, novidades, dimensões da existência humana até então desconhecidas. Impulsos, instintos, decisões e desejos, tudo pode ser válido, depende de você e o que você pretende da sua vida, do seu processo de ser na Terra.

Talvez estejamos (ou deveríamos estar) caminhando para o meio termo, para a junção do ímpeto questionador e experenciador com a visão mais romancizada, ingênua desse processo. Mantendo, respeitando, aprendendo, aceitando nossos limites.

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