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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Global, Local, Glocal!!

Globalização é quase um termo banalizado atualmente, mas tal fenômeno histórico-social parece ditar as regras e reger a comunidade mundial: transnacionais, investimentos, bancos, mercados, instituições financeiras. Um verdadeiro castelo de cartas, em que diferentes países estão intimamente ligados, financeiramente ou comercialmente, puxa uma carta e vê quem cai primeiro ou vai mais fundo. Mas não acaba por ai. Com a facilidade de trânsito (de idéias, pessoas, cargas), nos transformamos numa comunidade com aspectos culturais homogêneos, difundidos worldwide. Dentro de tudo isso, coloca-se todo o conhecimento acadêmico difundido nos congressos internacionais e nas teorias produzidas pelo primeiro mundo. Pensando nas teorias de educação agora, sendo simpelsmente trazidas (para não dizer importadas) ao nosso país sem grande critério para adaptação na prática.

Entra em questão a necessidade de se explorar criticamente tudo aquilo que é posto pela academia internacional e pelas editoras de material didático (para estudo de línguas estrangeiras) como sendo a forma correta de se estimular alunos a desenvolverem capacidades, conhecimentos. A prática deveria ser algo que perpassa pelo senso crítico e pela intuição de qualquer um; sensibilidade e conhecimento de mundo; afeto e disciplina para o processo de desenvolvimento do Saber Local. Levando em consideração aqueles aspectos do contexto social em que cada classe e cada aluno estão inseridos  para criação de métodos que auxiliem a tarefa de mediar o acesso do aluno ao conhecimento teórico.

Utilizando-se do Global e do Local, chegamos então à fusão de ambos: o Glocal. Aquilo que pode ser desenvolvido na teoria e na prática em cada contexto: no México, no Brasil, em São Paulo ou no Amapá. Afinal, em um mundo globalizado, de nada adianta fechar-se no seu país ou na sua escola para educar. E, nesse mesmo mundo, de nada adianta sair importando à torto e à direito, sem relativizar os processos de conhecimento e entender as necessidades específicas e as peculiaridades de cada sala ou aluno. A colisão e a síntese do que sai no processo de entendimento para aperfeiçoar a prática, retroalimentada pela experiência de cada um e pela reflexão sobre as ações feitas.

Mais informações:

Moita Lopes, Luiz Paulo(org.). 2006. Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. Parábola:São Paulo.

Canagarajah, Suresh(org). Reclaiming the Local in Language Policy and Practice. Mahwah, New Jersey, EUA: Lawrence Erlbaum.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ninguém Entende Minhas Mímicas!!!

Por falar em jogos infantis, tinha outro que era muito apreciado quando eu era menor e causava grandes sensações nos dias chuvosos na praia: Imagem e Ação. Sempre que caia na maldita mímica, ninguém conseguia entender o que eu estava fazendo. Mas, em minha defesa, eram coisas difíceis e tinha que ficar estática, nada de gestos mil (assim ia ser fácil).

Da primeira vez foi um sapato e eu me embolei no chão como um tatu bola, utilizando os joelhos e a coxa para fazer o salto alto; abdomen e peitoral para planta do sapato. Lógica interna master. 

Da outra vez, caiu fogão. E a palhaça aqui, mais uma vez, foi se articular em forma de fogão. Assim: duas mãos no chão, paralelas; um pé esticado para o alto (fazendo aquela tampa de vidro) e o outro no chão, perna esticada no máximo. As costas formavam uma superficie reta que seria o local das bocas de gás.

Se o tempo não curou, nada cura imaginação fértil...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quebrando o Gelo!

Existiu uma vez, algum tempo atrás porque eu brinquei demais, um jogo de plástico com cubos brancos de gelo e um urso equilibrista. O objetivo era derrubar a maior quantidade de blocos de gelo sem deixar derrubar o urso. Hoje em dia eu acho que esse jogo estava preparando as crianças para quebrar o gelo naquelas situações um tanto constrangedoras ou intimidantes que fazem parte da vida. 

Ex-namorados (com fins tempestuosos, vai...) que se cruzam cotidianamente, por estudarem na mesma universidade, são exemplo clássico. Você cumprimenta, pergunta como vai a vida mas a conversa fica por aí. Ir adiante não parece mais fazer sentido, o que causa certo estranhamento porque, afinal, a pessoa conhece uma parte de você que talvez ninguém mais conheça. Mesmo assim, os dois continuam ali, um do lado do outro, meio sem assunto e sem achar uma forma de sair dali. O jeito é botar em prática todo o conhecimento adquirido, fazer malabarismos para iniciar uma conversa real e quebrar o gelo ou sair pela tangente e inventar uma justificativa para sair dali o mais rápido possível (tipo: Preciso passar no xerox).

Primeiro encontro é outro happening em que, se o discurso não é elaborado o suficiente para quebrar o gelo, um beijo encobre logo o silêncio bizarro que fica entre as duas pessoas que não se conhecem, mas estão dispostas a se conhecer melhor. Se beijos encobrem demais a jogada, talvez o apelo seja meramente sexual e aí incentivar e prosseguir é uma questão de escolha (Vale a pena?).  

E, bom, até hoje estou aprendendo a quebrar as pedras de gelo sem deixar o urso cair. Coisa difícil esse jogo de cintura...

domingo, 25 de outubro de 2009

Um Pouquinho de Silêncio Faz Bem

Alguns dias sem escrever, garganta inflamada, talvez seja tudo uma conspiração para o silêncio. Porque tem dias que a gente simplemente não pode falar mais nada, o silêncio se faz necessário e a atenção se volta exclusivamente para a participação nas atividades longe do computador, nas coisas que os outros têm a dizer (normalmente, mais legais do que as coisas que se passam na sua cabeça). Ao invés de ter algumas defesas erguidas, manter certo afastamento e não pretender entender o outro, as máscaras sociais caem e uma verdade é revelada. O sentimento pulsa, a generosidade e a solidariedade acolhem. Uma epifania que assusta e te desconstrói um pouco, para se reconstruir um pouco mais aberta, um pouco mais franca e sincera.  

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Confidências Jornalísticas

Estava fazendo um social acadêmico necessário e quando vi estava conversando de jornalismo. Ele era da Folha de São Paulo e começamos a falar das publicações, curiosidades. Por exemplo, já existe um caderno especial (e esse não é o primeiro a ser montado) sobre Oscar Niemeyer, para ser publicado na ocasião da sua morte. Tudo feito com base na lógica de que é melhor prevenir do que remediar. Surgiu o comentário de que os cadernos de 11 de setembro ou da morte de Michael Jackson  foram atividades relâmpago, daqueles que você sai correndo atrás de qualquer neguinho que possa escrever e tem um mínimo de credibilidade para ser publicado.

Apesar de parecer frieza escrever a homenagem pós-morte de qualquer pessoa antes mesmo do acontecido, para mim isso é ser calculista. Faz parte da profissão almejar a informação de qualidade, antecipar os fatos e estar sempre pronto para fornecer aos seus leitores o que é esperado de um veículo de comunicação do porte da Folha, do Estado ou do Globo. Na maioria das vezes são meio duvidosas as seleções das fontes e dos colaboradores, quando a coisa é tão em cima da hora: o critério vira o prazo e não o status/conhecimento/propriedade. A gente escreve para não perder o bonde da história e, bom!, depois corrige qualquer coisa errada. Importante é não deixar que outro dê coisas que você não tenha escrito por um problema de tempo. Dá uma de bocudo, mesmo!

Na Hora da Baliza, só o Flanelinha Salva!

Sabe aquela pessoa que pára na janela ao lado do motorista, esperando alguma contribuição financeira, depois que o carro já está parado? Se ela já tiver os macetes da rua, ela te ajuda a parar e fazer a baliza antes mesmo de ver: é mulher que tá dirigindo! O melhor de quando você começa a ouvir o "esterça para direita, outro lado, vem devagar" é que em algumas ocasiões rola até aquele alívio, como se aquelas dicas fossem imprescindíveis.  

Para o meu pai, engenheirão, fazer uma baliza é algo muito fácil, quase natural. Acho que ele está tão acostumado com as máquinas que não vê dificuldade nenhuma em manobrar aquele quadrado nada maleável. Já eu, ah!, como eu queria que as rodas andassem para lateral também! Juro que dou mil voltas no quarteirão antes de pensar em fazer uma baliza daquelas apertadinhas, sofridas. Haja direção hidraúlica e pescoço!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Como Tapear Passantes Desconhecidos

De vez em quando, acontece de um gentleman estar passeando pela praia e reparar em cenas duvidosas, levando-o a dar uma de super-homem. Romântico e válido, não fosse o ato uma pegadinha entre duas amigas.

Duas primas andavam pela areia, na beira da praia, quando deram com um rio. Atravessaram com água na cintura e, a mais prevenida, deixou um graveto marcando o caminho feito, para quando estivessem voltando. A mais brincalhona decidiu pregar uma peça na volta. Fingiu ter caído em algum buraco negro, profundo e mergulhou desastradamente na água. Conhecendo a figura, sabe-se que foi um impulso extremamente escadaloso.

O gentleman prontamente salta na água para salvá-la do possível afogamento, vestido com sua roupa e tênis de corrida. A prima prevenida, mais do que distraída, acompanha a cena como se estivesse ao longe. A outra levanta das águas e dá de cara com o protótipo de príncipe encantado, e cai na risada imediatamente. A gargalhada de ambas deixa o coitado envergonhado, sem graça. Qual não deve ser a frustação de cair do status de herói para vítima de troça geral... Acontece. 

domingo, 18 de outubro de 2009

Do Arco (e da Casa) da Véia!

A tríade dos Gipsy Kings não podia faltar nos domingos em famílila na casa da vovó. Acho que foi assim que eu fiquei com gosto duvidoso para música e, ao mesmo tempo, adquiri esse samba no pé, gingado maroto. Tenho tendências a ser a  pé de valsa que paga mico, preciso confessar. Tudo culpa das estripulias infantis no quintal, com tecidos e tentativas de danças ciganas.








Bateu aquela nostalgia dos encontros semanais, com avós, os 15 tios/tias e as 10 primas (forte presença feminina na família) todas, fora os 3 primos homens condenados a ficar de canto. Se minha bisavó estivesse viva, então, a gente sentava no cantinho da sala em que ela estava sempre tricotando, só para ouvir as histórias. Tinham as lembranças da infância dos nossos pais e as estórias do macaco Simão, o ladrão de bananas. Tinham as musiquinhas (Santa Luzia passou por aqui, com seu cavalinho comendo capim...) e as brincadeiras (tipo cunhê!). E, quando estava frio e chovendo, tinha o filme da princesa Sissi, que minha avó colocava para gente assistir e ficar quietinho.

sábado, 17 de outubro de 2009

C'est si bon! (Uma Viagem de Raciocínio Sobre a Pós-Modernidade)



"C'est si bon" é daquelas que marca o espírito de uma época, das noites de cabaré e da bohemia tipicamente francesa de início do século passado, quando Paris era a cidade das luzes, capital mundial da cultura e abrigo de intelectuais como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Monet. Lá se concentraram as grandes manifestações artísticas que chocaram a sociedade e motraram novos rumos, apontando a necessidade de se questionar os padrões estabelecidos e mostrando a importância de se experienciar a vida, as suas dimensões cotidianas e prazeirosas.  

Na chamada pós-modernidade, o espírito de viver a vida independente das moralidades reinantes, questionar os paradigmas e aproveitar todos os momentos da forma mais intensa (vita brevis!) parece estar engrandecido, tornando-se uma espécie de mote. Embora essa seja uma crítica e não um elogio dessa desmesura e desproporção com que são feitas certas coisas nos nossos tempos, minha intenção é, também, mostrar o outro lado, ver o copo meio cheio. Afinal, não adianta nada racionalizar a vida social e entrar em paranóia ou depressão existencial.

Entre o espírito questionador do início do século passado e a contemporaneidade, veio a década de 60 e a contracultura, que parecem ter radicalizado as propostas modernistas. Antes de abraçar o radicalismo, a exuberância e o desbunde atuais, parecia existir uma certa ingenuidade, um olhar para as pequenas coisas do cotidiano que era mais romancizado. A música acima  mostra, embora relate a vida de uma mulher (uma garota de programa) a procura de uma vida de riquezas materiais e prazeres, uma lista de coisas boas da existência que nada tem a ver com o resultado material, mas sim com os sentimentos ou sensações envolvidos na relação com o mundo e com os outros. Ela mostra a liberdade de transitar no mundo a procura de algo, o prazer de ver a esperança no olhar dos outros, de ser invejada por estar com alguém passeando à beira do Sena.

Na loucura anciosa de hoje em dia, parece que esquecemos da importância do toque, do estar junto e sonhar, trocar vivências, conversar, dessas coisas aparentemente cotidianas, mas totalmente despretenciosas. Será que conseguimos ou tiramos tempo para realmente aproveitar essas situações ou estamos correndo sempre à procura de algo mais, sempre insatisfeitos?


A lógica de viver o momento e espremer 500 vivências, emoções e êxtases em 24 horas parece levar-nos por caminhos obscuros de experimentações, micro-alegrias e epifanias cotidianas. Conhecendo seus limites e respeitando-se, é sempre proveitoso viver, dar a cara a tapa, descobrir alguma verdade vida afora. Deixar moralismos e moralidades de lado pode ser uma forma de nos permitir entrar em contato com  situações inusitadas e surpresas, novidades, dimensões da existência humana até então desconhecidas. Impulsos, instintos, decisões e desejos, tudo pode ser válido, depende de você e o que você pretende da sua vida, do seu processo de ser na Terra.

Talvez estejamos (ou deveríamos estar) caminhando para o meio termo, para a junção do ímpeto questionador e experenciador com a visão mais romancizada, ingênua desse processo. Mantendo, respeitando, aprendendo, aceitando nossos limites.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sobre os Nomes

Gosto de acreditar, embora seja uma crença teleológica e nada científica, que os nomes que nós recebemos acabam fazendo parte do que somos. Por isso, resolvi contar a história do nome deste blog. Primeiro dado importante: é baseada em fatos reais. Uma campainha (dessas de garganta), um dia, foi picada por uma abelha. Má sorte do caramba! E não é lenda urbana, garantido, porque aconteceu com uma tia minha.

Merece um parênteses: a pessoa é figuraça. Além do ferrão da maldita abelha, a sua campainha já recebeu a visita de um anel de latinha de cerveja, a  sua coluna já foi danificada pela queda de um camelo jovem, que não sabia ainda contornar dunas, e a sua mão levou mordida de um mico no zoológico.

Para manter esse espírito aventureiro, desprendido, despretencioso e até um pouco catastrófico da vida, nós que aqui estamos por vós esperamos. Mantendo a capacidade de rir dos nossos erros e acertos, criticar os outros e depois descriticá-los, ser altamente contraditória e plural. Porque, afinal, a vida é um processo e não uma corrida numa montanha russa ou uma volta no autódromo de Interlagos.

O Cúmulo da Incomunicabilidade!!

Acabei de descobrir qual é o cúmulo da incomunicabilidade: ter todas as forma de contatar alguém mas não decidir qual a melhor maneira e por isso ficar muda. E-mail é o tipo de coisa que demanda ou implica em resposta, mas nem sempre ela cabe. MSN é quase uma conversa e tem vezes que é melhor do que o face-a-face, embora eu seja do tipo que não troca conversa por telefone ou ao vivo por nenhum meio virtual (mas tem vezes que escapa, assumo!). Telefone, se for de casa, melhor pensar na possibilidade de outro alguém atender. Celular quase sempre tem bina e pode ser que você não seja atendida. Mensagem de texto é quase uma opção, mas para os verborrágicos o espaço é pouco e a mensagem sai toda cortada. Orkut e Facebook são piores, porque escancaram todo o conteúdo para quem quiser fuçar a sua vida. Ai ai, dúvida cruel!!

ps: Segundo post sobre incomunicabilidade da semana e eu estou mais bocuda do que nunca, na vida real. Nóia master? Sim, né...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Desmistificação Acadêmica da Intuição

A intuição foi negada pelos iluministas, positivistas e racionalistas em geral como parte constituinte do ser humano. Na era da auto-ajuda, ela se transformou em uma espécie de mantra do sexto-sentido, ligado ao místico e ao inexplicável das sensações humanas. Bem cartomancista e premonitório.

Guy Claxton, um educador inglês, propõe que as escolhas feitas no âmbito profissional sejam mediadas pela intuição, se a tomarmos como sendo a junção do processo racional de apreensão da realidade e conhecimento do mundo e do aspecto emotivo, afetivo e impulsivo da existência. 

Essa nova forma de intuição seria constituída por 6 fatores: 
  1.  Expertise: know-how, aprendido pelo estudo e pelas vivências profissionais de cada um; 
  2. Aprendizado: reconhecimento das variáveis envolvidas, por exemplo, na educação e no processo de ensino/aprendizagem e na formação do ser adulto (crítico, racional, emocional);
  3. Julgamento: escolhas e posicionamentos adotados, capacidade de julgar as ações e os fenômenos e agir em resposta;
  4. Sensibilidade: percepção aguçada das situações, das emoções, dos acontecimentos ao seu redor; 
  5. Criatividade e capacidade de resolução de problemas: processo de inovação, mudança e busca de soluções para as situações enfrentadas;
  6. Ruminação: reflexão sobre situações, vivências, dificuldades - associada aos sonhos, à imaginação - da qual extraímos o significado e o sentido das ações e suas implicações.
De qualquer forma, segundo Claxton, é preciso tomá-la como uma nova forma de conhecimento e, para isso, é necessário estar aberto às mudanças comportamentais implicadas nessa nova abordagem. As assepções e os comportamentos derivados desse novo método deveriam ser tomados como falíveis, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, dando a dimensão de que o conhecimento é uma construção, um processo e que é preciso errar para um dia estar certo, tropeçar para poder levantar.

Fiquei intrigada porque (talvez seja impressão minha) no mundo pós-moderno as ações profissionais estão cada vez mais limitadas pela racionalização do processo, pela maquinicidade da atividade e pela linhas de produção. Será que está nos faltando essa dimensão sensitiva, emocional, esse gut feeling da intuição? Ou somos todos pragmáticos em busca de certos resultados, conseguidos pela subserviência muda aos manuais?

Isso é, então, um convite à ousadia. Não a uma ousadia absolutamente impulsiva e irresponsável, mas àquela dimensão da experimentação em que existem ponderações e autolimitações e existe ainda o espaço do desejo, da vontade, do querer.


Referências:

Claxton, Guy. 2000. The anatomy of intuition. In: The Intuitive Practioner: On the value of not always knowing what one is doing. Buckingham: Open University Press. pp. 33-52.

Guy Claxton Website: http://www.guyclaxton.com/

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Esbanjando Amor e Gentileza ou o Encanto com o Vivido

Outro dia estive com um publicitário que tinha uma proposta de trabalho a fazer, mas queria discutir detalhes ao vivo. Era algo relacionado a alguma forma de trabalho jornalístico, no qual a viagem pelo nosso país seria um percurso de crescimento pessoal, experimentações e o produto dessas vivências compartilhadas seria uma revista, um guia turístico, um zine com cara de Brasil, de jovens, de mochileiros, aventureiros. Tudo é muito tentador, mas também extremamente discursivo. Por isso, em um primeiro momento, não consegui me posicionar radicalmente contra, mas agora, pensando melhor...

Eu não lido bem com falta de parâmetros ou paradigmas. Para tudo existe uma espécie de planejamento, um projeto, financiamento, estrutura. Nada precisa sair da forma como foi planejado, mas sonhar é tão importante e cogitar o que se quer e o que se propõe a fazer é essencial. Não existia nada disso, e era aí que estava a beleza do projeto, para ele.  Ser altamente livre era a intenção: na experiência, na elaboração do produto, abraçar o acaso e o destino e seguir em frente. Fiquei pensando se alguém consegue ser assim, de verdade, tão desprendido e se, no fim, essa pretensa liberdade toda não era uma limitação também, da mesma forma como ele colocava que as disposições e pré-requisitos da vida social eram imposições limitantes para o ser. Muito filosófico.

Mas ele começou a contar as experiências pessoais e tudo se encaixou um pouco mais: ele queria era reviver algo especial já vivido, compartilhar com alguém essas novidades todas que se descobre quando se têm contato com a realidade, a multiplicidade de discursos, as pessoas que cruzam sua vida e te fazem gentilezas sem pensar muito na necessidade de troca. Ele queria sair daqui para encontrar a vida no cotidiano das pessoas, na vida dos outros. Mas, mal sabe ele, que não é preciso sair explorando Brasil afora para viver tudo isso. Basta fazer as unhas, fechar um bar, fazer amizade com o garçom ou com pessoas que trabalham com você ou para você. Sair perguntando, questionando, conversando. Taxista sempre tem história boa, alguns até já tem blog e livros publicados. E, bom, ele também não precisa de companhia para realizar tudo o que quer. Muito menos de uma comunicóloga implicante e bocuda, que não tem perfil de quem saí por aí querendo beber a vida e descobrir mistérios e verdades. Para mim, isso tudo está na arte: no cinema, nas telas, nos livros e nas fotografias.  

Aiiiii! Abri o bocão e olha no que deu!

A situação é calamitosa, mas espera-se que para tudo haja um jeito nessa vida. Consertar discurso feito não é coisa pouca. É pior do que consertar máquina de fotografia de estação de trem em Paris no verão ou televisão em véspera de final de copa, Brasil e Argentina. Pior do que tentar construir uma máquina sem ser engenheiro; uma casa sem ser pedreiro. Porque a chance de se enrolar e as explicações e emendas saírem desastradamente mundo afora, sem sentido nenhum, é grande. Gigantesca. Sabe o esquema bola de neve? Começa um pingo e vira o mundo? Assim mesmo!

Sempre que tenho crises verborrágicas e saio falando sem pensar eu vejo a frase: "Abre a boca e fecha os olhos...". Um ensinamento nada sábio para se passar adiante para as crianças e que, fora do contexto original - dar de comer - parece ter seu sentido desvirtuado em função da descomunicação, desentendimento e desastre. Dá até para enxergar a voadeira que vem em resposta. É quase como o teste de batida de carro que as montadoras fazem com os bonequinhos de madeira: você vê tudo acontecer e não pode fazer nada para parar.

Às vezes o que sai é uma verdade inquestionável, uma evidência real, e nesses casos é pior porque a sinceridade foi tamanha que os olhos dos outros estalam e alguém ainda solta uma risadinha nada constrangida. E você se encolhe ao ver o espanto da pessoa a quem se dirige. Em outras ocasiões, o problema é exatamente o fato da notícia dada não fazer sentido nenhum a não ser para você mesma, na sua lógica mental interna. Fazer o quê??

Amigas quando comentam roupas, no fundo, só querem elogiar o bom gosto alheio. Mas, quando bate aquela TPMzinha ou um mal-humor causado pelo homem com quem está saindo, não tem como se segurar, a coisa brota e sai: "por que você não usa aquele sapato de salto com esse vestido? Ficaria bem melhor...". Desastre master (pode ser que seja exagero também, mas nessas horas é tudo meio novela mexicana, TPM mesmo). Rompimento de ir cada uma para um lado e fechar a cara até uma se redimir e falar algo. Para os teimosos e orgulhosos, falar é fácil, díficil é consertar depois.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Mundo Virtual é um Buraco Negro de Incomunicabilidade

Tem vezes que é compreensível alguém não responder os e-mails que chegam na sua caixa de entrada sem pedir licença. Aquelas correntes detestáveis, as piadas bizarras e os spams são verborragias desnecessárias que só atolam o espaço virtual destinado a coisas mais indispensáveis. Ou então as tentativas toscas de se fazer notar por outras pessoas: amigos carentes, desafetos revoltados, reprocuras. Paciência, nesses casos, tem limite e prazo de validade, a não ser que sejam mensagens provenientes de contextos de intimidade  em que se permite essa troca verborrágica.  

Hoje eu abri meu e-mail e ele tinha 100 mensagens desnecessárias e 2 importantes e, justo essas, estavam escritas de forma incomunicável, o que acontece também. Senti que o feriado foi feito para relaxar e desencanar de tentar entender. É melhor deixar que a conversa ao vivo flua de forma mais comunicativa.  A internet realmente facilita a vida, mas não supre todas as necessidades comunicativas... 

Por sinal, eu não poderia deixar de dizer que um dos 100 e-mails desnecessários era sobre frases lendárias dos pré-universitários em redação de vestibular. Li (não sei porquê) e achei triste a forma como a deseducação reinante no país se transforma em piada: as pessoas fazem graça da tentativa frustada dos alunos de usarem um código linguístico condizente com o que lhes é proposto, ou seja, formal e vernacular. Uma inadequação que só reforça a necessidade de se mudar as políticas públicas na educação: fornecer possibilidade e acesso à discursos os mais variados; criar consciência crítica para leituras, interpretações e usos da linguagem nas diferentes situações que fazem parte da vida pública de qualquer pessoa. Tudo a ver com a linguística, diga-se de passagem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Escreve, apaga, reescreve, deleta post!

A odisséia pelo tema perfeito, escrito de maneira mais estética, é sempre uma crise. Porque tem dias que só o silêncio faz sentido e a obrigatoriedade de escrever pesa nos ombros. O branco fica pasmo, ali, à espera da grande revelação da criação artística/jornalística. Os dedos passeiam vagarosos por cima das teclas, escrevendo as primeiras besteiras que vêm à cabeça. Besteiras essas que demoram milênios para vir à tona e são tão detestáveis quanto as notícias populares da imprensa marrom, os poemas espontâneos cliquês (que às vezes a gente acredita serem maravilhosos e avant-garde, mas convenhamos, no dia seguinte são piores que as músicas da Xuxa ou as pérolas do Paulo Coelho) e as crônicas ditas metafísicas a la Clarice Lispector que são mera reprodução de estilo alheio. 

Por isso, vou respeitar a minha falta de assuntos e de comunicabilidade para dizer que, de vez em quando, até uma bocuda master fica sem ter o que falar. Algumas  vezes, quando a autocrítica/ autocensura bate na porta (vide final do parágrafo acima), outras quando algo se revela indizível e curtir esse mistério parece ser o mais sensato.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fica Quietinho, que é Melhor.

Esse diálogo se deu na presença de testemunhas um tanto alcoolizadas, mas é fato real. As pessoas perderam a noção. Toda e qualquer noção. Vamos ao relato...Estava no Alley, na Barra Funda, tomando um gim tônica com duas amigas, noite de sábado. Chega um gringo de 20 e poucos anos e puxa conversa (a reprodução mantém só o conteúdo, não tem nenhuma pretensão de ser igual):

Gringo: Vocês aconselham alguma bebida?
Eu: Estamos tomando gim tônica, tá ótima. Mas você é de onde? (um loiro, perdido, com sotaque macarrônico só podia ser gringo).
Gringo: Sou francês.
Eu: E o que você faz em São Paulo?
Gringo: Eu me mudei para cá faz três meses. Estava na minha casa assistindo uns filmes pôrnos brasileiros e achei toda essa sexualidade o máximo. Fiquei me perguntando o que eu fazia na França se aqui eu podia aproveitar a vida e o sexo de forma mais legal. Vim. (só porque viu meia dúzia de porno-chanchadas estava achando que era chegar aqui que ele ia abalar, fiquei curiosa...).
Eu: E o seu plano deu certo?
Gringo: Ah, fiquei só com uma pessoa... (subentende-se que foi frustante e que o gringo está com aquela sensaçãozinha de que caiu no conto do vigário). 

E aí que o cara pegou uma cerveja e cada um foi para um canto, por razões óbvias. Eu estava rindo muito da cara dele e da história e o coitado só queria achar alguém disposto a distrair ele. Mas o que me chamou a atenção foi o fato do francês achar que o estereótipo de brasileira é válido e, partindo desse pressuposto, sair contando essa história para tentar achar alguém. Por que raios daria certo sair falando coisas assim de cara? Cadê todo o jogo da sedução? As pessoas realmente perderam a noção. Mas, pelo menos, as experiências tentadas não foram tão frutíferas quanto ele imaginava.

Outra coisa a se considerar é que, no fim, toda brasileira continua sendo bunda, peito e nudez. E isso está relacionado ao discurso construído no exterior sobre o que é a brasilidade, a cultura do nosso país. Enfim, o que os nossos discursos, imagens, reportagens, filmes, quadros, livros informam ao mundo sobre a nossa realidade, o nosso cotidiano.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Poesias Cotidianas ou Suspiros...

É invejável, para quem mantém a rotina cinza paulistana, acordar um dia e ver que seus olhos parecem mais atentos às pequenas coisas da vida, como por exemplo o som da chaleira de água fervendo no café da manhã, as flores no terraço ou as andorinhas, beija-flores e outros pássaros cantando no jardim. Parece doença de um dia e depois passa; ficam os suspiros de saudade.

Algumas pessoas colocam-se mais abertas para receber esses minimalismos, mantendo sempre viva e ativa a sua percepção para com a dimensão cotidiana e prosaica da existência.Uma dessas pessoas é Manuel Bandeira e eu diria que é por isso que seus poemas tocam tantas pessoas distintas, nos mais diversos aspectos. Quem nunca sentiu aquele amor infantil por um bicho de estimação? Um porquinho da índia qualquer que estava ali todos os dias, não se deixando acarinhar, escondido debaixo do fogão. Quem nunca teve um(a) primeiro(a) namorado(a)-porquinho(a) da índia? Um desses amores adolescentes em que não se sabe muito bem definir o sentimento, mas é algo tão prosaico e cotidiano quanto a relação com um animal de estimação.

Amor mesmo, segundo ele, seria a fusão do carnal e do espiritual. Uma comunhão entre prazer e compreensão; desbunde e silêncio. Seria uma comunicação elaborada cotidianamente entre razão, sentimentos e desejos de dois seres humanos predispostos a sentirem e a se deixar levar pelos discursos, atenções e carinhos. Algo elaborado entre cactos, ruas, bichos de estimação e reminescências de infância.

O que raios é Linguística Aplicada???

É muito comum as pessoas ficarem me olhando com cara de ué quando eu digo que faço mestrado em linguística aplicada ou quando eu tento explicar o que é que eu faço da vida. Algumas vezes eu faço piada e sigo em frente, outras eu tento explicar e me enrolo toda porque está estampado na cara do outro que não necessariamente ele quer saber ou acompanhar o raciocínio.

Mas vou tentar mais uma vez: Linguística Aplicada é uma ciência, uma área do conhecimento voltada para questões de usos da língua, educação. Todas as pesquisas desenvolvidas na área tem como ponto de partida um problema social (como o discurso constrói a realidade? como as pessoas se comunicam? como ensinar línguas, seja português ou qualquer língua estrangeira?) e a pretensão de chegar em alguma proposta para resolução desse problema.

Por ser transdisciplinar e dialogar com áreas como Filosofia, Antropologia e Sociologia, as pesquisas levam em consideração aspectos culturais e diferenças sociais relacionadas ao uso da linguagem nos seus contextos. O contexto seria, então, o espaço em que certas práticas sociais são realizadas. Está diretamente relacionado às variáveis: quem participa da interação, quem produz,  a quem a comunicação é direcionada, como á mensagem é organizada para estabelecer a comunicação de forma eficaz e quais significados estão sendo compartilhados.

Será que deu para criar um quadro geral?

sábado, 3 de outubro de 2009

Será que Conversa de Manicure pode voltar a ser Fiada?

O sol de sábado me gritou para eu fazer minhas unhas, afinal, tem festa de aniversário hoje à noite. Uma pequena digressão: acho que agora ele se recolheu à sua insignificância, o que é quase ultrajante para quem já tinha roupa arquitetada para uma noite de calor...

Fui até o cabeleireiro com o humor de quem acabou de acordar e resolveu se embelezar, relaxar um pouco e ler revista de fofoca para passar o tempo e esvaziar a cabeça. Coisas femininas leves, que não envolvem um secador estonteantemente grave e maquinal nos seus ouvidos, pinças arranhando a sua pele ou o calor da cera de mel se espalhando pelas suas pernas.

Enquanto fazia o pé com a manicure que eu conhecia, joguei um pouco de conversa fora, falei do tempo, da novela e dos atores globais. Básico. Mas, chegou uma outra manicure para fazer minha mão. E começou a contar a história da vida dela: ela ficou viúva ano passado e, faz um mês, reencontrou um namorado de quando tinha 15 anos e começou a ficar com ele. Grifo no Ficar! Depois de um mês o cara já estava ligando atrás dela todas as noites, dando uma de staulker total e fazendo a coitada sofrer. Até proposta de vender os carros e comprar um apartamento para morarem juntos o cara já fez. Para ela, estava na hora de acabar. Dar um fim antes que ficasse pior. Ela só queria, mesmo, era curtir a vida. E, segundo ela, tinha deixado isso claríssimo para o tal do homem... Mas, será que ele tinha entendido mesmo tudo que ela queria dizer e estava dizendo? Será que ele queria entender?

Talvez o cara esteja em denial ou será que aquilo era fruto de um se fazer de sonso, bizarramente construído. Por outro lado, será que existe uma forma explícita de se dizer o que se quer do outro sem magoá-lo, quando a situação envolve intenções diferentes?

Com tanta coisa a se pensar, eu  fiquei tonta e voltei a falar do tempo, da novela e dos atores globais... Eu só queria ter uma conversinha fiada de sábado de manhã, não viajar em filosofias de vida.

Rio 2016: O começo da Epopéia

Uma amiga definiu bem: "Esse trauma de ex-colônia é eterno. O Brasil é uma dondoca new rich comprando uma bolsa Gucci em parcelas até 2016...". É só o começo de 7 anos de reformas, desvios de dinheiro público, editais e investimentos desproporcionais em infraestrutura material. E cadê os investimentos naqueles direitos básicos de qualquer cidadão brasileiro? Aqueles da primeira emenda da constituição, que determina que o Estado deve garantir a dignidade humana? Entende-se, por dignidade, o acesso à terra, educação, saúde, trabalho.

Só espero que seja o tipo de investimento que compensa, ou seja, o retorno econômico- financeiro ao menos têm de incluir juros e correção, as reformas têm de trazer algum benefício à população e as novas construções não podem virar elefantes brancos no meio da mata atlântica. Porque, vamos combinar, para quê bancar uma bolsa Gucci se a dor de cabeça para pagar a conta do cartão de crédito é pior do que o prazer de poder usá-la no dia-a-dia? 
 
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